O que está por trás do aumento de cirurgias plásticas em adolescentes?

Número revelado em pesquisa serve de alerta para responsabilidade das redes sociais na criação de padrões de beleza

Por Sofia Duarte Atualizado em 29 out 2024, 18h41 - Publicado em 25 Maio 2023, 11h45

Você sabia que o Brasil é líder em número de realizações de cirurgias plásticas no mundo? Pois é, e os números são alarmantes! De acordo com dados levantados por pesquisa da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica (ISAPS), em 2018 foram registrados mais de 1,4 milhões de cirurgias plásticas estéticas no país, sem contar os mais de 969 mil procedimentos estéticos não-cirúrgicos – os Estados Unidos aparecem em primeiro lugar nestes casos. Mas o que significam esses resultados? E como e por que eles afetam o público jovem?

No Brasil, o procedimento estético cirúrgico mais feito, segundo essa pesquisa divulgada em 2019, é a lipoaspiração, que representa 15,5% do total e pode ser feita em diferentes partes do corpo, como abdômen, braços e pernas. Em segundo e terceiro lugar, aparecem as cirurgias de implante de silicone e abdominoplastia, respectivamente. Quanto às intervenções não-cirúrgicas, os queridinhos dos brasileiros são a aplicação de toxina botulínica, de ácido hialurônico e o peeling químico, que costumam ser indicados para amenizar rugas e linhas de expressão, entre outras funções.

Segundo o estudo, desenvolvido em parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), houve um aumento de 141% no número de cirurgias plásticas feitas em adolescentes entre 13 e 18 anos, sendo que esse dado inclui também cirurgias reparadoras, ou seja, não somente feitas por uma motivação unicamente estética. Considerando essa faixa etária, em primeiro lugar aparece a aplicação de toxina botulínica (popularmente conhecida como botox) e, em seguida, rinoplastia e implante de silicone. Ao fazer uma análise por gênero, a cirurgia mais realizada em mulheres é a de implante de silicone; em homens, a de ginecomastia, que reduz o excedente de mama.

Em entrevista à CAPRICHO, especialistas avaliam o motivo por trás desse cenário preocupante. “A adolescência é caracterizada por diversas mudanças ao longo de seu desenvolvimento, tanto nos aspectos biológicos quanto psicossociais. E, com as redes sociais tão presente na sociedade, isso faz com que algumas insatisfações com a sua própria imagem sejam potencializadas, pois o que vemos nas mídias é vendido como uma vida perfeita, um corpo perfeito e, assim, se estabelece uma idealização de padrão de vida e de beleza“, afirma Monica Machado, psicóloga pós-graduada em saúde mental e fundadora da Clínica Ame.C. “Ainda, se encaixar nesse padrão significa também ser aceito dentro dos grupos. Por consequência, os jovens recorrem a cirurgias para alcançar esse tão sonhado ‘padrão’ a fim de solucionar os ‘problemas’ que foram encontrados em si mesmo, buscando mudanças e encaixes corporais e sociais por um padrão irreal”, completa.

O cirurgião plástico membro da SBCP Dr. Luís Maatz relata que houve um aumento geral do número de cirurgias plásticas. “Houve também um aumento do acesso a informações a respeito de procedimentos em adolescentes, desmistificando o tema e mostrando que algumas cirurgias podem ajudar em questões funcionais e psicológicas. Ao mesmo tempo, o aumento da exposição das pessoas nas redes sociais colaborou para que fossem criados ‘padrões de beleza’, muitas vezes falsos ou exagerados, surgindo uma busca na melhoria do corpo por meio da cirurgia plástica, frequentemente inalcançável.”

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Ilustração em gif de celular com rosto
Cirurgias plásticas em adolescentes Ilustração: João Barreto/CAPRICHO

O médico relembra casos que atendeu e explica qual deve ser a postura do profissional diante deles. “A grande maioria buscava cirurgias comuns e frequentemente realizadas em adolescentes: otoplastia (correção de orelhas de abano), correção de ginecomastia (devido ao aumento do tecido mamário em meninos), retiradas de pintas, correções de assimetrias mamárias ou redução das mamas nos casos de gigantomastias. Todos com benefícios estéticos ou funcionais, melhorando a autoestima e otimizando os relacionamentos interpessoais. O cirurgião plástico deve analisar cada caso individualmente para poder, com bom senso, ajudar o jovem que sofre devido à alguma alteração física passível de melhora.”

A psicóloga Monica Machado novamente reforça a influência das redes sociais nesse comportamento dos jovens e conta caminhos possíveis para trabalhar insatisfações com o próprio corpo durante as sessões de terapia. “Fazemos uma análise: o que fez com que essa pessoa desenvolvesse insatisfação com o próprio corpo? Quais as motivações? Poderia ser a internet, a família, ou é algo que realmente dificulta o seguimento da vida daquele indivíduo? Analisando os motivos, conseguimos ajudar a retomar a consciência dele sobre os aspectos que estão o influenciando e o motivando a fazer aquela decisão.”

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Por fim, ela ressalta que uma cirurgia vem com riscos à saúde e que um procedimento meramente estético pode gerar uma felicidade apenas momentânea. “Precisamos alertar e conscientizar os jovens que é de extrema importância ponderar e ter um senso mais crítico voltado para as redes socias, pois nem tudo o que se vê de fato é real. Além disso, essa internalização de um padrão inalcançável tem um impacto gigantesco na saúde mental do sujeito, mudando totalmente sua percepção de si mesmo, até mesmo de se submeterem a medidas como a cirurgia, que podem implicar riscos sérios à sua própria integridade física.”

Se você é jovem e pensa em fazer uma cirurgia estética, indicamos que busque um acompanhamento psicológico antes de tomar qualquer decisão para entender quais são, de fato, suas motivações, e se elas foram potencializadas ou não pelas redes sociais e pelo padrão de beleza irreal imposto pela sociedade. Combinado?

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