A dor e a alegria de ser negro

Nossa colunista Ana Carol Pinheiro comenta sobre a morte de Ágatha Félix e a vitória de Jharrel Jerome, de "Olhos que Condenam", no Emmy.

Por Ana Carolina Pinheiro Atualizado em 31 out 2024, 01h22 - Publicado em 29 set 2019, 10h00

Em setembro, Ágatha só teve uma aula de ballet no mês, já que sua escola de dança estava na rota de tiroteios, no Complexo do Alemão, comunidade carioca onde morava. Provavelmente, você deve ter visto como a história dela foi interrompida, né? Com 8 anos, ela levou um tiro nas costas de um policial militar quando estava dentro de uma Kombi perto de casa.

Um dia depois, em Los Angeles, na Califórnia, o jovem ator de 21 anos, Jharrel Jerome, subiu ao palco do Emmy Awards para ganhar o prêmio de Melhor Ator em Minissérie. “Rezei para que o título fosse concretizado e que realmente víssemos esses homens por quem eles são”, desabafou o intérprete de Korey Wise, em Olhos que Condenam. Para quem não sabe, a série, de Ava DuVernay, contou a história baseada em fatos reais de cinco meninos negros que foram condenados por “engano”, em 1989, nos EUA.

Tanto Ágatha quanto Jharrel são pessoas negras. Mas você deve estar se perguntado o que isso tem a ver, certo? Bom, uma vez assisti a um episódio de Todo Mundo Odeia o Cris em que o Julius falava que sempre torcia para pessoas negras, inclusive as desconhecidas. Lembro que, quando ouvi isso, percebi que fazia a mesma coisa. Depois, conversando com outros negros, entendi que isso também acontecia com eles. Ou seja, nós sentimos as coisas por um ponto em comum: a nossa etnia.

 

Não tenho uma explicação exata ou baseada em um estudo para isso, mas com certeza tem a ver com aquela ideia de “nas dificuldades, a gente se une”. Até porque, só a gente sabe e sente, há séculos, o que é ter a vida dos seus banalizada. O que explica o valor que damos para cada conquista também. Por isso, entendi porquê no mesmo final de semana, sorri e chorei por duas pessoas que nunca vi e nem conheci pessoalmente.

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Depois de sentir um vazio, como se tivesse perdido alguém da família, e transbordar de felicidade, como se fosse a conquista de um amigo próximo, pensei nas coisas que ligam Ágatha e Jharrel. Oportunidade foi a resposta. Com mais oportunidade de ter segurança, por exemplo, a menina poderia crescer e realizar os seus sonhos, igual ao Jharrel, que foi o vencedor mais jovem desta edição e o primeiro afro-latino premiado na categoria.

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Além da Ágatha, Jenifer Gomes, Kauê dos Santos, Kauã Rozário, Kauan Peixoto foram outras crianças que tiveram a infância interrompida por conta de tiros disparados pela polícia nas comunidades do Rio de Janeiro neste ano.

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Ouvi o defensor de direitos humanos e fundador do coletivo “Papo Reto”, Raul Santiago, falar que um tiro tem o poder de silenciar várias coisas legais que acontecem na favela. Por isso, queria sugerir o perfil @vozdacomunidade, jornal que conta tudo o que está rolando, de bom e real, nas comunidades do Rio de Janeiro. E ainda dá para saber de que forma você consegue ajudar as pessoas que vivem ali.

Quando acontecem essas coisas, o sentimento de impotência nos controla, né? Mas escutar, entender e compartilhar outras realidades são atitudes simples, que podem fazer diferença para o coletivo.

Quer sugerir uma pauta, tirar dúvidas ou contar a história de algum projeto voltado ou feito por pessoas periféricas? É só mandar uma mensagem pelo direct no Instagram ou enviar um e-mail para anacarolipa16@gmail.com.

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Beijos,
@anacarolipa

 

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