A relação entre descoberta da sexualidade e prevenção do suicídio

Leis que proíbem temas sobre sexualidade em salas de aula estão vigorando em cada vez mais escolas. Mas isso é proteger os jovens ou deixá-los perdidos?

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 21h02 - Publicado em 14 dez 2017, 13h00

Orientação sexual e questões de gênero são discussões que estão cada vez mais presentes na vida dos jovens. Contudo, aparentemente, algumas pessoas ainda acham que proibir debates do tipo é a “solução” para um problema que nem é problema. Você sabia que há leis municipais que vetam que temas como sexualidade sejam discutidos em salas de aula? E cada dia mais estudantes, principalmente adolescentes, são afetados. Até o momento, estima-se que mais de 250 mil alunos brasileiros tenham recebidos esse veto, quando entender e aceitar sua sexualidade está diretamente ligado à saúde mental. Quanto mais a gente se conhece, mais tranquilas ficamos com nós mesmas. Mas como ter certeza quando se é adolescente e se aprende que tais assuntos são “errados”?

Quem eu sou? Será que sou lésbica ou hétero? Cogitar ficar com uma garota me torna homossexual? As dúvidas são muitas e o psicólogo Azuil Vasconcellos, pós-graduado em Sexualidade e Neurociência, promete esclarecê-las de um jeito bastante direto.

Sexualidade não está só ligada ao ato sexual em si, mas em como você se enxerga. Estamos falando sobre identidade de gênero! “É como você se identifica com o sexo com o qual nasceu. Se você nasceu mulher e se sente mulher, independentemente de ser heterossexual ou lésbica, sua identidade de gênero concorda com o gênero biológico do nascimento“, explica Azuil. Tudo isso é diferente de orientação sexual, que é como você se sente com relação aos outros, seus gostos, desejos e vontades.

Mas agora que você já sabe as definições, como chegar a uma conclusão sobre você mesma? A adolescência é uma fase de descobertas e o psicólogo garante que muitas questões e inseguranças só surgem porque a sociedade ainda dita certos padrões de comportamento. “Para identificar sua própria orientação afetivo-sexual, basta prestar atenção nos seus próprios desejos, que não têm nada a ver com comportamentos socialmente construídos”, afirma.

O que Azuil quer dizer é que muita gente acha que questões sobre identidade e orientação não passam de “modinhas”, e isso é errado. “Existem valores familiares e religiosos que conduzem sua maneira de pensar para situações, comportamentos, rituais e eventos naturalmente heterossexuais, e você vai acreditando nisso e deixando as coisas fluírem sem perceber. É necessário olhar para dentro de si e assumir o que realmente quer. Assumir não é declarar para os outros, mas admitir para si mesma“, esclarece o psicólogo.

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Então, depois de se entender consigo mesma (ou seja, se assumir), vem outra parte delicada: assumir para os outros. O especialista diz que não há um modelo para isso e que o ideal seria que todos os pais conseguissem conquistar a confiança dos filhos desde cedo e se livrar de preconceitos para entender o outro. Infelizmente, nem sempre é isso o que acontece. “Os valores pessoais são construídos desde que as pessoas são pequenas, por meio da criação que tiveram, da época em que viveram, do nível de escolaridade que têm, da religião que professam”, afirma Azuil.

Descobrir a sexualidade na adolescência e não enxergá-la como um tabu é importantíssimo para que a pessoa fique bem consigo mesma. A taxa de suicídio entre jovens subiu 10% nos últimos anos, e muitas pessoas que não entendem e aceitam quem são entram em depressão e acabam enxergando a morte como única saída. “Devemos mostrar à adolescente que, seja qual for seu desejo sexual e afeto, ela não precisa abrir mão de quem é. Devemos tranquilizar a garota quanto ao seu pertencimento ao grupo de meninas e meninos, e esclarecer que é importante ser honesto consigo mesma e com os outros”.

E qual é a coisa mais importante na fase da descoberta da sexualidade? Azuil Vasconcellos opina: “as escolas precisam parar de tratar sexualidade como se fosse um processo exclusivo para fazer bebês. Se os profissionais entenderem que ninguém faz sexo apenas para ter filho, mas também para satisfazer um desejo, fica mais fácil aceitar um monte de coisas e acabar com aquela ideia preconceituosa de que homossexualidade é errado porque não procria. O psicólogo ainda complementa: “na adolescência, a excitação sexual se torna algo presente. Partes do corpo, que antes eram só para fins fisiológicos, passam a ser objetos de desejo. O que fazer com tudo isso? Como lidar com essas vontades? Essas são as questões que deveriam ser discutidas”.

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O especialista em sexualidade ainda faz um adendo e diz que cada pessoa tem o seu tempo e a sua forma de demonstrar quem é e o que quer. “Se você está beijando alguém que não te atrai de alguma forma, de que vale isso? É necessário equilíbrio”, dá a dica. É muito importante que você não só entenda quem é, mas aceite o que sente, seus gostos e suas vontades, independente do que a sociedade diz que é certo e errado. Afinal, a sociedade é muuuito gente e você não é todo mundo. 😉

 

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