Culpar a vítima pelo estupro é como culpar a garota assaltada pelo assalto
Não gostamos de ser insistentes, mas às vezes é preciso.
As notícias das últimas semanas parecem ter dividido novamente as pessoas e, principalmente, nós, garotas. Muitas informações diferentes, opiniões conflitantes, acusações, investigações, manifestações. O caso de estupro coletivo que aconteceu no Rio de Janeiro deu o que falar!
De início, a comoção e o choque foram gerais. Todas ao lado da vítima. Com os novos dados que foram surgindo, muitas pessoas mudaram de lado ou simplesmente falaram aquilo que sempre quiseram falar. Esses foram alguns comentários que pudemos ler na internet depois que a vítima foi entrevistada pelo Fantástico, no último dia 30, e após a divulgação do laudo do exame de corpo delito, que não detectou sinais de violência. De acordo com o chefe da Polícia Civil, isso pode ter acontecido porque a jovem demorou muito tempo para procurar ajuda.
Quando culpamos a vítima, por mais que as circunstâncias não estejam a favor dela ou que o histórico de vida dela não se enquadre dentro do que você julga correto, contribuímos negativamente com a cultura do estupro. Abuso sexual é crime, tenha ele sido cometido pelo namorado, marido, pai, tio, irmão, avô, desconhecido, chefe, na rua, no baile funk ou na cama de casa. Quando estimulamos a cultura do estupro, incentivamos discursos machistas que fazem tão mal para nós mesmas.
Mas vamos fazer um rápido exercício. Leias as comparações abaixo, que foram feitas por Felippe Canale, jornalista e editor na empresa Eaí?¿, em sua conta pessoal do Facebook.
Agora responda: você realmente não acha as comparações acima estranhas? Você não se sente minimimente incomodada com esses “dois pesos, duas medidas”? Sempre achamos que não vai acontecer com a gente. Você nunca acha que vai ser assaltada, pois toma cuidado, não vacila nem dá bobeira. Até o dia em que é assaltada e se pergunta como aquilo foi acontecer justamente com você. Você nunca pensa que vai ser estuprada…
Culpar uma vítima de estupro pelo estupro é quase como culpar uma pessoa que acabou de ser assaltada pelo assalto. “Mereceu! Onde já se viu usar celular!? Deu mole. Pediu. Olha o tamanho desse celular!? Não venha se fazer de vítima agora”. Bizarro, né? Agora, substitua cada uma das palavras “celular” por “saia”. Se a acusação deixar de ser bizarra e passar a fazer algum sentido, é sinal de que, epa!, alguma coisa está errada. Mas a boa notícia é que sempre é tempo de mudar.
Por isso, não culpe as Beatrizes, as Marias, as Biancas, as Ambers. Não culpe uma pessoa que teve o seu corpo violado. É uma crueldade com bebês, com crianças, com adolescentes, com adultos, com idosas. É algo tão absurdo, surreal, doentio e criminoso que culpar a vítima e tentar justificar essa culpa é tão absurdo, surreal, doentio e criminoso quanto. Dizem que ninguém consegue sentir a dor que uma pessoa que foi abusada sexualmente sente. Mas a verdade é que essa é uma dor que ninguém no mundo deveria sentir. Não diminua a dor das mulheres. A culpa nunca é da vítima.