Da TV ao streaming, nossa galera transformou o jeito de assistir novelas
De comentar no sofá a maratonar no celular, a nova geração reinventou o jeito de acompanhar tramas tradicionais (que também precisaram se adaptar).
ntre suposições de que os streamings estavam levando ao fim das novelas, uma coisa é fato: nossa galera abraçou com tudo este produto tão característico da cultura brasileira. Boa parte da responsabilidade desse feito é da novela Garota do Momento, que terminou no semestre passado na TV Globo e cujo elenco até foi capa aqui da CAPRICHO, lembra?
Ambientada na década de 50, a novela das seis conseguiu conquistar o coração da nossa galera, acostumada a interagir e a consumir conteúdo pelo celular e outros aparelhos eletrônicos, que passou a acompanhar diariamente os episódios. E não só ela: o remake de Vale Tudo, também na TV Globo, e Beleza Fatal, novela da HBO Max, mostram que a conexão com esse produto televisivo veio para ficar, mesmo que adaptadas.
O segredo para esse sucesso parece ser simples: essas produções conseguiram se atualizar com quem nasceu entre 1997 e 2010. É o que explica Maria Immacolata Vassallo de Lopes, coordenadora e professora titular do Centro de Estudos de Telenovela (CETVN/ECA-USP), que vê na identificação entre o público e o enredo a chave para a conexão com essa geração.
“É uma geração que vive com situações envolvendo a comunidade LGBTQIAP+, questões raciais, de gênero e outros preconceitos. É natural que eles se conectem ao se verem na tela e que vão cobrar inovações”, explica a professora à CAPRICHO.
A professora indica a presença de mulheres por trás das câmeras e o aumento do protagonismo negro como avanços necessários, e perpetuam a conexão com o público. É a identificação a característica que consegue unir o gosto geracional pelas novelas e instiga nossa galera a continuar acompanhando as produções. É claro que se identificar com o que assiste não é um ponto exclusivo dessa geração ou das novelas — é provavelmente o que guia gostos e o sentimento de fã por toda parte — mas esse sentimento ainda assim consegue unir uma nova geração a um produto tradicional.
Costume geracional
A televisão chegou no Brasil em 1950 e, um ano depois, a novela estreou em território brasileiro justamente com essa proposta de ser o reflexo da sociedade em que cada indivíduo possa se identificar. Nestes 74 anos de produção televisiva nacional, o produto já se tornou parte essencial da nossa cultura e característica destaque para o mundo.
Mais do que isso, criou uma rotina familiar nos lares brasileiros que se reinventa nos dias de hoje, muitas vezes instigadas pelos próprios filhos e netos da Geração Z, que, como afirma Maria Immacolata, “cresceram se reunindo para assistir junto aos pais as novelas”. Esse momento, para ela, não é só importante pela união familiar, mas também pela “conversa e troca de perspectiva sobre o que estão vendo”.
Karina Souza, membro da Galera CAPRICHO, faz questão de priorizar o momento de assistir na televisão porque “ver novela no streaming tira a graça da novela, me tira a vontade de ver”. Ela explica que muito desse sentimento parte da familiaridade e o conforto que as novelas proporcionam após anos acompanhando as tramas com a família. O carinho e o gosto para as novelas, segundo ela, é fruto desse comportamento rotineiro há anos e do próprio interesse pelas histórias.
“Lembro de ir na casa de uma tia e ficar vendo novela junto com ela ou até mesmo em casa com a minha mãe, era algo comum quando pequena e acredito que isso criou uma base. Por isso acredito que somos influenciados pela nossa família, mas também por nosso cotidiano”.
Esse costume familiar de não só de se reunir na frente da televisão, mas também o de comentar as reviravoltas da novela, aproveitando o sentimento do capítulo ser “inédito”, também é o que faz jovens como Cassi Porto, também da Galera CH, defenderem e priorizarem os capítulos ao vivo.”Amo comentar as coisas durante a novela, é uma coisa tão engraçada, ficar falando o que gostou em tal episódio, reclamar com a TV ou dizer o que o personagem devia ter feito, mesmo sabendo que ele não vai escutar”, brinca.
Na casa da Lavínia Azanã, da Galera CH, que está acompanhando a novela Guerreiros do Sol no momento, as novelas também são as responsáveis por atrair a família dela para um momento especial juntos. “Minha vontade de assistir novelas veio muito do desejo de criar um momento familiar, em que todas lá em casa param o seu dia para se juntar em frente a TV, para rir, se emocionar e, acima de tudo, aproveitar esse momento em união”, aponta.
Streaming x televisão?
A pesquisa Hábitos de Consumo e Desejo da Geração Z, realizada pela Forma Turismo e divulgada pelo portal Meio e Mensagem, com 9.386 estudantes brasileiros de 15 a 18 anos, aponta que 73,98% dos entrevistados consome entretenimento e informação pelo streaming. Em comparação, o YouTube fica em segundo lugar com 19,05% e a Tv fechada em terceiro, 2,83%.
A prevalência dessa geração por conteúdos no streaming não é uma novidade e costuma ser o argumento utilizado em conversas sobre “o fim da televisão”. Entre os jovens da Galera CH, nosso grupo de leitores-colaboradores, é possível perceber que o streaming está mesmo presente entre eles, não em exclusão à televisão, mas sim como uma alternativa facilitadora para o novo consumo de novelas.
A própria coordenadora e pesquisadora de novelas conta à CH que entende a preferência pelos streamings, já que “os celulares possibilitam que tudo esteja na palma da mão”.
É por meio destas plataformas que essa geração, tão inserida na internet e acostumada a consumir um tipo de conteúdo compartilhado nas redes, consegue encontrar um jeito para aderir o horário da novela em sua rotina, mesmo que adaptado pelas plataformas de streaming.
Giovanna Feliponi, membro da Galera CH, conta que embora tente estar presente em casa para conferir a novela ao vivo, nem sempre isso é possível e que, nesses casos, o streaming é uma opção mais fácil e simples já que “os episódios já estão disponíveis lá — se eu perder algum, consigo reassistir”.
Ela também explica que a rotina de ‘noveleira’ é bem dinâmica e depende dos afazeres que ela tem no dia. “Assisto mais sozinha, gosto de sentar no sofá e realmente prestar atenção. Mas também, quando tenho que fazer alguma coisa, tipo preparar comida ou algo assim, coloco na TV e vou assistindo enquanto faço as coisas”.
Nessas plataformas, nossa galera está tendo, ao mesmo tempo, contato pela primeira vez com novelas antigas que marcaram gerações, e se encantando com produções atuais que dialogam com suas vivências.
“O streaming possibilita que essa geração se interesse por novelas da década de 80 enquanto assistem outras atuais ambientadas em 1950. Eles são plurais, gostam de muitas coisas e tem a possibilidade de gostar de tudo”.
E você, também costuma acompanhar novelas?
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