Google Assistente: comando de voz feminino sofre 2x mais agressões verbais

Levantamento do Google mostra que a voz "feminina" do software recebe o dobro de comentários sobre aparência física que a "masculina"

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 16h01 - Publicado em 4 Maio 2022, 11h38

Nesta terça-feira (03), o Google anunciou sua mais nova iniciativa na luta contra o assédio e a violência de gênero, que foi implementada ao comando de voz Google Assistente. Inspirada pelo relatório I’d Blush if I Could, publicado em 2019 e produzido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), ela já está disponível em 38 idiomas e chega ao Brasil com o nome de #NãoFaleAssimComigo.

Imagem de divulgação de campanha anti-assédio do Google mostra a ilustração de uma mulher com o punho levantado
Google/Divulgação

Os brasileiros estão em 3º lugar no ranking mundial de maiores usuários do software e cerca de 2% das interações utilizam termos abusivos ou inapropriados. Um a cada seis insultos são direcionados às mulheres, seja por expressões de misoginia ou de assédio sexual. Por causa disso, o Google decidiu agir.

Uma análise foi feita para entender quais frases são mais faladas para o comando de voz, que está disponível em duas versões: a voz laranja, que possuio um tom “masculino” e a vermelha, que possui um tom “feminino”. Durante os estudos, percebeu-se que a voz vermelha recebia 2x mais agressões verbais que a laranja, evidenciando o machismo estrutural que permeia nossa sociedade.

“Sua cachorra”, “sua puta” e “manda nudes” foram algumas das expressões mapeadas com mais frequência, que também escancaram o recorte de gênero por trás da questão. Outras mensagens não são explicitamente ofensivas, mas representam condutas que seriam consideradas inapropriadas no mundo real.

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Exemplos de frases que o comando de voz feminino do Google Assistente escuta, como
Alguns exemplos de frases que o comando de voz “feminino” do Google Assistente mais escuta Google/Reprodução

Levando em conta esses dois cenários, o Google vai agir de duas diferentes formas: impondo limites e dando “foras” bem-humorados. “Em caso de ofensa explícita – como uso de palavrões, ou expressões de conteúdo misógino, homofóbico, racista ou de sexo explícito -, a voz do Google poderá responder de forma instrutiva, usando frases como: ‘O respeito é fundamental em todas as relações, inclusive na nossa’; ou mesmo repelir esse tipo de comportamento, respondendo: ‘Não fale assim comigo'”, explica a companhia.

 

Maia Mau, Head de Marketing do Google Assistente para a América Latina, explica a importância da iniciatiava: “Entendemos que o Google Assistente pode assumir um papel educativo e de responsabilidade social, mostrando às pessoas que condutas abusivas não podem ser toleradas em nenhum ambiente, incluindo o virtual”, afirma.

Maia também alerta que, embora estejamos falando de um software, é impossível desassociar o que é observado na comunicação com o comando de voz e o que ocorre no mundo real. Em 2020, mais de 26 milhões de mulheres foram vítimas de assédio, segundo pesquisa incomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública ao Instituto Datafolha. “Todos os dias, grupos historicamente discriminados recebem ataques de diversas maneiras no Brasil. E esse tipo de abuso registrado durante o uso do App é sim um reflexo do que muitos ainda consideram normal no tratamento a algumas pessoas“, pontua a Head de Marketing.

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