Podcaster Monark é demitido do Flow após fazer apologia ao nazismo

Bruno Aiub defendeu a existência de um "partido nazista reconhecido pela lei" com base na liberdade de expressão e no anticomunismo

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 16h22 - Publicado em 8 fev 2022, 18h06

No final da tarde desta terça-feira (8), os Estúdios Flow anunciaram a demissão de Monark, co-fundador e apresentador do podcast Flow. O jovem defendeu a existência de um “partido nazista reconhecido pela lei”  e que “se um cara quisesse ser antijudeu, eu acho que ele tinha o direito de ser”. A declaração foi dada em um episódio gravado com a presença dos parlamentares Kim Kataguiri (Podemos) e Tabata Amaral (PSB).

Foto do podcaster Monark. Ele sorri para a câmera, tem barba e cabelo comprido
Instagram/@monark/Reprodução

“Ao longo da nossa história, tratamos de temas sensíveis buscando promover conversas abertas sobre assuntos relevantes para a nossa sociedade, sem preconceitos ou ideias pré-concebidas, pelo que acreditamos e defendemos”, afirma parte do comunicado divulgado pela empresa.

A organização ainda firma que tem “comprometimento com a Democracia e Direitos Humanos, portanto, episódio 545 foi retirado do ar. Comunicamos também a decisão que a partir de agora, o youtuber Bruno Aiub, o Monark, está desligado do Estúdios Flow“.

Em vídeos divulgados em suas redes sociais, Monark tenta justificar suas declarações citando a liberdade de expressão e que estava bêbado durante a apresentação do podcast. Ele afirma que sua fala foi tirada de contexto e que ele estava fazendo uma comparação entre os crimes cometidos por nazistas e por comunistas.

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“Eu queria pedir desculpa mesmo porque eu errei. Eu estava muito bêbado e fui defender uma ideia que acontece em outros lugares do mundo, mas fui defender essa ideia de um jeito muito burro. Eu falei de uma forma muito insensível com a comunidade judaica”, afirma em vídeo.

 

O que é apologia ao nazismo?

O ato de promover ou praticar sob qualquer argumento ou meio as ideias, doutrinas ou instituições adotadas pelo Partido Nazista é classificado como apologia ao nazismo, prática considerada crime no Brasil.

A lei federal antirracismo (Lei 7.716, de 1989) afirma ser crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. Em seu 1º parágrafo, é descrito ainda que “veicular símbolos” do nazismo “para fins de divulgação” pode gerar pena de multa e prisão de dois a cinco anos.

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A pena pode variar de dois a cinco anos de prisão mais multa, e ser acrescida caso o crime tenha sido cometido por intermédio de meios de comunicação social, podendo ainda, em alguns casos, ser inafiançável e imprescritível.

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Esta não é a primeira vez que Monark é criticado por suas falas no podcast. Em outubro do ano passado, ao falar de racismo, ele postou que “é a ação que faz o crime e não a opinião”. O apresentador disse após as críticas que “muita gente interpretou minha defesa a liberdade de expressão como a defesa de opiniões hediondas como racismo ou homofobia” e que considera essas expressões “abomináveis”.

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Então, agora Monark pode ser punido?

Sim. Na noite desta terça-feira (8), o procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, determinou a apuração das declarações dadas pelo apresentador. O deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP) também será alvo da apuração. Kataguiri afirmou no programa, em resposta à deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP), que a Alemanha errou ao criminalizar o nazismo.

Além da PGR, o coletivo Judeus e Judias pela Democracia São Paulo entrou com um pedido para que a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), o Ministério Público Estadual de São Paulo (MPSP) e a Procuradoria-Geral da República investigassem se houve crimes de apologia ao nazismo, incitação à violência, injúria racial e intolerância religiosa.

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