“Nem tudo é sobre números e engajamento”, lembra Two Lost Kids
Para Thalita e Gabriela, as Two Lost Kids, o segredo para a criatividade é ouvir e respeitar o que gosta
ensar em ser um criador de conteúdo de sucesso atualmente parece ser sinônimo de milhões de seguidores, de visualizações, de engajamento. Mas, para Thalita e Gabriela Zukeram, a maré parece seguir o caminho oposto. ” A gente sempre esteve meio contra [o que está em alta]. Não contra, mas fazendo formatos diferentes”, explicam.
As criadoras de conteúdos, que carregam o nome artístico de Two Lost Kids nas redes sociais, não acumulam nenhum desses números em milhões, mas garantem criatividade, autenticidade e personalidade nas produções audiovisuais, características que as levaram a vencer o Prêmio Instagram Rings, no início de outubro.
A premiação, voltada à celebração de “quem não tem medo de ousar criativamente e a fazer as coisas do seu jeito”, homenageou 25 influenciadores, selecionados por um júri composto por personalidades como o cineasta Spike Lee e o estilista Marc Jacobs. Thalita e Gabriela não só foram as únicas brasileiras indicadas, como também vencedoras.
“Foi um marco de que tudo valeu a pena, pra falar pra Thali e pra Gabi de 10 anos atrás que ia dar tudo certo. Foi um momento de pensar ‘nossa, valeu a pena todo o trabalho que a gente teve, e que estávamos certas em acreditar na gente”, conta Thalita em entrevista à CAPRICHO.
A conquista do prêmio, para uma conta com 117 mil seguidores no Instagram, concretiza o que elas já acreditavam: “Nem tudo é sobre números e engajamento, ou sobre quem tem mais comentários e mais visualizações”. A principal esperança de Gabriela é que a premiação consiga “mudar como a criação de conteúdo é vista no Brasil e até lá fora, que abra os olhos das pessoas um pouco para entender que tem coisa muito criativa e original na internet, e que não necessariamente alcança tantas pessoas”.
A própria definição do Instagram Rings ao estabelecer que busca pessoas que “fazem as coisas do seu jeito” ressoa com o mantra das irmãs de Maringá, no interior de Curitiba. Nas produções em vídeo e em foto, com edições intensas, jogo de cores e de texturas, a única regra é respeitar ao máximo o que elas gostam, independente de ressoar com o que está em alta. A “teimosia de querer fazer o que a gente quer”, como descrita por elas, é o que mantém a lâmpada da criatividade acesa e as impulsa a refletir internamente: O que queremos? O que gostamos?
A régua tão individual do que se comunica entre elas faz com que o conteúdo seja cada vez mais único e especial. “Nunca seguimos regras, e isso permanece até hoje na nossa essência, de fazer o que estamos afim e do nosso jeito”, explica Gabriela.
“Sempre tentamos fugir de tendências”, conta Thalita, exemplificando que, enquanto muitos criadores se apoiam na Inteligência Artificial para criar arte, elas tentam se afastar ao máximo da automação artística, buscando criações manuais que explicitam texturas reais. “Estamos imprimindo frame a frame de vídeos para ter uma textura de papel, mais orgânica, e que é difícil da IA reproduzir. Sempre tentamos buscar alguma coisa nova e que se pareça com a gente”.
A gente produz o que a gente gosta de ver, o que a gente gosta de fazer. Não seguimos nada que tentam forçar. Se tem uma tendência em alta, a gente só faz se a gente gosta mesmo, desde o começo.
Gabriela e Thalita, Two Lost Kids
“Quando a gente desapegou disso, tudo ficou mais sereno”
Trabalhar com criação artística na internet é lutar contra a insegurança e a comparação com o outro, e isso os próprios artistas criativos contaram para a CAPRICHO. No caso das Two Lost Kids, não foi diferente, especialmente ignorar os pensamentos da autossabotagem. Sobressair essas inseguranças, contudo, partiu da própria confiança que elas têm no próprio trabalho e no desapego de números e views.
Na contramão do que representa um “criador de conteúdo de sucesso” no senso comum, Gabriela e Thalita focaram suas respectivas energias em si mesmas e encontraram um “espaço mais sereno” para criar nas redes. “O grande erro é se comparar com outras pessoas. A partir do momento que a gente parou de se comparar com números e com quem crescia mais rápido com trends, respeitamos nosso slow content autoral, postamos em menor quantidade e sem ser tão frenético, tudo ficou mais sereno”.
A régua da qualidade sobre a quantidade sobressaiu e se afastar da velocidade de compartilhamento de conteúdo garantiu tempo e espaço para elas criarem sua arte. O tempo que gastamos na tela e a rapidez com que consumimos muito conteúdo têm impacto direto na nossa saúde mental — falamos sobre isso nesta outra matéria. É por isso que, ao invés de se preocupar com as visualizações dos conteúdos, as irmãs pensam em como aprimorá-lo ao máximo ao seu gosto, garantindo mais qualidade.
“Sabíamos que persistindo e mesmo sem viralizar, sem ter grandes números e sem se preocupar com o que os outros estão fazendo e com o que ‘dá certo’ na internet, a criatividade e até a teimosia de querer fazer o que a gente quer iriam nos recompensar e nos premiar”, conta Thalita.
“Cara, isso vai ser nosso trabalho um dia”
O percurso até o encontro de almas das irmãs com as câmeras digitais e os programas de edição levou tempo, envolveu programas de TV criados com a câmera VHS dos pais e a inspiração no pai, que registrava cada passo da filha pela câmera antiga. A partir daí, a paixão pelo audiovisual cresceu não só como um hobby divertido, mas uma carreira para o futuro.
“Quando o termo ‘criação de conteúdo’ nem existia”, Thalita e Gabriela passaram a sonhar em trabalhar em programas de TV, a realidade mais possível envolvendo o audiovisual. Foi com a introdução às câmaras digitais e às possibilidades das edições, entre 2011 e 12, que a dupla encontrou sua ocupação. “Nesse momento, já falamos ‘cara, isso vai ser o nosso trabalho um dia’. Nunca fizemos como hobby, mas sim com o intuito de virar uma profissão”.
A carreira de cineasta ou de produtoras de audiovisual continuava distante enquanto a única saída parecia ser a televisão, mas o cenário se transformou com a internet. “A gente viu na internet a possibilidade de criar oportunidades sem depender de pessoas, de contatos. Viemos de Maringá, e minha mãe questionava como a gente seria cineasta se nunca conhecemos um. Agora a gente pode falar que conhece o Spike Lee”, brinca Thalita.
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