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O que é a COP, para que serve e em quais pontos ainda é “blá, blá, blá”

Ela terá o Brasil como centro do debate e tem tudo para ser a conferência mais atuante de todos os tempos.

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 15h24 - Publicado em 6 nov 2022, 09h25

A mistura do Brasil com o Egito está na área! Neste domingo (6), em Sharm El Sheikh, começa a COP27, que termina no próximo dia 18 e vai contar com a presença de diversas personalidades brasileiras, como ativistas climáticos e o próprio Lula (PT), recém-eleito presidente do Brasil, que vai participar do evento no dia 14 e pretente reativar o Fundo do Clima, esvaziado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).

Com o tema “Juntos para a implementação”, a pauta principal da COP deste ano será novamente o aquecimento global, que deve ser discutido com ainda mais urgência, uma vez que a Terra se encontra cada vez mais perto de alcançar seu ponto de não retorno. A redução das emissões de carbono será mesmo o foco do debate, que, consequentemente, deve também abordar temas relacionados à Amazônia e a energias limpas, como a eólica e a solar.

Apesar de ser um evento extremamente relevante para a agenda climática, a conferência, que ocorre anualmente, peca ainda em dois pontos principais: as vozes de maior peso ainda são as de grandes líderes mundiais, que, em sua maioria, são homens brancos, de meia idade e ricos, e há muita teoria para pouca prática. Não à toa, Greta Thunberg, um dos principais nomes jovens do ativismo ambiental global, fez um discurso impaciente na COP26, dizendo que tudo não passou de um “blá, blá, blá” motivado pelo greenwashing, e garantiu que não pretende comparecer na COP deste ano.

O que é a COP e para que ela serve?

A sigla COP significa Conferência das Partes. É o nome de uma reunião anual organizada pela ONU, em que representantes de quase todos os países se reunem para pensar e repensar ações climáticas em prol da conservação da Terra e de seus biomas. A primeira edição da COP aconteceu em Berlim, em 1995, e teve a aderências de 117 países. O foco já era a discussão sobre o efeito estufa.

O encontro dura 12 diase e é sempre realizado em um lugar diferente do planeta. Por exemplo, em 2021, a COP26 ocorreu na Glasgow, na Escócia. No ano que vem, a COP28 vai acontecer em Dubai, nos Emirados Árabes. Entre os representantes, temos chefes de Estado, como presidentes, cientistas, donos de ONGs e empresas, e ativistas ambientais.

Qualquer pessoa pode participar da COP?

Sim e não. Sim, porque existe um espaço aberto na conferência chamado “Green Zone”, em que qualquer pessoa pode entrar e participar das discussões com os representantes.

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Contudo, existe outra área, chamada “Blue Zone”, reservada para esses representantes que possuem credenciais, ou seja, que são líderes ou chefes de Estado, convidados da ONU, e/ou pessoas que se credenciaram para cobrir e participar o evento, como ativistas, jornalistas e donos de instituições.

A Aíla Marinho, Coordenadora executiva do Instituto Ayika, uma organização juvenil que acredita na intersecção entre raça, clima, gênero e território, participou da COP26.

A ativista conta que o evento é enorme, com mais de 20 mil pessoas, mas, ainda assim, é organizado. “Tudo é pensado nos mínimos detalhes. Levar um discurso pronto pode ser interessante dependendo do tamanho do painel que você vai falar. Por exemplo, existem paineis nos quais aprensentamos pesquisas, trabalhos que desenvolvemos, etc. Então, é bom montar a fala com antecedência, mas existem outros locais mais informais, nos quais podemos nos expressar mais naturalmente”, conta Aíla.

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A representante da juventude garante que participar da conferência é ocupar um lugar importante na história da luta pela mitigação das mudanças climáticas, sem contar que é uma responsabilidade imensa!

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A COP traz resultados efetivos ou não passa mesmo de um “blá, blá, blá”?

A fala de Greta Thunberg a respeito do evento, dizendo que ele não passa de “blá, blá, blá”, foi muito marcante e significativa, pois representa um descontentamento da juventude com relação às decisões tomadas por líderes mais velhos, que não entendem a urgência da luta climática e/ou estão mais preocupagos com seus egos capitalistas.

Para a atvista sueca, as COPs “não são realmente destinadas a mudar todo o sistema” e “não estão realmente funcionando, a menos que as usemos como uma oportunidade de mobilização”, disse em discurso.

+ Até quando vamos continuar desumanizando o debate climático e ambiental?

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A solução, então, é dar ainda mais poder para falas jovens e periféricas, pois estas são as maiores afetadas pelas mudanças climáticas. Marcelo Rocha, diretor executivo do Instituto Ayika e conselheiro do Greenpeace Brasil, costuma dizer que “justiça climática é o direito ao presente enquanto construímos possibilidades de futuros”.

Para Aíla, que trabalho ao lado de Marcelo, não contar com essas vozes dissidentes do padrão norte global é decidir cursos de ação baseando-se só em quem tem uma vida plena em direitos assegurados. “Por exemplo, para pessoas do eixo hemisfério Norte, faz muito sentido discutir a futura crise na distribuição hídrica, mas para grande parte da juventude periférica brasileira, a falta ou pouca distribuição de água já é uma realidade, não uma preocupação futura. Precisamos que essas vozes jovens sejam parte do processo de construção de soluções climáticas, porque elas são quem já estão sofrendo com essa crise, portanto os mais capacitados para falar sobre emergência“, explica a ativista.

Manifestante protenta pelo clima na Bélgica
“Um dia, sua branquitude e seu privilégio serão inúteis contra a crise climática” Dursun Aydemir/Anadolu Agency/Getty Images

Esse é justamente o ponto-chave da crítica de Greta, que lamenta o fato de muitos poderosos usarem a Conferência das Partes como uma oportunidade para praticarem o greenwashing, uma “lavagem verde” para promover as estratégias sustentáveis de suas empresas e coorporações que, na verdade, são muito mais marketeiras do que efetivas para o planeta Terra. Ou seja, se apropriam de um debate importantíssimo para uma autopromoção e para um enriquecimento em cima de causas sociais, políticas, econômicas, raciais e ambientais.

Para a sueca, líder do movimento Fridays For Future, a solução seria trazer à COP mais lideranças jovens, negras e periféricas, e menos empresários milionários. Eles devem, sim, tomar atitudes para reduzir os danos por eles causados durante décadas, mas as mudanças precisam ser pautadas em soluções trazidas por aqueles que já vivem as consequências da crise climática. “Para mudar as coisas, precisamos de todos. Precisamos de bilhões de ativistas!”, disse Thunberg. 

Aíla explica que, depois que os problemas e as soluções são apresentadas e discutidas, levando em conta o Acordo de Paris, as contribuições nacionalmente determinadas proposta por cada país entram num processo de serem revisadas e acompanhadas, para garantir que o aumento de temperatura na Terra seja abaixo de 1,5°C. “Naturalmente, essas contribuições são monitoradas, assim como os níveis de emissões, e os países que não cumprirem estão sujeitos a sanções relacionadas à violação de direitos humanos e direitos socioambientais“, afima.

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Portanto, repito aqui minha fala de outros textos que já trouxe aqui na coluna: é leviano desumanizar o debate climático e é impossível pensar em justiça climática sem pensar conjuntamente em justiça social e racial.

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