Variantes do coronavírus: como surgem, quantas são e o impacto na pandemia

Preparamos este dossiê para você tirar as principais dúvidas sobre as variantes do vírus, incluindo a Delta, que tem preocupado o mundo

Por Gabriela Junqueira Atualizado em 30 out 2024, 17h14 - Publicado em 25 ago 2021, 15h09
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CAPRICHO/Divulgação

A variante Delta da Covid-19 foi detectada pela primeira vez no estado de Maharashtra, na Índia, em outubro de 2020. Desde então, a cepa – que é a mais transmissível registrada até o momento – causou o aumento de casos até em países que haviam controlado a doença. Mas por que variantes como essas existem? Elas vão continuam surgindo mesmo após a maior parte da população estar vacinada? Quais riscos reais elas representam? A CAPRICHO conversou com Evaldo Araújo, médico infectologista do Hospital das Clínicas da USP e membro da diretoria da Sociedade Paulista de Infectologia, e com Lucas Zoboli Pocebon, infectologista do Hospital Israelita Albert Eintein, e preparou um dossiê sobre o assunto.

Imagem em 3D de célula de coronavírus flutuando dentro de corpo humano
Radoslav Zilinsky/Getty Images

Por que as variantes de um vírus surgem?

Pocebon explica que os vírus adquirem mudanças de formas aleatórias em seu material genético, sendo que algumas são úteis e outras não. Em um contexto em que as pessoas estão próximas, e com a presença do vírus, elas vão se infectado e tendo respostas imunológicas diferentes, trazendo alterações que podem ser replicadas. “Cada infecção nova é a chance desse vírus adquirir mudanças que podem ser desastrosas para a pandemia”, esclarece o médico.

Araújo complementa dizendo que, resumidamente, as variantes do coronavírus estão surgindo por causa da junção de três fatores: as mutações genéticas – que são um fenômeno natural -, a pressão seletiva feita pelo sistema imunológico de todas as pessoas e a alta circulação do vírus, que aumenta a chance dele ter mais variantes.

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Quando essas alterações apresentam aumento de transmissão e mudanças de sintomas, aliadas à diminuição efetiva de medidas de saúde pública (como vacinas, tratamentos, diagnóstico ou distanciamento social), elas são chamadas de “variantes de preocupação” pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Quando elas afetem a virulência, a gravidade da doença, o escape de anticorpos ou tratamento e alteram o método de diagnóstico, são chamadas de “variantes de interesse”.

Quais são as variantes da Covid-19 que já existem?

Até o momento, os cientistas identificaram quatro variantes classificadas como de preocupação. A primeira encontrada foi a Alfa, registrada inicialmente no Reino Unido. Depois, foram notificados casos das variantes Beta, na África do Sul, e da Gama, no Brasil. Em outubro de 2020, foi identificada, na Índia, a variante Delta, que está sendo a mais comentada.

A Delta tem sido motivo de preocupação para os especialistas por ser mais transmissível que as outras. De acordo com a OMS, a variante está presente em 130 países do mundo. No Brasil, foram registrados 1.051 casos dela em 15 estados até 17 de agosto. Com o aumento de casos da variante, países como os Estados Unidos, que já estavam livre da maior parte das medidas de restrições impostas por causa da pandemia, precisaram voltar atrás. Apesar do aumento de casos nos EUA estar atingindo também as pessoas imunizadas, 97% das internações e 99% dos óbitos são de não-vacinados.

Foto de braço de mulher recebendo vacina
hxyume/Getty Images
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Em relação a existir ou não uma variante mais perigosa, Araújo diz que não é possível compará-las, mas que a alta taxa de transmissão da Delta é o que a torna mais preocupante. Um estudo divulgado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia (KDCA), na última terça-feira, 24, diz que a variante Delta pode ter uma taxa de transmissão 2x maior que a cepa original do vírus, encontrada em Wuhan. Além de seguir as medidas básicas, como usar máscara, higienizar as mãos e evitar aglomerações, o KDCA também reforça a importância das pessoas com sintomas da variante Delta da Covid-19 fazerem seus exames imediatamente.

O impacto no combate à pandemia

O surgimento de novas variantes, como a Delta, faz com que seja necessário se adaptar à luta contra o vírus. Um dos maiores receios da comunidade científica e dos governos é que, com o surgimento de novas variantes, em algum momento apareça uma capaz de escapar do sistema de proteção das vacinas – o que ainda não aconteceu, vale destacar. Um relatório vazado do Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos EUA, trouxe constatações de que a Delta se espalha mais rápido, tem mais chances de contaminar vacinados e causar quadros mais graves em quem não se vacinou.  Segundo o relatório, a variante é tão “transmissível quanto a catapora” e é importante “reconhecer que a guerra mudou”. 

 

Araújo lembra que, quanto mais rápida a população for vacinada, menores serão os riscos de novas variantes surgirem. “É muito importante que a gente vacine rápido e vacine o mundo todo. Enquanto nós estivermos vacinando pessoas nos países desenvolvidos e não estivermos nos menos desenvolvidos, e a doença continuar se expandindo por lá, há o risco de que surjam novas variantes e que nós fiquemos em um eterno recomeço“, reforça. “Infelizmente, as variantes podem estender a pandemia, uma vez que as mutações no vírus podem fazer com que a transmissão do vírus seja facilitada, ou mesmo que as vacinas deixem de ser tão eficazes”, alerta Pocebon.

A eficácia das vacinas atuais

Um estudo realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, mostrou que os imunizantes da Pfizer e da AstraZeneca são eficazes contra a variante Delta após a 2ª dose da vacina, mas que o nível de proteção caí com o tempo. A Pfizer garantiu 90% de eficácia 14 dias após a segunda dose, caindo para 78% depois de 90 dias. Já a AtraZeneca apresentou eficácia de 69% inicialmente, e baixou para 61% após o mesmo período. Vale lembrar que, apesar da queda, as vacinas continuam sendo eficazes e, por isso, são uma peça fundamental para combater o vírus. Um artigo pré-publicado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China afirma que outro imunizante, que também está sendo usado no Brasil, garante proteção contra os casos graves causados pela variante: CoronaVac.

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Profissional da saúde segura injeção e vidro com vacina

Frente aos riscos da variante Delta, alguns países, como Rússia, Israel, Uruguai e Estados Unidos, falam sobre a aplicação de uma dose de reforço. Nesta quarta-feira, 25, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou que a 3ª dose da vacina contra a Covid-19 começará a ser aplicada em 15 de setembro no Brasil. A autoridade disse que a decisão de começar a aplicação foi tomada em razão do risco de disseminação da variante Delta no país. Inicialmente, idosos com mais de 80 anos e pessoas imunossuprimidas receberão a dose de reforço, que será da Pfizer, e o Ministério da Saúde está realizando um estudo em parceria com algumas universidades para analisar a aplicação desta dose em toda a população.

Ainda vão surgir novas variantes depois da vacinação?

O médico Lucas Zoboli Pocebon garante que sim, como surgem em todo o momento com outros vírus. É trabalho dos infectologistas, virologistas e epidemiologistas ver se tem variantes que podem trazer problemas para a epidemia”, afirma. Em relação às ações que podem ser tomadas para evitar o surgimento de novas variantes mais graves, o infectologista lembra que diminuir o número de casos é o que fará com que existam menos chances de haver piora no cenário. Assim, é necessário reforçar a importância de seguir adotando os cuidados básicos de combate à pandemia, como fazer distanciamento social e usar máscara (mesmo após a vacinação), e tomar a vacina, qualquer que ela seja. “Faz parte do trabalho de todos nós evitarmos que continue ocorrendo a transmissão do vírus’, pontua. 

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