Meninas e mulheres seguem sendo invisíveis no mundo do rock

Enquanto cada vez mais meninas pegam em guitarras e assumem bandas de rock, o número de mulheres em premiações e festivais cresce a passos lentos.

Por Julia Ribeiro de Lima, especial para a CAPRICHO 8 mar 2025, 09h00
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e Olivia Rodrigo, Willow, Demi Lovato, Girl In Red, Phoebe Bridgers e Paramore fazem parte da sua playlist, te avisamos que muito do que você consome pode e deve ser categorizado como rock. O Rock and Roll que surgiu nos anos 1950 se transformou ao longo dos mais de 70 anos de história e, de lá para cá, diversas vertentes explodiram no mundo musical. 

Em 2018, a marca de guitarras Fender realizou uma pesquisa e constatou que 45% das guitarras vendidas são para pessoas que nunca tocaram o instrumento, enquanto 50% desses compradores são mulheres.

“As mulheres estão presentes na história e na indústria da música o tempo todo. O que aconteceu e continua acontecendo é que elas seguem sendo invisibilizadas”, comenta Isabela Yu, jornalista especializada.

Um exemplo? Após sete anos de hiato, o Linkin Park, um dos grupos mais celebrados de New Metal, convidou Emily Armstrong para assumir a difícil posição de vocalista.

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“Ouvi vários homens gritando ‘Gostosa’ para ela durante o show do Linkin Park em São Paulo, fiquei com raiva, mas acho que a banda também está neste lugar de educar os fãs, de mostrar que esse ambiente pode ser feminino”, comenta Yu.

It’s brutal out here

Olivia Rodrigo abre seu álbum de estreia informando que o mundo é brutal. Quando olhamos para o cenário de mulheres em festivais, é, de fato, assustador.

No line-up de 2025 do Lollapalooza, em que Olivia encabeça a sexta-feira, 35% dos nomes são femininos e 6% são de bandas mistas, segundo levantamento da pesquisadora Thabata Lima Arruda no projeto “Mais Mulheres Nos Festivais”. 

Alanis Morissette, outra diva do rock, fica responsável pelo sábado. Essa é apenas a segunda vez em 12 edições que duas mulheres recebem posições de destaque no mesmo ano e a segunda que contamos com roqueiras liderando o evento. A primeira – e única – foi em 2016, com Florence + The Machine.

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“Um organizador do Lollapalooza me disse que Miley Cyrus foi uma grande aposta em 2022”, conta Yu. “Como colocam a Miley, uma estrela com mais de uma década de carreira, como aposta?”

Divulgando o explosivo Plastic Hearts na época, a cantora americana era dona da coroa de maior público da história do evento, com 103 mil espectadores. O posto é atualmente de Billie Eilish, com 104 mil. 

Do Pop ao Rock

Quando Olivia Rodrigo concorreu ao Grammy por seus dois álbuns, a cantora entrou na categoria “Melhor Pop Vocal”, apesar de um som carregado de um pop rock de primeira, com referências a Paramore, Alanis Morissette, Avril Lavigne e outras roqueiras que, pasmem, concorreram em categorias de Rock em diversas edições da premiação. Com saias rodadas, meia arrastão e coturno, Rodrigo talvez se posicione como Gen-Z e menininha demais para o gosto da Academia de Gravação.

Quando questionada sobre a facilidade de encaixarmos mulheres na caixinha do pop, Day Limns desabafa: “O grande problema está no fato de que o rock ainda carrega essa definição que é rígida. As pessoas são apegadas a ela. Isso se agrava pelo comportamento de muitos roqueiros, infelizmente, que se tornaram figuras ignorantes, conservadoras, que não dialogam com o contexto atual ou com as novas gerações”. 

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O futuro é cor de rosa choque

Outras cantoras velhas conhecidas buscam no rock uma forma de se apresentar daqui para frente. Demi Lovato, por exemplo, mostrou que seu som é, antes mesmo de ser um pop de primeira, um pop punk de primeira.

Já Halsey prova com sua performance de “Ego” no VMA 2024 que as bandas de garagem também podem ser femininas.

“O rock feito por mulheres não precisa provar mais nada pra ninguém – ele só precisa do espaço que já merece pra mostrar a nossa força”, ressalta Dani Albuquerque.

*Este texto foi originalmente publicado na edição impressa da CAPRICHO de dezembro de 2024.

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