Nicky Doll é a prova de que não é preciso ganhar Drag Race para vencer
A drag queen foi a terceira eliminada do reality, mas se tornou a apresentadora do Drag Race França e se apresentou na cerimônia de abertura das Olímpiadas
ma das cenas que mais chamou atenção na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris 2024 foi a participação de um grupo de drag queens, que fizeram um desfile de moda em cima da mesa. Entre as artistas presentes, Nicky Doll foi uma das que recebeu maior destaque ao apresentar uma de suas músicas originais, I had a dream, ao vivo pela primeira vez.
Antes de se tornar uma das vozes mais importantes para a comunidade LGBTQ+ em nível global, a drag queen francesa participou da 12ª temporada do reality show RuPaul’s Drag Race e não se saiu tão bem assim. Sendo a terceira eliminada da temporada, ela tinha tudo para cair no esquecimento da fã base, mas não foi o que aconteceu.
Juventude e Início da Carreira
Karl Sanchez nasceu em 14 de março de 1991, em Marselha, na França e começou sua jornada artística como Nicky Doll em um ambiente onde a diversidade e a autoexpressão nem sempre eram bem aceitas. Durante sua participação em Drag Race, a drag contou que cresceu Tânger, no Marrocos, e enfrentou desafios significativos devido à sua expressão de gênero e interesses não convencionais.
Na adolescência, ele se destacava por seu estilo emo e andrógino, e buscava entender a cultura LGBT através da internet, onde conheceu o reality de RuPaul. Depois de se mudar para Paris, Karl começou a estudar comunicação na Universidade Paris 8, mas decidiu largar os estudos acadêmicos para seguir seu verdadeiro chamado: a maquiagem e a performance drag.
Drag em Nova York
Nicky Doll surgiu em 2009, se descrevendo como uma “boneca em tamanho real dos anos 1990”. O nome é uma homenagem a Nicki Minaj e à ideia de uma boneca cheia de versatilidade e personalidade. A artista rapidamente ganhou reconhecimento no cenário drag, aparecendo em revistas como Féroce, Cosmopolitan e Volition Magazine. Com a mudança para São Francisco e, posteriormente, Nova York em 2015, Nicky Doll consolidou sua posição como uma das principais drag queens da cena norte-americana.
Sua grande oportunidade chegou em 2020, quando foi anunciada como uma das treze participantes da 12ª temporada de RuPaul’s Drag Race. Nicky Doll fez história como a primeira drag queen francesa na franquia, conquistando os espectadores com seus looks deslumbrantes e sua abordagem franca sobre as barreiras linguísticas. Apesar de ter sido eliminada em 11º lugar, sua presença e carisma garantiram- um lugar permanente no coração dos fãs e a oportunidade de trabalhar com grandes marcas como Thierry Mugler e Jean-Paul Gaultier.
Apresentadora do Drag Race França
Após sua participação no reality, Nicky Doll continuou a expandir seu impacto na cena drag. Em 2022, ela foi anunciada como a apresentadora e jurada principal de Drag Race França, onde trouxe sua expertise e charme francês para o programa, solidificando ainda mais seu status como uma líder na arte drag francesa.
Apesar do formato ter consolidado várias franquias internacionais nos últimos anos, a versão francesa é uma das mais interessantes. As três temporadas foram muito elogiadas pelos fãs, que não costumam se desafiar a assistir franquias de Drag Race que não falam em inglês, e foi um verdadeiro sucesso da crítica.
A aclamação do Drag Race França acontece pelo elenco de drag queens de alto nível e muito talentoso que é selecionado e, claro, pelas críticas de Nicky Doll, que encabeça o programa e traz dinâmicas diferentes dos outros países para o formato já conhecido.
Lé-gen-daire
O ano de 2024 marcou um novo e emocionante capítulo na vida de Nicky Doll. Sua visibilidade e influência foram ampliadas quando ela foi convidada a participar da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Paris 2024. Juntamente com outras figuras proeminentes do drag como Paloma, Piche – essas duas participantes icônicas do Drag Race França -, Barbara Butch e Giselle Palmer, desempenhou um papel crucial na apresentação de um espetáculo vibrante e inclusivo, que destacou a diversidade e a criatividade da cena drag francesa.
Após a cerimônia, a apresentação sofreu uma série de críticas por parte de alguns grupos conservadores, que levantaram questões sobre a adequação de drag queens em um evento esportivo tradicional. Em resposta aos comentários, Nicky fez uma série de posts dizendo que a representação de pessoas queer em um evento esportivo e televisivo é muito importante para que a comunidade se sinta vista.
“Pessoas queer merecem representação e contar suas histórias. Sempre tive orgulho de ser a Joana D’Arc travestida, mas isso nunca pareceu mais significativo do que agora. Infinitamente orgulhosa do meu país, de nós como comunidade e da postura que assumimos em relação à inclusão, tolerância, amor e liberdade”, escreveu Nicky Doll em um post recente do Instagram.