“Tremembé”: elenco fala sobre o desafio de dar vida a criminosos reais
Em entrevista exclusiva à CAPRICHO, elenco conta como foi interpretar os criminosos mais famosos do país
aseada nos livros do jornalista Ulisses Campbell, Tremembé é uma das produções brasileiras mais intrigantes do ano. A série do Prime Video mergulha no cotidiano da Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado — o famoso presídio de Tremembé II — e reconstitui, em formato de ficção, o convívio entre nomes que se tornaram manchetes nacionais.
Mas se o ponto de partida é o crime, a trama dirigida por Vera Egito vai além das páginas policiais. Ela revela as tensões, relações e dinâmicas dentro da prisão, explorando como esses personagens, condenados por crimes de grande repercussão, convivem e sobrevivem entre si.
Em entrevista exclusiva à CAPRICHO, o elenco principal, formado por Marina Ruy Barbosa, Letícia Rodrigues, Bianca Comparato, Carol Garcia, Kelner Macêdo, Lucas Oradovschi e Anselmo Vasconcelos, falou sobre as polêmicas em torno da produção, o cuidado com o retrato dessas figuras e o processo intenso de preparação para viver papéis tão delicados.
Responsabilidade e o debate sobre glamourização
Produções inspiradas em crimes reais sempre levantam discussões sobre a possível romantização de criminosos. E o elenco de Tremembé não fugiu do tema. “Esse é um debate legítimo. Ele vem de uma população que se preocupa, que fica aflita ao consumir certas histórias”, diz Letícia Rodrigues, que interpreta Sandrão, presa que conviveu com Suzane e Elize.
“Mas é importante dizer que Tremembé tem um roteiro baseado em uma investigação jornalística. Tivemos o cuidado e a responsabilidade de não afetar quem já foi afetado por essas histórias. Nosso foco é outro protagonista: o presídio”, continuou Letícia.
Para Marina Ruy Barbosa, que vive Suzane von Richthofen, a série não busca recontar o crime, mas o que vem depois. “Muita gente pensou: ‘Por que voltar a falar dessas pessoas?’. Mas Tremembé mostra as relações interpessoais depois das consequências — depois de elas terem sido julgadas e condenadas. É quase um estudo psicológico sobre o que cada uma faz para sobreviver ali dentro”, explica.
Bianca Comparato, intérprete de Anna Carolina Jatobá, reforça que a produção não tenta justificar atos, e sim compreender o comportamento humano. “Existe algo inerente ao gênero true crime: a curiosidade sobre o lado sombrio. Mas nossa história começa depois do crime. Não há justificativa ou tentativa de humanizar o ato. Há sarcasmo, humor ácido e uma direção muito sensível para não expor vítimas ou glamourizar a violência.”
Entre a humanidade e o horror
Os crimes retratados na série fazem parte da memória coletiva do país, e encarar essas figuras exigiu um mergulho profundo. “Meu maior desafio foi não cair na caricatura”, revela Lucas Oradovschi, que interpreta Alexandre Nardoni. “O caminho mais fácil seria o julgamento. Mas eu precisava encontrar outras camadas além do horror — porque o horror também faz parte da condição humana.”
Carol Garcia, que dá vida a Elize Matsunaga, completa: “Eu não busquei ‘dar humanidade ao crime’, e sim trazer seres humanos para a cena. Tremembé mostra o dia a dia dessas pessoas, e esse convívio é algo que o público nunca viu. A maioria de nós nunca entrou num presídio, então existe essa distância. A série traz isso com força.”
E para Marina, o projeto também marca um momento importante para o audiovisual nacional: “Estamos vivendo um momento de glória. O gênero true crime é muito explorado lá fora, mas aqui ainda é novo. Então poder contar uma história brasileira, com essa qualidade, é um orgulho. É uma história feita aqui, mas que vai pro mundo.”
Preparação intensa e bastidores reais
O elenco viveu um processo de preparação extenso envolvendo o físico, emocional e técnico. “O roteiro é baseado nos livros do Ulisses, mas tivemos um trabalho de corpo e convivência muito forte”, explica Letícia Rodrigues. “Contamos com duas preparadoras de elenco incríveis e um time enorme — mais de 1.500 pessoas envolvidas. Tivemos um preparo físico intenso e também emocional.”
Carol Garcia revela que o time chegou a conversar com uma mulher que esteve presa em Tremembé. “Ela nos passou códigos e detalhes que a gente não conhecia. E cerca de 60 pessoas da figuração eram egressas do sistema prisional. Elas participavam ativamente das filmagens, corrigindo gestos e até a geografia das cenas. Foi uma vivência muito rica.”
Já Marina destaca a combinação entre drama e humor ácido como um dos grandes diferenciais da série. “Apesar de falar de um assunto sério, Tremembé também tem um humor inteligente, de roteiro. Foi preciso entender até onde podíamos ir — entre a ironia e a seriedade.”
Sob o olhar de Vera Egito
A direção firme e sensível de Vera Egito foi lembrada com carinho por Anselmo Vasconcelos, intérprete de Roger Abdelmassih. “Ela sabia exatamente o que cada um representava na construção da história. Eu sou um ator muito ‘jazzístico’, gosto de improvisar. E ela me guiava para o momento certo, a nota certa. Essa troca criou uma ponte de confiança entre direção e elenco.”
Um dos personagens mais complexos é Christian Cravinhos, vivido por Kelner Macêdo. Na série, ele vive um relacionamento dentro da prisão e o ator destaca a importância dessa abordagem. “Ele é um corpo desejante e, ao mesmo tempo, capaz de uma atrocidade. Se diz hétero, mas se apaixona por um homem. É manipulador e sedutor: faz você esquecer do que ele é capaz, até te lembrar de novo. Foi um desafio entender essa entrega e essa lucidez sobre o próprio destino.”
Tremembé já está disponível no Prime Video, com todos os cinco episódios da primeira temporada. Entre dilemas morais, tensões psicológicas e um olhar inédito sobre o “presídio dos famosos”, a série promete deixar o público dividido entre o desconforto e a curiosidade.
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