mperatriz, no Maranhão, nunca esteve perto dos centros do skateboarding brasileiro. Mas foi lá, na cidade localizada às margens do Rio Tocantins e distante 629,5 km da capital, São Luís, que nasceu e cresceu a mais jovem brasileira a conquistar uma medalha olímpica.
Jhulia Rayssa Mendes Leal ganhou seu primeiro skate aos seis anos de idade de um amigo do seu pai. Com pouco tamanho, sem ainda saber o nome das manobras, ela foi se aventurando com o novo brinquedo, quase que instintivamente. Nunca ligou se aquilo “não era coisa de menina”, como muitos diziam. Ela só estava preocupada em aproveitar qualquer tempo livre, fora da escola ou depois de terminar o dever de casa, para tentar novos movimentos.
Depois do desfile de 7 de setembro de 2015, nem tirou a fantasia de Sininho, que a avó havia feito, para seguir o tema daquele ano, “Peter Pan”. Só teve tempo de colocar a meia e o tênis e correr para a Calçadaria da Terra, pico conhecido pelos skatistas da região. A mãe, Lilian Mendes, estava com a câmera ligada na hora certa e capturou o momento em que a garota, então com sete anos, acertou o heelflip. “Eu olho pro passado e me dá um misto de orgulho e emoção. Hoje a Rayssa já viveu tantas coisas que algumas pessoas demoram uma vida inteira para viver”, afirma a mãe da atleta em entrevista à CAPRICHO.
Eu olho pro passado e me dá um misto de orgulho e emoção. Hoje a Rayssa já viveu tantas coisas que algumas pessoas demoram uma vida inteira para viver
Fantasiada, com asas, vestido azul, uma tiara de borboletas na cabeça e meias rosas listradas, ela chutou o skate com o calcanhar, fazendo-o girar a 360 graus para longe do corpo. A cena, publicada nas redes sociais, apresentou ao resto do Brasil e do mundo a futura medalhista olímpica pelo skate, prata em Tóquio-2020 e bronze em Paris-2024.
Ninguém ainda sabia de todos os feitos que viriam a seguir. Mas foi ali que ela ganhou o apelido carinhoso de “fadinha”, que, até hoje, uma década depois, é lembrado pelo público. “Teve uma época que eu me irritei porque as pessoas continuavam me chamando de fadinha. Mas hoje não ligo mais, tudo bem, eu sei que é um jeito carinhoso. Mas é que eu cresci”, responde. E depois de uma pausa rápida, pondera: “Mas eu prefiro que me chamem de Rayssa Leal, mesmo”.
O nome, hoje sinônimo de fenômeno internacional, no TOP2 do ranking feminino mundial de skate street, foi o escolhido para estampar a capa desta edição impressa de dezembro da CAPRICHO. Em janeiro de 2026, a “fadinha” que dominou as redes e a Rayssa que dominou o esporte vai completar 18 anos e já deixa um legado enorme para as novas gerações de meninas que querem ser como ela. Esse momento vem acompanhado da imagem carismática e do simbolismo de alguém tão jovem que faz parecer ser fácil, leve e divertido ser uma garota realizando sonhos ‒ apesar de todos os obstáculos que a realidade dentro e fora das pistas impõe. Com 1,61m de altura, sorriso largo e um sotaque gostoso de ouvir, está estampada nestas páginas uma gigante que tem a cara da potente juventude brasileira.