O que faz você ser você?

Na era do “feed clean”, a Galera CAPRICHO decidiu colorir a autenticidade. A edição digital de setembro chega com um ensaio vibrante.

por Juliana Morales Atualizado em 17 set 2025, 12h42 - Publicado em 17 set 2025 12h00
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e na internet a tendência é o feed zero, tudo clean e neutro, na sessão de fotos desta capa, a regra era outra. Mais colorido, por favor!

Nas araras de roupas que preenchiam o set, as peças de tons vibrantes eram as mais cobiçadas. Na maquiagem, as sombras coloridas e o brilho assumiram o protagonismo. Azul, rosa, verde, vermelho, amarelo se misturavam entre os 11 jovens da Galera CAPRICHO 2025, que estampam a edição digital de setembro da CAPRICHO.

“É meio clichê, mas está todo mundo vivendo num mundo muito cinza, sabe? Mesma roupa, mesma maquiagem. Naquele dia, a gente se desligou disso, foi mágico, como um arco-íris se formando”, recordou Heloísa Santana, de 15 anos. 

Para Marina Motta, 16 anos, isso também foi libertador. “Acho que eu nunca me senti tão eu”, confessa. “Nunca consegui me exressar tanto com as minhas roupas, com a minha maquiagem, com o meu cabelo, da forma que eu me expressei ali”, explica.

Rhyan Reis, de 14 anos, nem se importou com o que os meninos da sua idade achariam daquilo. “Provavelmente, muitos diriam que é estranho, só que eu acho isso [o ensaio, a maquiagem, as fotos] incrível. E se eles não gostam, mostra que eu sou diferente, não sou igual a todo mundo”, diz. 

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Tiago Zani/CAPRICHO

Mesmo sem terem conhecido uma época em que a internet não existia, a Galera CAPRICHO acredita que ser você, sem se prender a padrões e tendências, é muito mais complexo quando as redes sociais têm o peso que elas possuem hoje. Ao rolar o feed constantemente, somos expostos a imagens e comportamentos repetitivos, criando padrões de beleza e estilos de vida a serem seguidos. 

Tudo isso gera uma percepção de homogeneização, em que todo mundo tem que fazer parte das trends, e faz com que, muitas vezes, entremos em um espiral de comparação nada saudável. Somado a isso, o cyberbullying ganha dimensões assustadoras, e a juventude, em especial, sofre muito nesse cenário. 

“Quando você é criança, o mundo é a sua nova descoberta. Agora, quando você é adolescente, a sua descoberta é sobre você mesmo”, afirma Lavínia Azanã, de 15 anos. “Mas é difícil se conhecer quando você está sempre pensando no que os outros querem que você seja ou como querem que você haja”, completa. 

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Sem preto e branco: a nostalgia agora é por mais cor

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Luísa Panini, 18 anos, acrescenta nesse panorama de desafios atuais a onda de conservadorismo, que cresce entre os jovens, tentando podar direitos e as diversas formas de expressão – que fizeram parte da luta de muitos jovens no passado. “Tem uma galera que está se posicionando contra o feminismo e negando a diversidade sexual”, observa. Com isso, a ideia antiga de que a mulher tem que ser feminina, enquanto os homens são fortes e viris, ganha força. 

“Eu sinto que essa onda de clean girl reforça esse papo de ser mais feminina, inclusive. É como se colocassem as mulheres nessa caixinha de elegância, e quem está de fora dela, que gosta da cor e de se comportar diferente, faz parte do grupinho dos estranhos”, analisa a jovem. 

Por mais que existam, sim, movimentos que vão na contramão da estética clean e da padronização, muitas pessoas vêem presas nisso, com a criatividade limitada pelo desejo de pertencer. 

Cassiane Porto, 17 anos, lamenta que quando começou a ter contato com a internet, ainda criança, acompanhava “adolescentes que chamavam atenção, justamente, por explorarem sua personalidade”. Mas, agora, que ela é uma adolescente, os jovens parecem que querem estar todos iguais, e poucos se destacam.

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Para ela, isso faz com que a nossa galera viva muito na nostalgia de uma adolescência que eles não viveram. “Hoje, você entra no TikTok, tem o pessoal querendo reviver a vibe de 2016, 2017 e dos anos 2000 no geral”, observa. Já o Instagram, que era um espaço para compartilhar momentos e interagir com os amigos, passou a ser uma espécie de vitrine da perfeição, minimalista e blasé. 

“Agora, se você tem cinco publicações no Instagram já é demais, precisa arquivar umas três, para ficar mais clean possível”, reclama Giovanna Feliponi, de 17 anos. “Para mim, não faz sentido. O Instagram é para colecionar memórias. Por que todo mundo agora quer ser um papel em branco?”, questiona. 

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Tiago Zani/CAPRICHO
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Mas como ser autêntico nessa era clean, então?

Matheus Farias, de 18 anos, sempre se sentiu autêntico, e a prova disso para ele é que as “pessoas se assustavam com a forma que ele agia”. “Eu fui uma criança bem problemática, diria, mas sempre me expressei muito bem”, conta.

Mas foi no ensino médio que aconteceu a grande virada para ele. “A minha aula começava às 7h, mas eu acordava umas 4h da manhã para fazer uma maquiagem diferente por dia, combinando com a unha”, relembra. “E mesmo não tendo nenhuma regra que impedisse isso, a coordenação sempre recebia reclamações sobre como eu me vestia e pedidos para que me proibissem de ir daquele jeito”, completa.

Já, para Karina Souza, de 17 anos, o conceito de autenticidade só começou a fazer sentido mesmo no ano passado, quando encontrou espaço para se expressar por meio da arte e ter sua voz escutada na escola. “Também foi o momento que eu me aproximei mais da CAPRICHO e entendi a importância de manifestar, desobedecer e ser você”, diz. 

Ela entendeu também que ser autêntico é “ter aquele estalo de perceber que o que você faz é diferente dos outros”. “Isso é criação minha, não é alguém que me impôs a fazer, eu quis”, afirma. 

Isabella Iori, 18 anos, diz que seguir o que você gosta e falar o que acredita é ser verdadeira consigo mesmo ‒ apesar de muitas vezes o mundo tentar te fazer o contrário. 

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Ela sentiu esse baque no primeiro emprego, em uma empresa bem tradicional. “Recebia muitos comentários, muitas vezes sexistas, sobre o estilo de roupa que eu usava”, conta e continua: “e eu nunca aceitei isso, porque sabia que aquilo era pelo meu jeito, ou pelas opiniões que tinha, mas sim pelo ambiente que eu estava”.

“Por isso queria que os jovens, incluindo eu, não tivessem medo de serem julgados, porque, às vezes, você pode servir de inspiração para alguém”, finaliza Beatriz Costa, 14 anos. 

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Tiago Zani/CAPRICHO

Então, seja você. 

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