Identidade

PERMISSÃO PARA CRIAR

Em entrevista à CAPRICHO, o letrista e diretor criativo Leandro Asiss hablou sobre processos, inspirações, relação íntima com a CH e muito mais.

por joao.barreto Atualizado em 17 mar 2025, 15h50 - Publicado em 30 jan 2025 13h00
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á imaginou fazer parte da Galera CAPRICHO e alguns anos depois, ilustrar uma capa da revista? Foi esse sonho adolescente que o designer carioca Leandro Assis, também conhecido como @lebasis nas redes sociais, realizou neste mês. Ele é quem dá o nome ao ilustrar a capa da nossa edição digital de janeiro, que explora os temas de criatividade e arte – algo que amamos por aqui e queremos que você ame também.

“Desenhar a capa da revista, assim, me levou para esse momento da minha vida que era mais simples e muito mais poderoso.  Onde parecia que eu tinha espaço para sonhar mesmo, sabe?”, contou o artista em papo remoto com a CAPRICHO.

Entre 2008 e 2009, Leandro participou da comunidade da Galera CAPRICHO no Orkut – aham, acredite. A participação de meninos não era tão comum como na galera de hoje, foram apenas alguns outros poucos participantes meninos que encontraram na CH um lugar de acolhimento para se expressar e trocar mais sobre temas que os interessavam. 

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“Naquela época eu não conseguia trocar tanto com as pessoas à minha volta sobre séries que eu assistia, as músicas que eu ouvia, sobre arte, sobre o entretenimento em geral, sem sofrer esse preconceito de: ‘Nossa… Você assiste isso?’. Então, eu realmente acredito que a CAPRICHO teve um papel essencial ali, de quase uma amiga, sabe? Para trocar sobre o cotidiano, sobre as coisas que eu curtia de ler, de fazer.”

O letrista e diretor criativo é conhecido por seu traço autêntico, sempre colorido e gráfico, que mistura elementos nostálgicos, expressivos e diversos. Ele compartilhou que essa assinatura maximalista foi muito inspirada pelos projetos gráficos da CAPRICHO e pela MTV. Ambos os veículos, sempre trabalharam com tipografias e elementos atuais e com uma mistura de cores, fontes e texturas. 

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Leandro Assis/CAPRICHO
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Você pode até não saber, mas com certeza já deve ter esbarrado com o trabalho dele por aí: seja no seu reality show que você ama, na capa do álbum do seu artista preferido ou em embalagens de refrigerantes e sorvetes. É dele o logo que ilustra a abertura de RuPaul’s Drag Race e, também, o Tudum, da Netflix, tá?

Mesmo com grandes clientes e um estilo bem definido, todo artista tem suas questões, suas formas de solucionar projetos, inspirações íntimas e conselhos para repassar. Como ele encontrou seu estilo? Como exercita a criatividade? E é isso que vamos descobrir juntos ao longo desta entrevista. Continue com a gente, vale a pena.

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JUST TRUST THE PROCESS

O

s projetos pessoais sempre foram parte importante do processo criativo de Leandro. Seja com letterings postados todos os dias em sua conta do Instagram – quando queria se especializar e entender mais a técnica de desenhar letras – ou com adesivos com expressões do pajubá (linguagem de identidade para pessoas LGBTQIAPN +).

Foram nesses momentos que ele começou a perceber alguns padrões de ilustração e de combinação de cor que o ajudaram a entender seu estilo próprio. Desde quais eram suas manias e até quais regras gostaria de subverter dentro da lógica do design.  “Não busquei um estilo tipo, nossa, eu tenho que fazer esse estilo porque tá na moda. Era um estilo das coisas que eu mais percebia na minha produção”. Isso o fez entender que talvez o que antes era visto como fraqueza ou como erro poderia ser seu trunfo.

Contudo, com esse nível de produção, às vezes encontrava-se com um fantasma temido com muitos artistas: o bloqueio criativo (e sabemos que você aí do outro lado da tela já deve ter passado por isso também, mesmo sem trabalhar com arte).

Para evitar essa frustração, aprendeu a estabelecer um jeito para que isso acontecesse com menos frequência. “Se eu tenho 5 dias para fazer um projeto, eu divido esses dias e entendo que eu não preciso resolver tudo num dia só. Para mim, fica mais leve. Em um dia eu tenho as ideias, no outro eu rascunho, no outro eu boto cor, no outro, eu vou refinando. Cada dia tem um propósito.”.

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E às vezes você não vai solucionar o projeto, às vezes você só vai querer escrever ele, ou às vezes você vai querer desenhar coisas bonitinhas com coração.

Leandro Assis, letrista e diretor criativo

Momentos de ócio e de pausa também se mostraram muito importantes para ele. Você nas férias às vezes lê vários livros atrasados ou começa a fazer algo que você não conseguiu durante o ano escolar todo? Então! 

“Nesses dias que eu tô vendo que não tá dando muito certo, saio e vou ver um filme que eu quero ver. Entender que isso também é parte do meu jeito criativo. Às vezes é levantar, fazer algum lanche e depois voltar, que eu vou ver aquilo de outra forma.”

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BECAUSE ITS IN THE MUSIC

É

muito comum a relação de artistas com outras formas de arte como admiradores ou até mesmo praticando diferentes hobbies – inclusive listamos alguns exemplos em uma matéria a seguir, não deixe de ler. Isso se dá pela curiosidade e pela necessidade de experimentação dentro do fazer artístico. No caso do Leandro, isso acontece com a música. Ele criou até uma playlist para ouvir e se inspirar para desenhar a nossa capa. 

Uma artista que não sai do seu repeat é a Tinashe. A multiartista norte-americana o inspira em vários sentidos. Hoje, ela participa de todas as etapas de seu o processo artístico –coreografia, produção musical, direção artística – como artista independente depois de um boicote da sua antiga gravadora. 

“Gosto muito dessas artistas que conseguem ser muito pop, mas ainda assim manter a experimentação. Uma coisa que a FKA Twigs e a Janelle Monáe fazem muito bem também. Eu vejo nessas outras artistas menores uma permissão para ser e para criar que me inspira muito.”

Além de já ter trabalhado em parceria com diversas cantoras e grupos como Lizzo, Iza, Heavy Baile e Britney Spears, seu trabalho mais recente foi a capa do novo álbum de Tássia Reis que foi indicada categoria “Capa do Ano” no Prêmio Multishow, rendendo a primeira indicação da artista na premiação. Ele relata justamente o poder que as duas formas de expressão tem quando unidas em um mesmo projeto: “Gosto muito dessa união do design com a música, porque eu realmente acho que tem muita similaridade e pode ajudar muito a chegar em mais lugares”. 

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Mas foi recentemente que esse interesse por música ganhou outro nível por meio do estudo de produção musical. “Antes era uma coisa que eu ouvia sem muita intenção e agora eu quero entender um pouco mais sobre como funciona”. Isso mostra não só importância de praticar atividades sem uma necessidade produtiva ou de resultado direto, mas também como processo investigativo da própria subjetividade. “Nesse processo voltei a tocar piano”, afirma.

CHEGOU ATÉ AQUI?

Leia a entrevista completa e o restante da edição digital de CAPRICHO no GoRead, a maior banca de revistas digital do Brasil.

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