Midsize: o que é o termo que pode transformar uma jornada de amor-próprio?
As influenciadoras Gabs Floquet e Mayra Fernandes contam como essa palavra as ajudou a enxergar seus corpos com mais carinho
Nem gorda, nem magra. Você já ouviu falar em ‘midsize’? A palavra, que significa ‘tamanho médio’ em português, surgiu com o objetivo de gerar identificação em pessoas que têm corpos curvilíneos mas vivem em um ‘limbo’ entre o que é considerado um corpo magro padrão e um corpo gordo plus size. “O termo traz um acolhimento, um pertencimento. É muito mais do que se colocar em uma caixinha específica“, afirma a influenciadora Gabs Floquet em entrevista à CAPRICHO.
E pode ser que, como aconteceu com a influenciadora Mayra Fernandes, assim que você entender o que é ser ‘midsize’, a sua história de amor-próprio fique mais completa. “Quando eu descobri esse termo, toda a minha trajetória, desde a minha adolescência, fez sentido“, conta ela. Conversamos com essas duas criadoras de conteúdo para explorar esse assunto de autoestima e aceitação do próprio corpo a partir da descoberta da categoria ‘midsize’.
O que é ‘midsize’ e como se identificar com esse termo?
‘Midsize’ é um termo que surge quando falamos sobre roupa e indústria da moda, pois costuma compreender pessoas que usam numeração entre 44 e 48. “Mas, tamanho de roupa é muito relativo, e, por isso, para mim, o ‘midsize’ virou mais um movimento do que apenas um enquadramento de tamanhos. Tem muito a ver com o biotipo da pessoa, porque uma pessoa pode ser magra e usar 40, 42 ou 44, por exemplo”, comenta Gabs Floquet.
A experiência de se identificar com esse grupo é íntima e pessoal, segundo a visão de Mayra Fernandes. “Você pode se identificar se você tem esse sentimento de não se sentir pertencente nem a um lado e nem a outro, se você não consegue dizer se é gorda ou se é magra. Caso você se sinta no ‘limbro’ entre o 44 e o 48, porque o 50 já é considerado plus size, pode ser que você seja midsize.”
Embora ainda possa ser alvo de comentários gordofóbicos, é importante lembrar que a pessoa que se encaixa nessa categoria ‘midsize’ não sofre com falta de acessibilidade e de inclusão.
O surgimento da palavra ‘midsize’ foi importante ou é apenas mais um rótulo sobre os nossos corpos?
“O termo traz um acolhimento, um pertencimento. É muito mais do que se colocar em uma caixinha específica. Me deu a oportunidade de conhecer outras mulheres que têm um corpo parecido com o meu, que vivem questões semelhantes às minhas e que eu posso me inspirar, assim como eu acabei virando uma mulher que inspira outras mulheres, na moda, na autoaceitação, no exercício físico”, relata Gabs. “Na internet, ou você via mulheres magras, e aí você não se identificava com elas, ou também as mulheres gordas plus size que já estavam populares e arrasando demais nos conteúdos, e realmente essas criadoras me ajudaram a me sentir confortável com o meu corpo, que não era magro padrão. Mas, eu ainda não conseguia me identificar totalmente, porque não era tão grande quanto elas, então a roupa tinha um caimento diferente e a experiência delas na vida e na sociedade era muito diferente da minha. Por mais que eu ainda sofresse algum tipo de gordofobia, era muito diferente do que as mulheres gordas plus size passam todos os dias. Então, ao ver esse termo pela primeira vez, eu falei: ‘Encontrei o meu grupinho'”, completa.
É um movimento de amor-próprio e de autocuidado que te permite entender que você não está sozinho nessa.
Mayra Fernandes
Mayra também reforça essa ideia de que o intuito da expressão é promover um espaço seguro. “O ‘midsize’ mudou a forma como eu me olho no espelho e fez sentido tudo o que eu passei na adolescência. Tá tudo bem eu estar no meio do caminho. Então, não acredito que seja um rótulo, é muito mais um movimento de amor-próprio, de autocuidado, de entender que você não está sozinho nessa e que não tem nada de errado com você.”
Como foi sua trajetória de amor com seu corpo e de descoberta do termo ‘midsize’?
Mayra relembra que sempre foi uma ‘menina grande’ e que, devido à pressão estética enraizada na sociedade, sempre estava fazendo dieta e, por ser ginasta, desejava alcançar o corpo magro padrão de uma atleta. “Eu tinha muita vergonha do meu corpo, tentava escondê-lo de todas as formas. Morria de vergonha do meu peso, de falar a minha numeração de calça. Os números me deixavam entristecida, e, hoje, falo deles abertamente, pois foi o que me trouxe até aqui. […] A vida inteira passei fazendo dieta e com medo de engordar, mas, hoje, me sinto 100% realizada com o meu corpo e estou sempre em busca da minha melhor versão, independente do meu peso. Estou vivendo uma das melhores fases da minha vida e trabalhando isso cada vez mais.” E, quando ela descobriu o termo ‘midsize’ através do TikTok, foi um alívio. “A minha busca pela magreza a qualquer custou chegou ao fim. Foi um respiro, de fato. E, aí, eu comecei a me cuidar por mim.”
Quando você começa a entender que você não precisa se odiar, você para de se maltratar para tentar atingir um padrão específico.
Gabs Floquet
Gabs recorda de sua infância e adolescência ouvindo que ser magra era uma necessidade. “Tinha aquilo de que, se eu não fosse magra, ninguém nunca iria me amar. Eu andava me escondendo, tinha horror de mostrar minha perna, minha celulite, meu braço, minha barriga, tudo. Então, quando me deparei com a ideia de que não precisava odiar o meu corpo, que o tamanho dele não define o meu valor, vendo mulheres gordas se mostrando, foi um grande empoderamento para eu começar a entender que eu não precisava ser magra para ser gostada. E, quando você começa a entender que você não precisa se odiar, você para de se maltratar para tentar atingir um padrão específico. Eu fui me olhando no espelho todos os dias e falava ‘Tá tudo bem com esse corpo e ele é digno de ser gostado’. Até que isso entrou na minha cabeça. Não teve um passo de mágica, é um exercício diário. Até chegar hoje, que estou completamente confortável com o meu corpo, foi todos os dias quase como um mantra, uma afirmação.”
Ao encontrar o termo ‘midsize’ em 2021, um mundo de possibilidades se abriu. “Agora eu consigo pesquisar referências no Pinterest de looks que sejam pensados para o meu tipo de corpo e buscar marcas que vendem roupas pensadas para mim. Descobri o termo em uma publicação de uma amiga, e ela me ajudou. Aí, como era um assunto muito novo, eu vi uma oportunidade de ajudar as pessoas e ser uma referência nas redes sociais sobre esse assunto”, conta Gabs.
Conselhos para quem busca ver seu corpo com mais carinho em uma jornada de autoaceitação
Para finalizar, as duas influenciadoras dão conselhos para pessoas que vivem altos e baixos com o próprio corpo, mas querem se enxergar com mais carinho e amor. Ambas sugerem seguir pessoas nas redes sociais que podem ser uma referência no seu processo de autoaceitação. “Siga pessoas semelhantes a você, porque a comparação é inevitável. Quando fiz isso, passei a enxergar beleza em corpos parecidos com o meu, e, consequentemente, ao me olhar no espelho, comecei a falar: ‘Nossa, eu também sou muito linda'”, afirma Mayra Fernandes.
Outro ponto abordado por elas é que esse processo não será simples; a autoaceitação vem devagar e melhora um pouquinho a cada dia. “A gente passou muitos anos sendo expostas à ideia de que o certo é ser magra. Então, para desconstruir esse aprendizado não é do dia pra noite. Um dia você se sente muito bem, e no outro não. É um processo, não é simples, mas você não está sozinha. Para mim, a parte mais importante é essa possibilidade de eu não precisar me odiar. Porque, às vezes, é muito duro já chegar falando: ‘Nossa, eu preciso me amar’. Você pode começar não se odiando. Quando você não odeia, você para de maltratar e começa a cuidar, e aí o seu amor por aquilo cresce e começa a aparecer. Seja mais gentil com você e não se cobre esse auto-amor instantâneo. Dê um passo de cada vez“, finaliza Gabs.