Styling e beleza de Tasha & Tracie na capa da CAPRICHO é pura identidade

ara falar sobre o presente e olhar para o que está por vir, é preciso honrar o passado. Por isso, resgatar o orgulho ancestral da cultura negra foi essencial para conceber os conceitos de moda e beleza que elevam as fotos da dupla Tasha & Tracie na revista impressa de julho da CAPRICHO.

O ponto de partida foi o movimento de contracultura, resistência e afirmação negra dos Rude Boys e Rude Girls. Ele surgiu e se consolidou na Jamaica nos anos 1960 e 70 e é lembrado por jovens que adotaram roupas sofisticadas e que foram influenciados, na música, por ritmos como ska, reggae, jungle e drum and bass, por meio dos quais o movimento permanece vivo na cultura contemporânea.

Pedro Moura, que assina os looks de Tasha & Tracie, conta que cada composição representa uma faceta dessa história e de sua ressignificação atual. Em meio a alfaiataria desconstruída, acessórios imponentes e tecidos que evocam emoções, ele se preocupou em reunir uma curadoria de peças desenvolvidas por marcas que dialogam com essa narrativa, além de garimpos em brechós, que, com um olhar apurado, constituem uma história autêntica.

Com presença e potência, o primeiro look se inspira no dandismo negro, posicionamento que vai além da estética e revela cunho político e cultural. Trata-se de uma manifestação que tem sua origem no contexto da diáspora africana e propõe a aplicação da moda como instrumento de luta para subverter narrativas coloniais. Na alfaiataria e no estilo de vida refinado, surge um protesto silencioso contra o racismo e um meio de afrontar normas sociais que resiste como reafirmação da identidade negra até hoje.

“Não é apenas uma questão estética, mas uma estratégia visual de subversão”, descreve o stylist. “Utilizamos silhuetas e acessórios com peso visual e uma elegância provocadora que ressignifica símbolos históricos de poder, como alfaiataria e joalheria”, completa.

A banda feminina de reggae The I-Threes, formada pelas backing vocals de Bob Marley & The Wailers, foi uma das grandes inspirações da artista Steyonce, responsável por idealizar o cabelo e a maquiagem das rappers que protagonizam nossa capa. Outra referência mais recente que também surgiu na hora de escolher e visualizar as amarrações de turbante, adereço de cabeça que traz o simbolismo de resgate da identidade negra, foi a cantora norte-americana Erykah Badu, uma das vozes mais icônicas do neo-soul que transcende gerações.

Na maquiagem, a aposta foi valorizar os rostos, que estariam mais visíveis por conta do turbante. “Queria que o formato dos rostos delas ficasse bem acentuado. Para isso, apostei em uma pele iluminada e em um olhar mais dramático, além dos ombré lips, que são uma marca registrada delas e fazem parte da identidade visual da cultura negra desde os anos 90”, relata a beauty artist.

Em seguida, trabalhamos códigos que retratam a veia rebelde das piratas negras, que representam uma ruptura de barreiras por meio da desobediência civil. “Optamos por casacos robustos, sapatos e cintos marcantes, texturas de tecidos e sobreposições que remetem à proteção e à potência. É um visual que carrega tanto a força da rua quanto a ideia de liberdade e aventura”, analisa Pedro.

Essa característica desbravadora também aparece nos acessórios dourados, que, inclusive, fazem parte da identidade de Tasha & Tracie, colocados nos cabelos. Na maquiagem, a ideia foi explorar elementos criativos com delineados gráficos que simbolizam a personalidade de cada uma. “Na Trace, preferi um delineado um pouco mais reto, enquanto na Tasha usei um pouco de rosa e mais linhas para retratar essa vibe fofa que ela transmite”, explica Steyonce.

A mensagem que queremos transmitir é de potência, legado e liberdade estética.

Pedro Moura, stylist

Por fim, a terceira produção incorpora uma linguagem urbana do street style, com o intuito de refletir a irreverência e o pulsar das ruas. Segundo o stylist, “essa influência reforça a conexão com o presente, com os modos próprios de existir e resistir dentro dos espaços urbanos”.

“A mensagem que queremos transmitir é de potência, legado e liberdade estética, mostrando que o estilo pode ser uma ferramenta poderosa de afirmação política e cultural”, acrescenta Pedro Moura.

“O resultado mostra a identidade das artistas como pessoas individuais. Elas são um duo, são gêmeas, mas ainda assim muito diferentes, cada uma com seu jeitinho”, adiciona Steyonce. “E essas fotos vão reverberar entre as novas gerações, as gerações que já vieram e até entre quem acompanha as artistas desde a época do blog [Expensive Shit], assim como acompanhei e vejo elas crescendo agora. O impacto de ver muitas referências culturais negras juntas é gigante”, conclui.

O impacto de ver muitas referências culturais negras juntas é gigante.

Steyonce, beauty artist

O compilado escolhido a dedo de acordo com os conceitos propostos caminha ao encontro da identidade de Tasha & Tracie, mulheres pretas de quebrada que inspiram a juventude com sua arte e ativismo pioneiros. Como dizia o slogan do blog Expensive Shit: “Somos África, rap, rua! E não damos a mínima pra suas etiquetas”.

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