“O que importa é apoiar uma à outra”: a sororidade por meio do esporte

Motivar o maior número possível de garotas, ajudar as parceiras e até mesmo torcer pelas adversárias: isso é espírito esportivo - e isso é ser mulher!

Por Isabella Otto Atualizado em 29 out 2024, 18h51 - Publicado em 19 mar 2023, 10h01

Imagina estar na mesma sala que Rayssa Leal, Julia Rosado, Sophia Medina, Etiene Medeiros e Raíssa Machado? Na última terça-feira (14), em São Paulo, tivemos essa oportunidade. À convite de Nestlé, a CAPRICHO conferiu a apresentação da Liga Esportiva NESCAU® 2023 e de seus embaixadores.

A maior competição estudantil do Brasil e a primeira a unir esportes convencionais e paralímpicos chega a sua 8ª edição com o objetivo de atingir mais de 35 mil pessoas, garantindo 52% de participação feminina e 7% de crianças e adolescentes com deficiência.

Julia Rosado, de 13 anos, mais conhecida como “Jujugol”, ganhou destaque justamente após participar da liga. Hoje, a jogadora do Corinthians, artilheira e campeã mundial de futsal é uma das maiores promessas do futebol feminino brasileiro.

 

Em entrevista para a CH, ela, que começou jogando futebol em times masculinos, relembrou a primeira vez em que entrou em campo para treinar apenas com meninas. “Foi uma experiência incrível! Eu não estava acustumada com aquilo, com aquele ambiente. Fiquei feliz de ter encontrado um lugar e hoje eu olho para trás e acho que foi importante toda essa minha jornada, porque abriu portas para muitas outras meninas”, conta.

O esporte é uma importante ferramenta educacional – e, mesmo que você não goste de Educação Física, precisa concordar com isso. Para além das pessoas que são impactadas diariamente pelo esporte e têm suas vidas transformadas, a prática da atividade física tem tudo a ver com movimentos sociais, como o feminismo. Não, não é loucura! Ter espírito de equipe, saber viver em grupo, trabalhar a coletividade, respeitar limites e processos, e impulsionar pessoas têm relação com o conceito de sororidade.

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“O esporte me ajudou muito em questão de apoiar o movimento feminino e as mulheres. Eu sempre acho muito lindo ver mulheres na água, porque, normalmenete, a gente vê mais homens no mar. Então, quando eu vejo um mar cheio de mulheres, eu fico superfeliz. E a gente apoia uma à outra, sabe? E na competição também, porque é isso: a gente acaba passando pelas mesmas coisas”, conta Sophia Medina, de 17 anos, bicampeã do Grom Search no Rio de Janeiro e campeã do QS 1000 da da World Surf League Latin America.

Para a surfista, na escola, muitas vezes as garotas acabam aprendendo sobre rivalidade e individualidade: “Eu senti muito isso quando era menor. Outras meninas competindo comigo onde nem deveria haver competição. Então, quando eu fui realmente para o mundo competitivo, vi que o que importa realmente é apoiarmos umas às outras, especialmente em lugares onde ainda somos minoria – mas estamos virando maioria!”

Rayssa Leal, de 15 anos, campeã mundial de skate street e medalhista olímpica, viveu coisa parecida, mas durante sua participação na Olimpíada de Tóquio 2021. Ela disse que ouviu muitas pessoas falando que estavam torcendo para as adversárias caírem, para ela ganhar. “Mas eu, na verdade, estava torcendo para elas acertarem, porque skate é isso: a gente gosta de ver as manobras, a gente é uma família, e eu fico muito feliz de estar levando isso comigo. A gente está aqui para se ajudar e se apoiar independente da situação“, garante.

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Para Etiene Medeiros, 31 anos, campeã mundial de natação e fundadora do Instituto Etiene Medeiros, o fato de ter sido coroada diversas vezes como pioneira em um esporte que nem sempre tem a visbilidade que ela gostaria, especialmente a feminina, lhe trouxe a possibilidade de dialogar pautas temáticas com outras mulheres. “Fora os valores olímpicos do esporte e como ele ajuda a educar, a gente carrega outra coisa muito importante, que é falar sobre a questão feminina, que por muitos anos não foi falada e que por muitos anos nós fomos vetadas de praticar esportes“, explica a nadadora, que, neste ano, vai focar no seu Instituto e continuar trabalhando como atleta, mas não mais de alta performance.

A recordista mundial de lançamento de dardo e atleta paralímpica Raíssa Machado, de 26 anos, acredita que tanto o esporte quanto o feminismo são oportunidades para as mulheres trabalharem a autoestima, defenderem suas ideias e correram atrás dos seus sonhos, independentemente do que as pessoas vão achar ou deixar de achar. “O esporte me ensinou o autocuidado, e ele ensina outras mulheres a se amarem e se respeitarem do jeito que são. O amor próprio é tudo e o esporte proporciona isso. O esporte salvou a minha vida“, emocionou-se a atleta.

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Além de incentivar a prática esportiva dentro das escolas, Raíssa acredita que a revolução caminha lado a lado com a inclusão: “Infelizmente, as pessoas falam de inclusão, mas ela precisa ainda melhorar muito. Nós precisamos começar com coisas mínimas, que deveriam ser básicas nos dias de hoje: uma rampa, adaptação para pessoas com deficiência visual e auditiva… Começar com pouco dentro das escolas, principalmente, porque não é à toa que hoje ainda temos poucas pessoas com deficiência dentro de salas de aula.”

“O mundo é muito cruel, então é importante a gente ajudar umas às outras”, acredita Julia Rosado, que está empolgada para assistir à Copa do Mundo de Futebol Feminino 2023, que começa no dia 20 de julho, na Austrália: “A questão do machismo está melhorando, o que me deixa muito feliz. Eu busco motivar o maior número de mulheres que eu consigo e o esporte me possibilita isso.”

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