‘Quem tem que ter medo são eles’, diz Felca sobre ameaças no Altas Horas
Felca falou pela primeira vez sobre o efeito de seu vídeo na prisão de Hytalo Santos e no debate público sobre a questão, que chegou até o Congresso.
influenciador Hytalo Santos e seu marido, Israel Nata Vicente, foram presos em São Paulo, na última sexta-feira (15), após denúncias de exploração de menores ganharem repercussão.
Tudo começou quando o youtuber Felipe Bressanim Pereira, o Felca, publicou, em 6 de agosto, o vídeo com o título Adultização, no qual expõe forma preocupante com que crianças têm sido sexualizadas nas redes sociais e menciona diretamente Hytalo e toda sua rede de produção de conteúdos. Desde dezembro de 2024, Hytalo já era investigado pelo Ministério Público da Paraíba (PB), pelo mesmo motivo.
No programa Altas Horas, que foi ao ar no sábado (16) com Serginho Groisman, Paolla Oliveira, Gloria Groove e outros convidados, foi a primeira vez que Felca falou sobre o efeito do vídeo na prisão do influenciador e no debate público sobre a questão, que chegou até o Congresso.
+Felca faz repensar o papel social que influencers têm (ou deveriam ter)
Com convicção, ele destacou que, “se você não sente indignação, você não é um ser humano. Eu, como senti e tinha um público, simplesmente liguei a câmera e falei.”
Felca contou que recebeu ameaças após a publicação e disse que, mesmo assim, ele e sua equipe sabiam que falar sobre um tópico tão sensível causaria reações intensas. “[Recebemos] Algumas ameaças, sim, algumas críticas, movimentos de difamação de tentar descredibilizar. Eu e meus amigos sabíamos o que estávamos fazendo, que era grande, tudo era esperado.”
“Não é sobre mim, eu como pessoa. É sobre a causa, mesmo”, enfatizou. “É muito importante falar sobre isso. E eu observei que essa produção de conteúdo na internet tinham pedófilos consumindo conteúdo. Inicialmente, parecem vídeos inocentes, de crianças dançando e brincando. Mas havia pessoas cantando essas crianças.”
Com firmeza, ele se posicionou disse que quem realmente deveria ter medo são aqueles que se beneficiam de situações como essas, como as big techs e os que produzem esse tipo de conteúdo visando monetização nas redes sociais. “É um convite para entender que vocês têm voz. Existe um poder nas pessoas. Você ver que está errado e falar sobre. Existe ‘bondeza’ no mundo.”
Segundo ele, o mais difícil em todo o processo foi reunir as informações. Ele ficou um ano trabalhando em cima da questão. “É um tema tão aversivo, que você não consegue ficar bem. Eu ficava com tanta agonia, tanto amargo. Pela minha saúde mental, eu precisei fazer isso devagar. E eu tô super realizado, muito satisfeito disso poder gerar alguma mudança”.
Mas a repercussão não foi só positiva. “Talvez venham ameaças, alguns processos, pessoas insatisfeitas com o que fiz. Existem pedófilos — e isso é delicado de falar — que se incomodaram pessoalmente por quebrar o esquema de pedofilia deles, vão se sentir atacados e bater de frente, mas, sinceramente, quem tem que ter medo são eles, não uma pessoa que está denunciando.” O influenciador também dará uma entrevista ao Fantástico, da TV Globo, que irá ao ar no próximo domingo (17).
No Altas Horas, Felca ainda compartilhou que começou a produzir conteúdo aos 12 anos, mas que seus pais acharam que era muito cedo. “Eu não entendi, fiquei meio revoltado por um tempo, mas hoje quando eu olho para trás eu entendo muito bem e agradeço meus pais”, disse. Só em 2019 é que ele voltou a produzir conteúdo na internet.
“É muito fácil sair de uma animação para um conteúdo não apropriado nas redes sociais. E se você é um pai ou mãe ocupado, que não consegue acompanhar, eu digo para proibir [o uso]. E eu acho que criança não deve produzir conteúdo na internet. A exposição não é fácil de lidar. Tem a ver com pessoas comentando sua aparência, falando sobre você. Criança não está preparada para isso.”
Felca ainda lembrou que existem mecanismos de proteção à infância e adolescência, como o ECA (Estatuto da Criança e Adolescente) e outras leis para proteção. “Eu acho que o melhor é a iniciativa do indivíduo de denunciar, procurar, ir atrás, denunciar o que está vendo na internet e, se tudo der certo, a gente consegue uma mudança no algoritmo, para que isso não consiga chegar até ninguém.”
A denúncia de Felca que furou bolhas
Em seu vídeo, Felca aponta que Hytalo produz conteúdos sexualizando crianças e adolescentes, inclusive com o objetivo de atrair um público adulto com interesses “predatórios”.
Ele chamou o material de “nefasto” e classificou toda a situação como um verdadeiro “circo macabro”. Ele destacou, em especial, o caso de Kamylinha — que começou a participar da “turma” de Hytalo aos 12 anos — afirmando que a exposição excessiva resultava em aumento de engajamento para ele.
O influenciador ainda reforçou que o perfil de Hytalo cria um ambiente desconfortável e impróprio ao ambientar os menores em situações com consumo de álcool e insinuações de intimidade, criticando o uso da imagem delas como estratégia digital, feita para monetizar e gerar dinheiro
Em seus vídeos para o canal do YouTube, Hytalo mostra os menores se beijando, faz perguntas como “já pulou a cerca?”,” já pegou mais de quatro na balada?” e “já sentiu vontade de ficar com pai, mãe, primo ou tio de um amigo?”.
Após a publicação, a empresa Palver, que monitora mais de 100 mil grupos em plataformas de conversa, identificou que as menções ao caso superam as que o deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) teve em janeiro deste ano, com um vídeo em que disseminava informações enganosas sobre o Pix (caso você não lembre, clique aqui).
“Quem tem que ter medo são eles, não uma pessoa que está denunciando, quem tem que ter medo são os pedófilos”
Felca, em entrevista ao Altas Horas
Em suas redes sociais, Hugo Motta, presidente da Câmara, disse que o vídeo “chocou e mobilizou milhões de brasileiros” e ainda prometeu transformar essa inquietação popular em ação legislativa. “Conte com a Câmara para avançar na defesa das crianças”.
Vários projetos já tramitam no Congresso visando a regulamentação da presença de menores de idade nas redes. Um dos principais é o PL 2628/2022, aprovado no Senado, e continua aguardando análise na Câmara.
Essa proposta determina que empresas de tecnologia com riscos potenciais a crianças e adolescentes devem cumprir um “dever de cuidado”, removendo imediatamente conteúdos considerados ofensivos e atuando com transparência em seus mecanismos de denúncia — sem necessidade de ordem judicial.
Outro foco pode ser a criação de mecanismos legais que responsabilizem criadores de conteúdo e plataformas, além de promover a educação digital dos usuários para coibir práticas abusivas de “adultização”.
Ou seja, ainda muita coisa vai rolar sobre o tema, viu? Acompanhe aqui na CAPRICHO que vamos continuar te explicando esse cenário complexo assim que tivermos novidades.
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