Padrão Tate Langdon: o bullying pode transformar vítimas em assassinos?

Em outubro, um garoto atirou nos colegas em um colégio de GO. O comportamento se repete pelo mundo e o bullying é sempre citado. Mas será que há relação?

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 10h10 - Publicado em 28 set 2018, 15h02

Em 1994, o jovem Tate Langdon entrou armado na escola e cometeu um tiroteio em massa. 15 alunos foram assassinados. A tragédia aconteceu em Westfield High, um colégio dos Estados Unidos – mas não é real. Como assim? Bom, na verdade, você acabou de conhecer a história do personagem interpretado por Evan Peters na primeira temporada de American Horror Story. A temática do adolescente que entra armado e atira em seus colegas é muito comum em filmes e seriados norte-americanos, pois essa é, infelizmente, uma coisa corriqueira nos EUA. No Brasil, em outubro, uma história parecida com a de Tate assustou os brasileiros. Um garoto de 14 anos entrou armado no colégio em que estudava, em Goiânia, e atirou nos alunos. Segundo os pais, o adolescente sofria bullying.

Tate (Evan) em foto promocional de Murder House, primeira temporada de AHS. Reprodução/Reprodução

Tate Langdon, apesar de ter sido um adolescente bastante retraído, não sofria bullying. Pelo menos, a série não deixa isso claro. Contudo, ele tinha vários problemas familiares, que são usados como o gatilho para a drástica atitude tomada pelo rapaz. Mas será que sofrer bullying pode mesmo fazer com que a pessoa sinta que a única saída é matar a si mesmo ou os outros? Araceli Albino, doutora em Psicologia pela Universidade Del Salvador, garante que não. Casos do tipo, como o de Tate, são classificados como psicopatia. “O psicopata tem uma questão fundamental: ele é um sujeito anti-social e não vê o outro nem para praticar bullying. O outro é apenas um objeto que ele usa para chegar aos seus fins”, esclarece a especialista. Ou seja, apesar de o bullying poder intensificar tal quadro, não dá para culpá-lo unicamente.

O meio em que a criança vive é decisivo para a construção de sua personalidade e, na maioria das vezes, a escola pode ser cruel. Outro caso que ganhou destaque em 2017 foi o de Keaton Jones, um garotinho do Tennessee que comoveu a internet com o seu relato sobre bullying. “Por que vocês sentem alegria em ser malvados com pessoas inocentes?”, questionou a criança. Araceli Albino, na realidade, tem uma possível explicação para isso. De acordo com a psicanálise, ao praticar bullying, o agressor está colocando no outro o que ele tem dentro de si. É como se o agressor estivesse projetando suas frustrações e inseguranças na vítima, que, na maioria das vezes, é mais fraca. Esta, é claro, é apenas uma das análises. “O bullying aparece mais nas escolas porque existe um maior número de pessoas, com suas singularidades, que se relacionam todos os dias, e o alvo é identificado pela sua fragilidade. Quanto mais frágil, melhor é para os agressores prenderem suas vítimas”, explica a psicóloga.

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Araceli ainda acredita que o bullying praticado no colégio e fora de casa é uma extensão do que ocorre dentro do “lar, doce lar” – que nem sempre é assim tão doce. “É o grito da angustia que ninguém escuta ou enxerga. A escola deve intervir quando perceber que o bullying está ocorrendo em suas dependências. Deve acompanhar o caso, orientar os alunos, desenvolver programas de esclarecimento, falar com a família e fazer de tudo para evitar que tragédias maiores aconteçam”, afirma. Além disso, apesar de os adolescentes não serem preparados para lidar com casos do tipo sozinhos, já que muitas vezes não identificam o bullying como um perigo real, é importante ter o apoio emocional dos amigos: “a vítima deve ter colegas que o alertem e digam que ele precisa falar com um responsável, e o praticante deve ter parceiros que o façam perceber os perigos de suas atitudes e comentários, e que não entrem na onda dele”.

No geral, há dois tipos de bullying: o físico (como chutes e empurrões) e o psicológico (como insultos, comentários maldosos, fofocas). O bylluing, em qualquer um dos casos – inclusive no universo virtual -, leva a vítima à ridicularização . Nos anos 70, o psicólogo Dan Olweus investigou o aumento do índice de suicídio na população jovem sueca e o relacionou ao bullying, publicando o primeiro estudo científico sobre o tema. É claro que não dá para generalizar, mas seu dever como adolescente e estudante é ficar atenta aos casos que acontecem ao seu redor. “Temos que pensar na complexidade e particularidade de cada sujeito e de cada caso, lembrando que bullying é todo ato violento e agressivo (verbal ou físico), intencional e repetitivo que ocorre, sem motivos evidentes, deixando a vítima em uma situação de humilhação“, esclarece Araceli Albino.

iStok/jonathandowney/Reprodução
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A gente sabe que, muitas vezes, na tentativa de ajudar um colega, a pessoa acaba também se transformando em vítima e recebendo zoações da galera A gente também sabe que, de repente, o agressor acha que está apenas fazendo uma “piadinha” ou “brincadeirinha”. Mas com as taxas de suicídio crescendo consideravelmente entre jovens brasileiros, de acordo com pesquisas realizadas pelo sociólogo Julio Jacopo Waiselfisz, não dá para ignorar que o bullying pode, eventualmente, se tornar um gatilho e tanto para que Keatons Jones se revelem Tates Langdon.

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Divulgação/CAPRICHO

 

 

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