
Vítimas do racismo ambiental também querem uma vida normal e digna
Tragédias ambientais não são raridade, e o fato de pretos e pobres serem os mais afetados não é coincidência
É cada vez mais comum os noticiários (e a internet) mostrarem casos de catástrofes ambientais no Brasil e ao redor do globo. Mas você, leitor do Blog da Galera, sabia que o racismo pode estar associado a essas tragédias? Fica aí que você já vai entender!
Descumprindo o que a Elis e o Tom cantaram, as chuvas que eram para cair em março para fechar o verão, caíram nas primeiras semanas de abril no Rio de Janeiro e em outros estados. E ao invés de trazer promessa de vida em nossos corações, ela trouxe os mesmos velhos problemas que as cidades modernas vivem e mais uma prova da existência do racismo ambiental.
Para começar, vale explicar o conceito de racismo ambiental. Ele se refere à situação de degradação ambiental a que populações marginalizadas estão constantemente submetidas. Ou seja, sabe aquela rua que sempre enche quando chove muito ou quando casas são levadas pelo deslizamento de uma encosta? Então, essas tragédias acontecem com mais força e causam mais destruição em regiões onde a população que vive nela é pobre, em sua maioria, negra, e que não tem a atenção do Estado. O termo mostra como o racismo está associado não só a questões sociais, mas a questões de insegurança ambiental também.
As chuvas, cada vez mais intensas e comuns por conta das mudanças climáticas, trazem um medo e apavoramento nas pessoas socialmente vulneráveis. Quando tem alerta de tempestade nas cidades que sofrem com a insegurança ambiental, escolas liberam mais cedo ou suspendem as aulas, fica difícil de transitar nas ruas, os ônibus ficam mais lotados que o normal, lojas fecham e todas as engrenagens das cidades ficam a espera para ver o que vai acontecer quando a chuva cair.
O que acontece, todos sabem e não é diferente quando é em uma cidade ou em outra. A destruição é fácil de se ver e o dia seguinte é o dia mais doloroso. Nesse dia, também conhecido como “dia da limpeza”, começa o trabalho de ver o que foi perdido, substituir o que der, tentar reconstruir o que demorou muito para ser construído e entender que a vida a partir dali não vai ser mais do jeito que era. Mesmo com tanta destruição ao redor, vizinhos, familiares, amigos e até quem sofreu com as chuvas se juntam para ajudar uns aos outros e reconstruir o que foi destruído. O espírito de solidariedade se faz presente, mostrando que mesmo depois de tudo não perdemos a nossa humanidade e criando comunidades unidas.
A vida de quem sofre com o racismo ambiental é essa: sempre tentar ter uma vida normal e digna, mas sempre voltar à estaca zero quando uma tragédia climática acontece. Se torna desgastante quando esses casos saem da raridade e passam a ser recorrentes, a pessoa sente que a sua vida e sua história não tem valor para o governo, que não faz nada para promover melhoras.
É muito importante que mais pessoas entendam suas condições e seus direitos na esfera ambiental. A luta por mudanças é necessária, porque se nada muda, as mesmas tragédias acontecem e tendem a piorar. Devemos olhar para essas realidades (que podem estar muito próximas a nós) e as entender. Até por que como querer um mundo melhor, se não olhamos ao nosso redor e não buscamos melhorias?
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