
2025 já começou com o mundo pegando fogo (literalmente)
O meu desejo, para nós em 2025, é que a crise climática e as guinadas conservadoras (nas redes sociais e fora delas) não nos afoguem em tristeza.
“
As mudanças climáticas irão se manifestar como uma série de desastres vistos por meio de celulares com imagens que se aproximam cada vez mais de onde você mora até que você esteja filmando”.
Li a frase acima na semana passada, nas redes sociais, em referência às queimadas devastadoras e históricas em Los Angeles, nos Estados Unidos.
O evento climático por lá ocorre logo após cientistas apontarem que 2024 foi o primeiro ano em que a temperatura média global ultrapassou o nível pré-industrial em 1,5°C. Ou seja, o ano passado foi o mais quente da história desde a Revolução Industrial.
Aqui, do outro lado da América, enchentes ocorrem desde a semana passada no litoral catarinense, levando quatro cidades a decretarem situação de emergência.
Tudo isso em meio ao novo pronunciamento da Meta sobre suas novas políticas de uso e de checagem – as quais, basicamente, não irão mais existir. Combinadas com o negacionismo climático e a desinformação política planejada, esse é um prato cheio para a desmobilização em torno das medidas essenciais de combate à crise climática.
É, o ano de 2025 já começou com tudo acontecendo ao mesmo tempo. Se deparar com essa realidade aqui, nos EUA ou onde quer que seja, só reforça que existem chances reais de que eu (ou você, ou nós) sejamos as tais protagonistas reais dos eventos climáticos – como as secas, inundações, enchentes, calor extremo – a qualquer momento.
E vale reforçar que isso não é natural, mas tem causas sociais. Desastres são resultados construídos a partir de uma somatória de vulnerabilidades, algo que minha amiga e pesquisadora Valeriana Broetto sempre explica.
Ok, e agora? Existe saída?
Muitos podem depositar suas esperanças em espaços como a COP 30, que irá acontecer em menos de dez meses, no Brasil. Mas eu acredito mesmo é na cooperação radical, nas soluções que já existem nos territórios e nas possibilidades de adiar o fim do mundo.
Digo isso porque nos últimos dias de 2024 conheci a Reserva Extrativista (Resex) Chico Mendes, que fica em Xapuri, no Acre, e leva o nome do seu histórico defensor e um dos ativistas ambientais mais conhecidos do mundo.
Chico Mendes foi um seringueiro e sindicalista, assassinado defendendo a floresta amazônica e o Bem Viver. Sua luta originou a criação da reserva e também impulsionou novas políticas de proteção socioambiental no país.
Estar em seu território me permitiu testemunhar o que um legado é capaz de mover, manter e reivindicar. Sua história é um retrato da violência contra ativistas brasileiros, mas também uma memória essencial de que, embora os efeitos da crise climática avancem, nós não podemos recuar.
Em Xapuri pude relembrar: é preciso coragem para continuar, sabedoria para saber descansar, e resiliência para afirmar que sim, ainda há tempo. O meu desejo, para nós em 2025, é que a crise climática e as guinadas conservadoras (nas redes sociais e fora delas) não nos afoguem em tristeza, mas sim nos façam emergir na ação radical, transformadora e solidária.
Para conhecer: Rede Sul-Americana para Migrações Ambientais (RESAMA)
Para seguir: Comitê Chico Mendes