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Lívia Rocha
É uma das jovens líderes regionais da Girl Up Brasil, organização que treina, inspira e conecta meninas para serem ativistas pela justiça social.
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Amor é revolucionário e quem me ensina isso é bell hooks

Especialmente o amor preto

Por Roberta Gurriti 16 abr 2025, 13h55

Já faz um tempo que venho pesquisando sobre amor e como ele afeta pessoas pretas, o que pessoas pretas pensam sobre o amor e como ele acontece na prática. Bell Hooks já dizia que “Quando nós, mulheres negras, experimentarmos a força transformadora do amor em nossas vidas, assumimos atitudes capazes de alterar completamente as estruturas sociais existentes. Assim poderemos acumular forças para enfrentar o genocídio que mata diariamente tantos homens, mulheres e crianças negras. Quando conhecemos o amor, quando amamos, é possível enxergar o passado com outros olhos; é possível transformar o presente e sonhar o futuro. Esse é o poder do amor. O amor cura.”. Mas, ela também diz que diz que as mazelas do sistema escravocrata impactaram nossa forma de amar e que precisamos reconhecer que a opressão e a exploração distorcem e impedem nossa capacidade de amar.

Quando parei para pensar sobre os impactos do racismo no amor de pessoas pretas, na afetividade delas, me veio à cabeça como as mulheres pretas necessitam desses afetos na maioria das vezes. Bárbara Carine uma vez disse que muitos homens pretos que ascendem social e economicamente tendem a largar mulheres negras e as trocam por mulheres brancas, é verdade. Tem muitos exemplos que eu poderia dar mas, onde realmente quero chegar, é na questão de que por muito tempo lemos e assistimos séries e filmes onde o amor preto, mesmo que interacial, era pouco – ou quase nenhum – mostrado. Homens, mulheres, adolescentes negras não eram protagonistas de histórias de amor ou conto de fadas e isso nos influencia sim em como enxergamos o “final feliz” e/ou “o amor verdadeiro”. Falando por experiência própria, eu nunca achei que esse amor pudesse ser me dado porque não cresci vendo pessoas como eu vivendo romances clichês. Sou filha de pais separados e até os meus 13 anos a minha mãe nunca tinha casado novamente ou se envolvido com alguém, então tudo o que eu conhecia era o amor de uma mãe.

Meninas negras eram consideradas – como eu fui – as mais feias da sala ou a ponte para os meninos poderem chegar e pedir ajuda para ficar com a amiga branca. Nunca fomos protagonistas de nada. Nunca éramos as garotas no topo da lista de alguém – pelo menos eu não era e pessoas que eu convivi/convivo compartilham deste mesmo sentimento – e isso frustrou as nossas expectativas sobre o amor ao longo dos anos.

 

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“Saber-se negra é viver uma experiência de ter sido massacrada em sua identidade, confundida em suas perspectivas, submetida a exigências, compelida a expectativas alienadas. Mas é também e, sobretudo, a experiência de comprometer-se a resgatar sua história e recriar-se em suas potencialidades.” – diz Neusa Santos Souza, psiquiatra, psicanalista e escritora brasileira.

Muita gente diz que amor não tem cor, que todos amam baseado no afeto, na paixão, na atração mas, o que estes podem dizer sobre afetos sendo negados a pessoas pretas por ser quem são? Pela cor de sua pele? Onde a mulher negra é objetificada e tratada apenas nos sentimentos sexuais, mas nunca a mulher que eles querem apresentar para a família, casar. O amor afrocentrado já muda muito a minha percepção, mas dentre tantas relações mal executadas,  é o tipo de amor que chega quando uma mulher preta já não tem mais esperanças de ser amada, claro que isso não é unânime mas, dentre minhas conversas e pesquisas com pessoas que pararam de se relacionar com pessoas brancas e agora mantém apenas relacionamentos afrocentrados, é isso que acontece.

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Conheci muito da afetividade entre pessoas pretas quanto família, cônjuges quando comecei o meu relacionamento com um homem preto há 4 anos. Apesar da minha família também ser inteira preta, não é como a dele que vive suas raízes e ascentralidades e foi então que entendi um pouco como funcionava as relações e vivências de pessoas pretas. E achei o máximo ver a maioria deles morando em países afora, vivendo com qualidade de vida e vivendo suas raízes mesmo em países eurocêntricos. Me deu uma outra perspectiva.

Para Bell Hooks, o amor é uma ação, e apesar de ser um substantivo, deve ser compreendido como verbo. A vontade de se empenhar ao máximo para promover o próprio crescimento espiritual ou o de outra pessoa. Tudo sobre o Amor: Novas Perspectivas, publicado nos Estados Unidos no ano 2000, é o primeiro livro da Trilogia do Amor. Seguindo então por: Salvação: Pessoas Negras e Amor, de 2001, e Comunhão: A Busca Feminina pelo Amor, de 2002. Bell Hooks é uma pensadora que tenta observar e dissertar por todos os ângulos e explorar por completo um assunto. Na Trilogia do Amor, ela nos mostra suas teses sobre o tema e, mais do que isso, nos oferece lições práticas de como agir.

O amor como ação é sobre responsabilidade, comprometimento, sinceridade e comunicação. Essas ações moldam os sentimentos e se estamos amando devemos expressar cuidado, afeição, responsabilidade, respeito e confiança. Uma vez li uma frase que me pegou muito. “Nós negros temos a obrigação ancestral de sermos felizes”, não é como se você não pudesse ser infeliz nunca mas, quando se falar na obrigação de ser feliz, é sobre ter essa opção que há muitos séculos não se tinha.

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