13 Reasons Why desperta pensamentos suicidas em jovens, garante pesquisa

Estudo mostra que a série potencializou tais pensamentos até mesmo em quem não tinha histórico de depressão.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 31 out 2024, 10h22 - Publicado em 19 ago 2018, 10h00

Desde o lançamento de sua primeira temporada, em março de 2017, a série 13 Reasons Why tem provocado debates polêmicos e despertado diversas opiniões sobre os efeitos que os temas abordados na história podem trazer ao público jovem. Na trama, a personagem Hannah Baker comete suicídio após sofrer bullying e ser vítima de violência sexual. No entanto, ela planeja que todos os responsáveis pela sua decisão de tirar a própria vida recebam fitas gravadas com mensagens póstumas. Embora a primeira temporada tenha tido uma grande audiência, muitas pessoas argumentaram que a série tratou os assuntos de uma maneira irresponsável, glamorizando o suicídio como uma forma de vingança e usando cenas fortes para “chocar” o público, deixando de lado o fato de que elas poderiam servir de gatilho para muita gente.

Netflix/Divulgação

Pela primeira vez desde que a série, que está na sua segunda temporada, foi lançada, pesquisadores brasileiros analisaram os efeitos e o impacto de 13 Reasons Why nos jovens que a assistiram. O estudo realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e publicado no Journal of the American Academy Child & Adolescent Psychiatry coletou dados de adolescentes do Brasil e dos Estados Unidos, na faixa etária de 12 a 19 anos. Entre os adolescentes que não apresentavam sintomas ou histórico de depressão antes de ver a série, 4,7% afirmaram que passaram a pensar mais em tirar a própria vida após conhecer a história de Hannah Baker. O número é extremamente preocupante para especialistas de saúde mental.

Já entre os jovens que sofriam com depressão e haviam cogitado o suicídio antes de assistir a série, 21,6% responderam que tiveram ainda mais pensamentos suicidas. Em contrapartida, o impacto de 13 Reasons Why sobre o bullying teve resultados melhores. Dentre os mais de 21 mil adolescentes, 41,3% confessaram que já praticaram, mas 90,1% deles afirmaram ter passado a fazer menos bullying após assistir a série.

Este tipo de fenômeno de reprodução suicida é conhecido por especialistas como “efeito Werther”. O nome vem da obra Os sofrimentos do jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe, que apresenta o suicídio de um jovem, após viver uma decepção amorosa, que provoca um grave aumento de suicídios após ter sido publicado. Na época, jovens foram encontrados sem vida, vestindo roupas parecidas com as do personagem. Alguns deles ainda tinham um exemplar do livro nas mãos.

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Para o G1, Alexandre Paim Diaz, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e um dos coordenadores da campanha Setembro Amarelo, afirma que a mídia deve ter cuidados na hora de abordar o tema. “Quando pensamos que é 4,7% de milhares de jovens que não tinham um sintoma de depressão ou ideação suicida e aumentaram esse nível, é um número muito considerável. E o aumento é ainda mais importante quando se trata de um grupo já vulnerável”, comenta.

Cena da segunda temporada de 13 Reasons Why. Netflix/Divulgação

Para a jornalista Vicky Régia, 13 Reasons Why aborda uma temática muito importante para o público jovem, mas faz isso de uma maneira completamente irresponsável e até mesmo sádica. “Não há nenhuma preocupação, principalmente na primeira temporada, das cenas bem gráficas serem gatilho para pessoas que já tentaram suicídio ou foram vítimas de violência sexual. Com a intenção de chocar, a série acaba se esquecendo de ter cuidado com as pessoas que sofreram na pele essas situações. As custas de quem a série quer ‘conscientizar’ sobre o tema?”, diz. Ela também afirma que nem ao menos conseguiu terminar de assistir a primeira temporada por conta dos muitos gatilhos, mas que viu várias pessoas falando sobre como a segunda temporada foi ainda mais irresponsável em algumas cenas.

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É como já disseram: a série começou uma discussão importante e super pertinente, mas será que ela saberá como terminar? Minha aposta é que não. E a existência de uma possível terceira temporada deixa bem claro isso“, Vicky conclui. Christian Kieling, líder do estudo e professor na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também acredita que 13 Reasons Why poderia ter tratado o assunto de uma maneira mais adequada, já que claramente não mostra que existem formas de buscar ajuda e ainda detalha de que maneira a personagem se matou, o que não é recomendado por especialistas.

Netflix/Divulgação
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Após as críticas, a segunda temporada de 13 Reasons Why passou a exibir vídeos curtos dos atores com uma mensagem antes dos episódios, como uma forma de avisar sobre as cenas fortes que poderiam servir de gatilho para algumas pessoas. Para quem está passando ou já passou pelos problemas abordados na série, a mensagem transmitida recomenda que talvez seja melhor não assistir ou assistir ao lado de alguém de confiança. Ao final do vídeo, a produção também indica o 13reasonswhy.info para quem precisa de ajuda.

No Brasil, o suicídio tem se tornado uma das principais causas de morte entre adolescentes, ficando atrás apenas do trânsito e da violência interpessoal, que inclui assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional. No mundo, o suicídio é a segunda causa de morte na faixa etária de 15 a 34 anos.

Se você está passando por esta situação ou conhece alguém que esteja, entre em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida). A organização realiza apoio emocional gratuito para todas as pessoas que desejam conversar por telefone, e-mail ou chat.

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