6% das bonecas produzidas no Brasil são negras; 94% estão dentro do padrão

Levantamento realizado por ONG comprova que representatividade é produto em falta no mercado brasileiro

Por Isabella Otto Atualizado em 30 out 2024, 23h18 - Publicado em 2 nov 2020, 10h03
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Divulgação/CAPRICHO

Uma das maiores questões envolvendo representatividade é que ela deve começar cedo, mas na prática não é assim que funciona. Crianças negras têm que brincar com bonecas brancas por causa de uma falha no mercado, apontada em agosto pela ONG Avante, da Bahia, que produziu a 3ª edição do levantamento “Cadê Nossa Boneca?”.

Marco VDM/Getty Images

O estudo mapeou sites de fabricantes e lojas de brinquedos do Brasil e concluiu que apenas 6% das bonecas produzidas no país são negras, contra 94% que estão dentro do padrão europeu de beleza. Além disso, nas lojas online, a oferta de bonecas negras é de apenas 9%.

Nos 14 sites de empresas associadas à Abrinq (Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos), foram identificados 70 modelos de bonecas pretas nos 1.093 produzidos, sendo que seis dessas 14 companhias sequer fabricam modelos fora do padrão europeu.

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“Fabricamos bonecas de todos os tipos, tamanhos e cores, não tratamos de gênero nem raça. As crianças negras gostam de bonecas loiras e negras e vice-versa, pois o imaginário é a alegria de brincar. Não se registram julgamentos políticos no imaginário infantil”, disse Synésio Batista da Costa, presidente da Abrinq, para o portal Universa.

Algumas das bonecas que foram customizadas por Ingrith Calazans Ingrith Calazans/Arquivo Pessoal/Reprodução

Em 2015, a estudante Ingrith Calazans, na época com 22 anos, moradora do Distrito Federal, começou a customizar bonecas depois de tentar comprar uma Barbie negra para dar para a irmã de aniversário e não encontrar nenhum modelo nas lojas da cidade. “Me deparei com um monte de bonecas brancas, loiras, dos olhos azuis(…) Peguei uma boneca já utilizada, retirei o cabelo original, costurei a lã na cabeça dela e soltei os fios”, disse em entrevista para o G1.

Outro ponto que torna a corrida por representatividade mais desigual é o fato de que as poucas bonecas negras ofertadas pelo mercado tendem a ser mais caras, em suma porque parte significativa delas é feita por artesões e pequenos fabricantes, o que encarece o valor final do produto.

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