A escola que você frequenta é muito importante para a sua saúde mental

Diálogo e acolhimento são fundamentais para que o retorno às aulas presenciais seja mais leve.

Por Bruna Nunes Atualizado em 30 out 2024, 15h59 - Publicado em 15 Maio 2022, 13h09

 

Ilustração de uma aluna lendo um livro, sentada em uma cadeira e com um semblante cansado.
36% dos jovens brasileiros apresentaram sintomas de depressão e ansiedade durante o período mais crítico da pandemia Malte Mueller/Getty Images

Falta de ar, crise de choro, sudorese e taquicardia. Estas são as características mais comuns de uma crise de ansiedade. No início de abril, 26 alunos do Ensino Médio de uma escola estadual em Recife (PE) sentiram estes sintomas de forma coletiva, preocupando pais, especialistas e educadores: saúde mental na escola é assunto sério e urgente.

A crise coletiva teria acontecido em período de provas, as primeiras desde o retorno das atividades presenciais na rede estadual em meio à pandemia de Covid-19. “Quando muitas pessoas estão ansiosas ao mesmo tempo, basta um entrar em crise ou apresentar uma oscilação de humor para que os demais entrem na mesma onda emocional”, analisa Fabiano de Abreu, neurocientista e mestre em psicologia à CAPRICHO

“As emoções adquirem um certo nível contagioso”, explica o especialista. A CAPRICHO conversou com outros psicólogos e psicopedagogos para entender o que atingiu estes jovens e o papel das escolas no cuidado com a saúde mental dos estudantes como você.

 

Ansiedade é algo que vimos se agravar durante este período de pandemia – que, vale lembrar, ainda não acabou. E os dados mostram isso. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que a ansiedade afeta 18,6 milhões de brasileiros e, ainda segundo a instituição, a Covid-19 contribuiu para que esses transtornos mentais se agravassem.

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Esta sensação pode ser desencadeada devido ao cenário de incerteza ligado à saúde pública: parentes próximos morreram em decorrência da doença,  há uma crise social e política que levou ao desemprego e à falta de oportunidades. Além disso, o isolamento social prejudicou as relações pessoais e o acesso à educação de grande parte dos jovens. 

E vamos combinar que as escolas são o principal espaço de interação de crianças e adolescentes, inclusive, grande parte dos atendimentos psicológicos são feitos nas próprias instituições de ensino. Neste cenário, ampliou-se não só o número de casos aumentou, mas a quantidade de transtornos que não receberam tratamento ou acompanhamento adequado. 

Um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) comprova que precisamos ficar atentos ao que se passa na nossa cabeça depois de um período tão crítico. Segundo a pesquisa, 36% dos jovens brasileiros apresentaram sintomas de depressão e ansiedade durante o período mais crítico da pandemia. 

O levantamento foi realizado on-line com cerca de 6.000 jovens na faixa etária de 5 a 17 anos. Os resultados apontam que uma em cada três crianças e adolescentes possuem níveis de estresse emocional em uma intensidade que exigiria uma avaliação adequada

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Camila Puertas, pós-graduada em Psicoterapia Psicanalítica, conta que a crise de ansiedade “é caracterizada por um momento em que os sintomas se manifestam de forma acentuada e súbita: respiração fica acelerada, a pessoa sente dor no peito, náusea, tremores, sensação de sufocamento, suor intenso, medo e  preocupação intensas”.

Você sabe quais são os quatro signos mais ansiosos do zodíaco?
Esses episódios não devem ser normalizados – em especial os que acontecem na escola, tendo como exemplo o caso de Recife. Ponomariova_Maria/Getty Images

Puertas reforça que esses episódios não devem ser normalizados – em especial os que acontecem na escola, tendo como exemplo o caso de Recife. “É essencial analisar o que esses alunos têm em comum e levantar algumas hipóteses, como cobranças em excesso tanto dos professores quanto dos familiares”, indica.

É necessário reconhecer que, assim como tivemos que nos adaptar às necessidades do isolamento social, também teremos que fazer uma adaptação para retornarmos à rotina presencialmente, afirma Camila. Alguns alunos estavam no Fundamental quando tudo começou e voltaram para as aulas presenciais já no Ensino Médio, por exemplo.

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“Isso vale não somente para os alunos, mas também para professores, coordenadores, e para a comunidade de pais e responsáveis”, pontua a especialista.

Para Leonor Ramos Chaves, psicóloga e psicopedagoga do Descomplica – ambiente virtual de aprendizagem -, a transição das aulas presenciais para o EAD foi abrupta, assim como o retorno para as escolas e faculdades. 

“Os adolescentes enfrentam muitas incertezas, quebras de expectativas, medos em relação ao futuro, medo de adoecer, muitos perderam os familiares e tiveram que lidar com lutos nunca vivenciados. É preciso entender o que está acontecendo neste novo normal e darmos apoio aos adolescentes na volta às aulas.”

A escola deve manter um vínculo de confiança visando o bem-estar do aluno e seu desenvolvimento integral como pessoa

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A especialista ainda sinaliza o fato de que muitos jovens trocaram o dia pela noite com as aulas em casa, ficando com a alimentação desregrada e com distúrbios do sono, fatos que podem vir a agravar quadros de ansiedade. 

“Uma pandemia também é uma emergência psicológica. Quando há a percepção de que há algo atingindo o comportamento do aluno é importante não só falar com o aluno, mas também, comunicar aos pais. A escola deve manter um vínculo de confiança visando o bem-estar do aluno e seu desenvolvimento integral como pessoa”, lembra.

Todas essas situações mostram que prestar atenção à como estamos nos sentindo é muito importante e que você deve pedir ajuda aos seus pais, colegas e professores sempre que sentir algo estranho ou que ainda não entende totalmente. Combinado?

Aqui na CAPRICHO nós já te contamos algumas formas de controlar a ansiedade em momentos de crise, além de outras dicas para ajudar caso sua amiga esteja se sentindo muito ansiosa. Mas é importante lembrar: nós da redação apenas informamos você sobre o assunto e incentivamos a cuidar da sua mente; nosso conteúdo não substitui consulta, tratamento ou diagnóstico médico.

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