Decepção das fãs lésbicas com Fletcher não é sobre ela amar um homem
Após forte divulgação da música "Boy", muitas fãs não gostaram do posicionamento da cantora e das circunstâncias do anúncio
americana Fletcher, que sempre foi abertamente queer e escreveu muito sobre seus relacionamentos com mulheres no passado, contou que se apaixonou por um homem em sua nova música chamada “Boy”. A revelação – durante o Mês do Orgulho – pegou o fandom da cantora de surpresa e gerou um debate nas redes sociais que vai muito além do novo affair da artista.
Muitas fãs, que sempre se identificaram com as músicas de Fletcher, admitiram a decepção, que, segundo elas, não está relacionada com o fato da cantora se apaixonar ou ficar com um homem. Até porque ela nunca se assumiu como uma mulher lésbica, e, mesmo que tivesse, não seria um problema: as pessoas podem redescobrir sua sexualidade e a comunidade LGBTQIAPN+ defende justamente que todos são livres para amar quem quiserem.
O grande problema apontado pelo público sáfico é a forma que Fletcher anunciou a informação e a narrativa que criou sobre essa sua “nova fase”. Para o recém lançamento, a cantora excluiu todas suas publicações antigas das redes sociais, e postou conteúdos com uma estética bem diferente.
O primeiro post feito, após essa “limpeza” do perfil, foi uma foto dela em preto e branco, com uma legenda desejando feliz Mês do Orgulho. “Que honra é ser queer. É realmente um dos maiores presentes da minha vida, que me permitiu viver com o coração tão aberto e curioso sobre todas as maneiras como ele quer ser expresso, mantido e celebrado. Ah, os lugares aonde ele me levou”, escreveu. Nos comentários, no entanto, muitas fãs criticaram o que, segundo elas, soou como um apagamento da fase sáfica e uma espécie de “reposicionamento” – e para piorar, bem no Mês do Orgulho.
@livigoldi I can only speak from my own experience, but the general sentiment about this is so concerning. She doesn’t owe anyone relatability, but she does owe the queer community respect. #fletcher #boy #wlw #lgbt #queermusic
Somado a isso, trechos da entrevista exclusiva concedida pela cantora à Rolling Stone também não agradaram parte do fandom. Em um deles, Fletcher diz que seu diagnóstico de doença de Lyme no início de 2023 mudou sua perspectiva.”[Eu] passei por uma jornada de cura realmente intensa que me permitiu fazer uma pausa. Comecei a ter muitas perguntas sobre minha carreira e meu propósito”, explicou ela. “Acho que, ao me permitir fazer essas perguntas mais profundas sobre esse sonho fixo que eu pensava que sempre perseguiria, meu coração se abriu de uma forma que eu não esperava, e me apaixonei por um garoto.”
Na mesma entrevista, Fletcher ressalta que que ainda tem muito orgulho de ser queer e “que isso não é algo que tenta mudado”. “Ser queer, para mim, é a lente pela qual consigo ver a vida”, afirmou. Segundo ela, ‘Boy’ é apenas mais uma história de amor e uma revelação entre muitas, e não se trata de um álbum sobre um cara.
Em um vídeo no TikTok, uma fã chamada Manoella diz que não é sobre a declaração para um homem, mas como a cantora falou disso como uma virada de chave e uma evolução na sua vida. “[É um problema] a partir do momento que você fala numa entrevista que você se permitiu crescer e evoluir, que você saiu de um drama sáfico e que agora você está mais calma e que você conheceu um garoto e se apaixonou por ele”.
@manoellabms entendam o que é criticável. e sei la cari posta uma foto dont make it so weird #wlw #fletcher
Fletcher e o conservadorismo nos EUA
Nas redes, a galera também relacionou o comportamento de Fletcher e de Jojo Siwa, que assumiu um namoro com um homem recentemente após construir uma identidade como artista e um fandom baseado em gostar de garotas, com a onda conservadora nos Estados Unidos, após a eleição de Donald Trump. Miwa, lésbica e que fala de Relações Internacionais na internet, analisa que o timing para os anúncios é “muito estranho e coincidente”.
“A Jojo Siwa aparecer publicamente namorando um homem 20 anos mais velho e a Fletcher lançar uma música e toda uma linha de merch sobre ficar com homens também, nesse momento, parece uma escolha que se não foi pensada, ela é muito influenciada pelo cenário que os EUA está vivendo”, reflete.
“Acabamos de entrar no Mês do Orgulho e a Parada do Orgulho de Nova Iorque, que é uma das mais tradicionais e antigas do mundo, perdeu mais de um quarto dos patrocinadores. Vários analistas já têm falado que isso é, sim, um resultado da política de Donald Trump contra a diversidade”, explica o contexto.
@miumiix eu meio que estou escrevendo um texto maior e mais detalhado sobre isso entao fiquem espertos que logo mais vem ai!!! #relaçõesinternacionais #educação #RI #wlw #lgbt #lesbicastiktok🌈 #pride Jojo Siwa Fletcher
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