Dedé Teicher: Uma baterista mulher no meio de tantos homens

'Já aconteceu de chegarem meninas e falarem que queriam tocar bateria, mas que os pais diziam que era coisa de menino.'

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 21h03 - Publicado em 9 dez 2017, 10h31

Pensa rápido: quantas bateristas mulheres você conhece? É só quando paramos para refletir sobre o assunto que percebemos que, de repente, temos mais referências de bateristas homens no mundo da música. Dave Grohl, Ringo Starr, Daniel Weksler, Tré Cool… Aos 14 anos, esses eram os nomes que vinham logo à minha mente quando o assunto era esse – além do meu pai, que tocava em uma banda cover dos Beatles. Mas assistindo a programas de videoclipe na televisão (#sdds), me deparei com uma mulher cheia de atitude que dominava as baquetas em um grupo essencialmente masculino. Era a Dedé, do Scracho.

Essa é a Dedé! 🙂 Arquivo Pessoal/Instagram/Reprodução

A banda carioca marcou toda uma geração nos anos 2000. Em 2008, por exemplo, o sucesso Divina Comédia entrou para a trilha sonora de Malhação e virou hino de muitos casais apaixonados. Quando não estava com um rabo de cavalo lateral, ostentava uma flor no cabelo. Eu queria muito ser amiga da Dedé, porque ela, além de ter uma energia muito boa, me fez entender que meninas podiam tocar “batera” – mesmo muita gente dizendo que o instrumento não era delicado para garotas. No último domingo, 3, eu tive a chance de dizer tudo isso para a Dedé Teicher, hoje também apresentadora do Multishow e do Bis, e ela me contou que, na época, quando tinha uns 22 anos, não fazia ideia do tamanho de sua representatividade. “Eu nunca fiz nada para provar algo para alguém, mas acabou acontecendo naturalmente. Quando eu quis tocar bateria, meus pais nunca enxergaram isso como um problema. Bateria é um instrumento, pessoas tocam instrumentos e eu sou uma pessoa. Mas já aconteceu de chegarem meninas que foram a shows do Scracho e falarem que queriam tocar bateria, mas que os pais diziam que era coisa de menino”, contou em entrevista exclusiva a CAPRICHO.

Aos poucos, Dedé foi entendendo a importância que tinha na vida de muitas meninas – na minha, inclusive. A baterista Cindy Blackman é uma de suas inspirações, mas a carioca conta que em casa nunca teve essa distinção entre o que homens e mulheres podiam ser ou fazer. “Eu me considero muito sortuda! É aquela velha história: você tem que fazer o que quiser. A música é um lugar universal, onde não importa gênero, idade, jeito, altura, tipo físico…”, opina.

Continua após a publicidade

Dedé Teicher é um nome importantíssimo para a música brasileira. Em 2009, ela venceu a categoria “Melhor Instrumentista” no Prêmio Multishow. É claro que, com a fama, muitas pessoas começaram a ver que a baterista não era apenas incrivelmente talentosa, mas extremamente linda. Começou então a sexualização em entrevistas, shows, conversas em mesa de bar. É aquele fenômeno que acontece com qualquer mulher que ganha destaque em um campo que ainda é dominado por homens (e, vez ou outra, bastante machista): meninas gamers, jornalistas esportivas, engenheiras, bateristas… “Faz bem você ouvir um elogio, mas beleza é algo relativo e transitório, e nunca foi meu motivo principal por fazer as coisas”, garante a musicista, que completa dizendo que essa abordagem não a incomodava tanto quanto incomodava o fato de as pessoas se espantaram por ela dominar as baquetas: “as pessoas achavam meio incomum. Algumas ainda acham. Mas não deveria ser algo tão absurdo. É muito importante que a gente não deixe de fazer nada que a gente queira. Eu acho maravilhoso que o girl power esteja sendo mais discutido, porque estamos soltando o verbo sobre coisas que já não deveriam acontecer há muito tempo”, afirma.

Good vibes, Dedé tem uma hashtag nas redes sociais, a #DedeVibration. Além da música, a ioga, a natureza e o amor são coisas que a tranquilizam nesse mundo, às vezes, bastante caótico. E ela lista pra gente os três mandamentos da ~vida boa~: “sempre veja o lado positivo das coisas, tente se adaptar às situações e cultive bons pensamentos e sentimentos. Todo mundo tem dias em que está chateado ou mal humorado, mas você nunca vai ganhar na loteria se nem jogar”, dá a dica.

E Dedé jogou – e ainda joga muito – pelo time feminino!

 

Publicidade