Entenda a ‘crise emocional’ de Selena Gomez e como ela afeta tantos jovens

A CH conversou com especialistas para entender as causas, sintomas e tratamento deste tipo de transtorno.

Por Amanda Oliveira Atualizado em 31 out 2024, 10h05 - Publicado em 21 out 2018, 10h00

Você já sentiu uma exaustão emocional tão forte que nem mesmo as atividades que antes eram interessantes te agradavam mais? Ou, então, um esgotamento tão grande que você passou a fazer as coisas da rotina de forma automática, sem muita emoção? Às vezes, essas sensações podem passar despercebidas porque as pessoas consideram que o estresse faz parte de alguns dias da vida. E, de fato, faz. Contudo, sintomas frequentes de esgotamento emocional podem significar algo mais grave e que merece atenção especial.

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Instagram/Reprodução

No início de outubro, Selena Gomez sofreu uma crise emocional e foi internada em uma clínica psiquiátrica para cuidar de sua saúde mental, após ser hospitalizada duas vezes em um período de duas semanas. Dias antes, a cantora já havia anunciado que daria um tempo das redes sociais para cuidar de si mesma. A CAPRICHO procurou especialistas na área da psicologia e psiquiatria para explicar o que é este transtorno, suas causas e tratamento.

De acordo com a psicóloga Gabriela Marinho, o esgotamento emocional surge quando a pessoa supera a cota psicológica do que se pode gerenciar, controlar e canalizar. “É quando acumulamos cargas emocionais, sentimentos, frustrações, tristezas, cansaço, sem nos darmos conta de quanto aquilo está nos prejudicando e ficando pesado”, diz. Segundo ela, hipersensibilidade, baixo nível de atenção, sensação de não pertencimento, pensamentos negativos, baixa motivação e exaustão física são os principais sintomas físicos e psicológicos deste transtorno.

Dr. Rodrigo Leite, coordenador dos Ambulatórios do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, afirma que não existe um transtorno especificamente com este nome na psiquiatria. “No caso da cantora, o que a gente suspeita é que tenha ocorrido alguma coisa mais grave, como uma depressão grave com risco de suicídio, um quadro psicótico ou abuso de substâncias que podem ter motivado essa internação. Esses são os motivos mais clássicos de porque a gente interna uma pessoa”, diz.

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Rodrigo explica que essa exaustão emocional se encaixa na Síndrome de Burnout, que está relacionada ao esgotamento profissional e estresse ou sobrecarga no trabalho. Para ele, no caso de Selena Gomez, a pressão da vida de artista e do público pode ter ocasionado um quadro depressivo. “Essa exaustão relacionada ao trabalho é basicamente a sensação de fadiga para desempenhar as tarefas corriqueiras. Uma sensação de você não colocar mais emoção no que você está fazendo. Você faz de uma forma automática, uma forma robótica“, comenta. Segundo ele, transtornos alimentares também são fortes motivos de internação por riscos físicos e clínicos de desnutrição.

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Normalmente, quando uma pessoa está em um momento de sobrecarga ou estresse muito grande, ela procura uma forma de aliviar a tensão, seja viajando para algum lugar, passando um tempo com a família, indo ao cinema ou a um show. “O estado do Burnout é um estado em que as estratégias que a gente usa para aliviar o estresse não funcionam mais. A pessoa fica num estado crônico de esgotamento que as formas que a gente tem de lidar com o estresse não dão conta, não são suficientes para melhorar“, Rodrigo explica. Além da saúde mental, este estado também prejudica a saúde física, como problemas cardiovasculares. Nos jovens, os sintomas físicos costumam ser gastrite, refluxo e dor abdominal.

Na clínica psiquiátrica em que foi internada, Selena está recebendo um tratamento chamado Terapia Comportamental Dialética. “É uma variante da Terapia Comportamental e da Terapia Cognitiva Comportamental. É o tipo de psicoterapia que existem mais estudos comprovando a eficiência“, Rodrigo comenta. Segundo ele, não é necessária a internação psiquiátrica para realizar este tipo de terapia. “É um tratamento mais eficaz, mas também pode ser tentado outros tipos de abordagem psicológica, desde o aconselhamento até uma psicoterapia de base psicanalítica ou psicanálise”, diz.

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Recentemente, a Organização Mundial da Saúde divulgou uma estimativa de que 1 a cada 5 adolescentes enfrenta desafios com a saúde mental. Para a psicóloga Gabriela, a pressão para ter “o corpo perfeito” é um dos principais fatores que prejudicam a saúde mental dos jovens, entre meninas e meninos. “Também busca da sensação de pertencimento. Ser adolescente é estar em constante busca pelo seu lugar no mundo e isso, para alguns, gera muita angústia e ansiedade“, afirma.

Entre outras questões, a rotina do vestibular e a escolha da carreira profissional também podem ter uma grande influência. “A pressão do vestibular acaba sendo uma fonte de estresse porque, muitas vezes, o jovem não está preparado para decidir uma carreira e encarar uma rotina de estudos que o vestibular exige”, Rodrigo diz.

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Também de acordo com a Organização Mundial da Saúde, metade dos casos de transtornos mentais surge até os 14 anos de idade, mas a maior parte não é detectada. Para Rodrigo, isso acontece porque os sintomas passam despercebidos como “um quadro da adolescência normal”. “Com as mudanças corporais, hormonais, a sexualidade… Isso vai gerando sintomas emocionais, como tristeza, raiva, explosividade, impulsividade. Tudo isso acaba sendo entendido como um problema de idade“, diz.

Além disso, não ter condições financeiras para realizar um tratamento particular e a falta de políticas públicas que facilitem o acesso ao serviço de saúde mental também são fatores importantes. “E a questão de estigma também, de as pessoas não procurarem o serviço por associarem isso a loucura. Os pais, muitas vezes, relutam a levar a criança ou o adolescente ao serviço de saúde mental por esse estigma de achar que ‘meu filho não é louco’ e acaba dando outras explicações para o que está acontecendo com o jovem“, afirma. Para mudar essa realidade, ele acredita que é preciso ter a participação de três esferas: a família, a escola e as políticas públicas do governo.

Para Rodrigo, o governo precisaria de uma expansão da rede de serviço de saúde mental para infância e adolescência. “Os pais precisam de uma orientação e um aconselhamento de saúde mental para saber como lidar com o  jovem. E isso é uma parte fundamental do tratamento. Não adianta só a criança ou o adolescente fazer o tratamento e os pais não estarem envolvidos“, explica.

Nas escolas, Rodrigo comenta que deveria existir uma disciplina de “educação emocional”. “A gente aprende português, matemática, ciências e a gente não aprende sobre emoções, sobre como gerenciar o estresse, a raiva. A gente não é educado para se entender, conhecer a si próprio, conhecer esse mundo das emoções”, diz. Este tipo de ensino nas escolas ajudaria professores a saberem como lidar com os sintomas de alerta dos alunos, como mudança de comportamento, isolamento e prejuízo no rendimento escolar, além de fazer com que os próprios adolescentes saibam entender o que está acontecendo com eles.

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Você se identificou com os sintomas e acha que pode estar passando por essa situação? Não hesite em pedir ajuda. Para evitar o desgaste emocional, a psicóloga Gabriela dá a dica: “Respeite os limites do seu corpo e da sua mente. Seja gentil com você mesma, faça exercícios que te tragam prazer, durma bem e se alimente de forma saudável”. Nada de se cobrar tanto, viu? Estar bem é mais importante que qualquer outra coisa.

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