Não há mais espaço para o girl power de ocasião de Bianca Andrade

Bia, que já foi considerada exemplo girl power por tantas meninas e ganhou até prêmio, disse no programa que não tem tempo pra isso: "sou realidade"

Por Isabella Otto Atualizado em 31 out 2024, 00h43 - Publicado em 3 fev 2020, 12h01

Rolou uma reviravolta no BBB20 neste final de semana quando Marcela e Gizelly decidiram, enfim, contar para as colegas de confinamento que os homens, liderados por Hadson, tinham o plano de seduzir as mulheres comprometidas da casa, como Mariana, e queimá-las aqui fora. As duas ainda disseram que talvez Hadson fosse negar tudo e também só tivesse feito isso por uma questão de estratégia, para testar se elas ficariam caladas ou não. Elas não ficaram e a reparação histórica veio.

Reprodução/Reprodução

Ao longo da história do Big Brother Brasil, inúmeras mulheres foram taxadas de loucas, desequilibradas e culpadas por protagonizarem, por exemplo, triângulos amorosos. Enquanto isso, os homens eram eximidos da culpa e muitos acabaram saindo do programa milionários. Não desta vez, ao que tudo indica. A histórica 20ª edição do reality show prova que a união feminina é uma das coisas mais poderosas que existe. No início de uma nova década, o BBB escancara o machismo, coroa a sororidade e mostra que, na enorme maioria das vezes, duvidar da palavra de uma mulher e acreditar na fala de um homem não é ficar em cima do muro nem ser justa: é tomar partido. E Bianca Andrade tomou.

Enquanto as mulheres da casa não duvidaram de Marcela e Gizelly, e foram inclusive confrontar os homens sobre o tal plano de sedução (a autoestima do homem hétero, meu deus!), Bianca foi ouvir o que os homens da casa tinham a dizer, falando depois que o confronto de algumas @s foi puro “teatrinho”. Ela pode ter achado que não, mas já aí ela estava tomando partido. Depois, sisters como Manu, Mari e Rafa disseram estar felizes com o fato de terem ficado mais unidas ao descobrirem toda a verdade. Manu ainda explicou o quão importante e significativo é elas acreditarem na Má e na Gi. Enquanto isso, Bianca dizia para Petrix tomar cuidado com Mari e prestar atenção. Mais uma vez, um partido foi muito bem tomado.

As atitudes de Bianca não incomodaram apenas o público. Participantes, como Mari Gonzalez, foram questionar a sister. Mari chegou a dizer que elas pensam e agem de forma muito diferente, que ela jamais ficaria contra uma amiga e que sempre a defenderia. Bia, contudo, disse que estava se sentindo pressionada com a fala de Mari, como se ela estivesse querendo impor alguma coisa. A impressão é de que Bianca encontrou apoio nos homens e se sentiu “a-mais-justa-do-pedaço” ao ouvi-los e ao dar toques neles contra suas colegas de confinamento. Talvez, em edições passadas, em anos passados, a atitude da influenciadora não incomodasse tanto ou até passasse despercebida. Uma coisa meio “ah, tem que ouvir os dois lados mesmo” e “nem sempre as mulheres falam a verdade”. Não mais.

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Com nomes como Marcela, Gizelly, Thelma, Manu, Rafa, Mari e Gabi no programa, as atitudes de Bianca se tornam ainda mais representativas e mostram como a relação entre mulheres evoluiu nos últimos anos. Duvidar da fala de outras mulheres, principalmente daquelas com as quais você se considera próxima, não é ir atrás de justiça ao ouvir os dois lados, é negar as últimas conquistas femininas, que trouxeram à tona debates como a importância da sororidade na caminhada contra a rivalidade feminina.

Hoje, nós vivemos a 4ª onda feminista. A 1ª delas foi representada pela luta e conquista do voto feminino. A 2ª, pelo entendimento do que é ser mulher e dos diferentes tipos de opressão e pressão que cada uma de nós sofre. A 3ª, já incentivada pelo comecinho da era digital, pelo impulsionamento de questões envolvendo gênero, patriarcado, empoderamento, abuso e agressão. A 4ª, que muitas historiadoras acreditam estarmos no meio dela, pela democratização dos ideais feministas, com o uso da redes sociais e análises mais profundas e frequentes sobre a raiz do movimento e seus muitos raminhos. Essas próprias historiadoras, inclusive, explicam que é natural que muitas mulheres neguem o feminismo ou se sintam pressionadas a serem feministas por causa dessas questões estarem tão expostas. Elas entendem que a negação também é um direito feminista de ser livre para tomar suas próprias decisões. A questão é que, sim, isso é verdade, as pessoas são livres para tomarem atitudes e arcarem com suas consequências. Só que essa negação, tão bem retratada por Bianca Andrade, só deixa ainda mais claro que, na 4ª onda feminista, o protagonismo não é de Boca Rosa; é de Marcelas, Gizellys, Manus, Thelmas, Rafas, Maris e Gabis.

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O FEMINISMO QUE DÁ LUCRO
Se, no jogo, mesmo que inconscientemente, Bianca Andrade tomou partido ao debochar de colegas, dizendo para o Guilherme que união feminina que rolou na casa foi “algazarra”, e se posicionando ao lado de caras que dizem expressões como “feministinhas demais”, fora dele, a empresária já disse coisas bem diferentes. Em 2016, quando ganhou um prêmio que tinha a expressão “gilr power” no nome, Boca Rosa disse: “eu queria falar um monte de coisas porque, para mim, essa categoria representa muito. O girl power está nas nossas atitudes e na maneira como tratamos as outras pessoas. Acredito que tudo deve ser feito com amor, isso faz a diferença e é o que significa ser uma garota poderosa”. A criadora de conteúdo foi eleita, na época, por votação popular. Hoje, talvez o voto popular não fosse tão a seu favor… Afinal, uma garota poderosa se torna ainda mais forte ao lado de outras garotas poderosas.

Talvez seja uma questão de vivência, talvez seja plenamente cultural, talvez seja falta de entendimento ou até insegurança. Entender e mostrar isso, e torcer para que, um dia, todas entendam, também é nosso papel, porque, como tão bem já pontuou Bianca, “o girl power está nas nossas atitudes”.

Veja os vídeos sobre tudo o que aqui foi levantado:

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