O que os adolescentes acharam da série ‘Adolescência’ da Netflix
Enquanto muitos adultos se chocaram com o universo obscuro retratado nos episódios, os jovens reconheceram uma realidade nada distante

série ‘Adolescência’ fez muito barulho nas redes sociais na última semana. Elogiada tanto pela forma como pelo conteúdo, além de ótimas atuações, a produção da Netflix gerou alerta nos adultos por retratar um universo obscuro explorado pelos adolescentes que grande parte deles não tinha conhecimento. A partir dos episódios, pais, educadores e especialistas discutiram como se aproximar dessa realidade e proteger os mais jovens.
Todos esses debates são urgentes e necessários, sem dúvidas. Mas, no meio de tantas análises e reflexões, nos perguntamos o que a nossa galera, quem dá título à série, achou da história retratada. Qual a percepção dos adolescentes, do lado de fora da tela, ao assistirem um representação tão dura, realista e atual da sua geração? Fomos investigar com os membros da Galera CAPRICHO e te contamos mais sobre a série na visão deles.
[Este texto apresenta spoilers dos episódios de ‘Adolescência’ da Netflix. Mas, se você ainda não assistiu a série ainda, mas quer ler o texto, te contamos mais sobre a história nesta matéria aqui]
Sem enrolação, os adolescentes gostaram muito também. Pelo menos, o sucesso da série foi unânime entre os jovens com quem conversamos. Enzo Araújo, 18 anos, contou que ‘Adolescência’ até entrou para a lista das suas preferidas. “A série traz uma riqueza de detalhes que nos faz pensar sobre os diferentes lados da história, e ela ter sido gravada em plano sequência deixou muito mais intenso e interessante”, analisa.
Rhyan Reis, 14 anos, também não poupou elogios: “Adolescência” é uma série muito bem escrita, elaborada e atuada. O roteiro é bem desenvolvido e verdadeiro. Owen Cooper deu um show de atuação, mesmo sendo seu primeiro trabalho”.
Luísa Panini, 18 anos, que é muito fã de suspense, esperava que a série seguisse certo padrão de produções desse gênero, que consiste em desvendar aos poucos o crime e o que o motivou. Mas a proposta de ‘Adolescência’ foi outra e a jovem gostou muito. “Ela mostra de uma maneira sutil o porquê de cada ação e está muito aberta para cada um ter a sua opinião. Tanto que você entra no TikTok e o que mais tem é vídeos de pessoas explicando seus pontos de vista e debatendo os motivos que levaram o personagem principal ter cometido crime”, observa.
Precisamos falar da misoginia
Quando o assunto é o conteúdo da série, as adolescentes destacam a importante discussão de gênero a partir da ficção. Giovanna Feliponi, 17 anos, diz que a minissérie aborda um tema extremamente relevante para o mundo atual e para a Geração Z, retratando a história de Jamie, um menino de apenas 13 anos, que comete o homicídio de uma garota da sua escola. “O foco não está na inocência do garoto, mas na representatividade masculina e na sua percepção de superioridade em relação às mulheres”, diz.
Nos episódios, é apresentado o movimento incel e como ele alimenta a misoginia. Em resumo, o termo vem de “celibatário involuntário” e descreve meninos que se sentem incapazes de ter relações sexuais com as meninas e colocam a culpa nelas por suas frustrações amorosas e sexuais.
Bianca Ramos, 18 anos, diz que a série se faz muito necessária neste momento do mundo em que a misoginia vem sendo pauta e os crimes de ódio contra mulheres também. “É importante criar meninos com boa índole para que no futuro não tenhamos que nos preocupar com homens agressivos”, afirma.
A série assusta, mas não é uma surpresa
Enquanto muitos adultos se chocaram com os movimentos e fóruns de ódio propagados na internet retratados na série, para os jovens, essa não é uma realidade distante. “Na verdade, é bem próximo. Não a parte do assassinato em si, mas já vi casos que excederam o limite como o vazamento de imagens íntimas, exposição de acontecimentos na internet e boatos que se espalharam”, conta Enzo.
Já Luísa confessa que ficou impactada: “como adolescente, assistir uma série que chama Adolescência, assusta, não vou mentir: ver um menino como Jamie, mais novo do que eu, cometer algo tão brutal e isso ser resultado da misoginia e do ódio que cresceu nele durante seus poucos anos de vida é difícil”, diz.
Mas o que mais assusta a jovem é saber que não trata-se apenas de ficção e que esses movimentos machistas têm ganhado muita força nas redes sociais. “É assustador que possam existir outros ‘Jamies’ por aí na vida real, que guardam e reprimem esse ódio, mas que a qualquer momento podem virar uma bomba relógio e explodir igual aconteceu na série”, lamenta.
Para Bianca, o que foi mais chocante na série foi ver que os jovens que aparecem na escola trataram tudo que aconteceu com certa naturalidade. “Foi o que mais me chocou porque é realmente isso que acontece: tratamos com naturalidade o que não deveríamos”, explica. Ela conta que uma das cenas que mais lhe tocou foi quando a melhor amiga da vítima dá o depoimento para o investigador.
“Eu fiquei me colocando no lugar, sabe? Se isso acontecesse com alguma amiga próxima a minha e todo mundo tivesse levando como uma piada igual eles estavam fazendo naquela escola ou agissem como se a culpa fosse da vítima? Por ser jovem, acho que eu senti um pouco do que ela estava sentindo”, conta.
E você, leitor da CH, o que achou da série?