O que os adolescentes acharam da série ‘Adolescência’ da Netflix

Enquanto muitos adultos se chocaram com o universo obscuro retratado nos episódios, os jovens reconheceram uma realidade nada distante

Por Juliana Morales Atualizado em 27 mar 2025, 21h09 - Publicado em 27 mar 2025, 19h00
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série ‘Adolescência’ fez muito barulho nas redes sociais na última semana. Elogiada tanto pela forma como pelo conteúdo, além de ótimas atuações, a produção da Netflix gerou alerta nos adultos por retratar um universo obscuro explorado pelos adolescentes que grande parte deles não tinha conhecimento. A partir dos episódios, pais, educadores e especialistas discutiram como se aproximar dessa realidade e proteger os mais jovens.

Todos esses debates são urgentes e necessários, sem dúvidas. Mas, no meio de tantas análises e reflexões, nos perguntamos o que a nossa galera, quem dá título à série, achou da história retratada. Qual a percepção dos adolescentes, do lado de fora da tela, ao assistirem um representação tão dura, realista e atual da sua geração? Fomos investigar com os membros da Galera CAPRICHO e te contamos mais sobre a série na visão deles.

[Este texto apresenta spoilers dos episódios de ‘Adolescência’ da Netflix. Mas, se você ainda não assistiu a série ainda, mas quer ler o texto, te contamos mais sobre a história nesta matéria aqui]

Sem enrolação, os adolescentes gostaram muito também. Pelo menos, o sucesso da série foi unânime entre os jovens com quem conversamos. Enzo Araújo, 18 anos, contou que ‘Adolescência’ até entrou para a lista das suas preferidas. “A série traz uma riqueza de detalhes que nos faz pensar sobre os diferentes lados da história, e ela ter sido gravada em plano sequência deixou muito mais intenso e interessante”, analisa.

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Rhyan Reis, 14 anos, também não poupou elogios: “Adolescência” é uma série muito bem escrita, elaborada e atuada. O roteiro é bem desenvolvido e verdadeiro. Owen Cooper deu um show de atuação, mesmo sendo seu primeiro trabalho”.

Luísa Panini, 18 anos, que é muito fã de suspense, esperava que a série seguisse certo padrão de produções desse gênero, que consiste em desvendar aos poucos o crime e o que o motivou. Mas a proposta de ‘Adolescência’ foi outra e a jovem gostou muito. “Ela mostra de uma maneira sutil o porquê de cada ação e está muito aberta para cada um ter a sua opinião. Tanto que você entra no TikTok e o que mais tem é vídeos de pessoas explicando seus pontos de vista e debatendo os motivos que levaram o personagem principal ter cometido crime”, observa.

Precisamos falar da misoginia

Quando o assunto é o conteúdo da série, as adolescentes destacam a importante discussão de gênero a partir da ficção. Giovanna Feliponi, 17 anos, diz que a minissérie aborda um tema extremamente relevante para o mundo atual e para a Geração Z, retratando a história de Jamie, um menino de apenas 13 anos, que comete o homicídio de uma garota da sua escola. “O foco não está na inocência do garoto, mas na representatividade masculina e na sua percepção de superioridade em relação às mulheres”, diz.

Nos episódios, é apresentado o movimento incel e como ele alimenta a misoginia. Em resumo, o termo vem de “celibatário involuntário” e descreve meninos que se sentem incapazes de ter relações sexuais com as meninas e colocam a culpa nelas por suas frustrações amorosas e sexuais.

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Bianca Ramos, 18 anos, diz que a série se faz muito necessária neste momento do mundo em que a misoginia vem sendo pauta e os crimes de ódio contra mulheres também. “É importante criar meninos com boa índole para que no futuro não tenhamos que nos preocupar com homens agressivos”, afirma.

A série assusta, mas não é uma surpresa

Enquanto muitos adultos se chocaram com os movimentos e fóruns de ódio propagados na internet retratados na série, para os jovens, essa não é uma realidade distante. “Na verdade, é bem próximo. Não a parte do assassinato em si, mas já vi casos que excederam o limite como o vazamento de imagens íntimas, exposição de acontecimentos na internet e boatos que se espalharam”, conta Enzo.

Já Luísa confessa que ficou impactada: “como adolescente, assistir uma série que chama Adolescência, assusta, não vou mentir: ver um menino como Jamie, mais novo do que eu, cometer algo tão brutal e isso ser resultado da misoginia e do ódio que cresceu nele durante seus poucos anos de vida é difícil”, diz.

Mas o que mais assusta a jovem é saber que não trata-se apenas de ficção e que esses movimentos machistas têm ganhado muita força nas redes sociais. “É assustador que possam existir outros ‘Jamies’ por aí na vida real, que guardam e reprimem esse ódio, mas que a qualquer momento podem virar uma bomba relógio e explodir igual aconteceu na série”, lamenta.

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Para Bianca, o que foi mais chocante na série foi ver que os jovens que aparecem na escola trataram tudo que aconteceu com certa naturalidade. “Foi o que mais me chocou porque é realmente isso que acontece: tratamos com naturalidade o que não deveríamos”, explica. Ela conta que uma das cenas que mais lhe tocou foi quando a melhor amiga da vítima dá o depoimento para o investigador.

“Eu fiquei me colocando no lugar, sabe? Se isso acontecesse com alguma amiga próxima a minha e todo mundo tivesse levando como uma piada igual eles estavam fazendo naquela escola ou agissem como se a culpa fosse da vítima? Por ser jovem, acho que eu senti um pouco do que ela estava sentindo”, conta.

E você, leitor da CH, o que achou da série?

 

 

 

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