O que os adolescentes gostariam de falar para os pais, mas não têm coragem
Perguntamos aos jovens da Galera CAPRICHO quais barreiras e medos eles enfrentam para ter um diálogo aberto e sincero com seus pais

diálogo aberto com os pais é, para alguns jovens, um sonho distante. Outra parte da nossa galera até conversa bastante com seus responsáveis, mas alguns assuntos acabam esbarrando na barreira da vergonha ou do medo, e permanecem cercados de tabu e dúvidas.
Uma das coisas que Rhyan Reis, de 14 anos, mais gostaria de contar e que os adultos entendessem é que não é tão fácil ser adolescente. “Para eles, nossos problemas podem parecer bobos, mas na adolescência, tudo sempre parece grave. Estamos em uma fase da vida em que estamos descobrindo o mundo e tentando encontrar maneiras de lidar com as coisas, encontrar soluções e entender nossos sentimentos”, explicou o integrante da Galera CAPRICHO 2025.
Sofia Vieira sempre teve muito receio de perguntar demais como seus pais se sentiam em relação a coisas normais da adolescência. “Acho que deixei presa na minha cabeça a ideia de que os adultos nunca foram jovens, e que chega um momento em que eles param de se lembrar ou de se identificar com a gente”, diz ao relatar a dificuldade para falar com seus pais sobre temas delicados.
A jovem diz que sentia medo e que cresceu acreditando que certas coisas eram para os “filhos dos outros” mas não para ela. “Aquela relação mãe e filha estilo Rory e Lorelai em Gilmore Girls sempre foi algo distante para mim”, exemplifica. “Não que eu não seja próxima dos meus pais, eu sou, mas talvez até pelo quesito religioso da minha família eu sentia que não tinha o direito de perguntar e questionar algumas mudanças normais que todo mundo passa. Parecia que perguntar para eles algumas coisas seria como tentar adentrar uma versão deles que não existe mais há muito tempo”, completa.
Luísa Panini tem uma relação super sincera e aberta com a sua mãe – que busca ter o diálogo amplo com a filha que nunca teve com seus pais. Mesmo sua realidade sendo diferente, a paulista de 18 anos entende que para alguns pais é muito difícil deixar certos tabus para trás, principalmente quando eles tiveram uma criação mais conservadora.
“Mas, da mesma forma que nós somos criados entendendo seus posicionamentos e opiniões, é importante que eles também entendam os posicionamentos e opiniões que nós, filhos, temos nos dias de hoje”, defende. E continua: “Uma relação mútua de carinho, compreensão e entendimento de ambas as partes sobre como cada geração se sente em relação a certo assunto. Acho que essa relação é o ponto primordial para que pais e filhos se entendam e se respeitem.”
Vamos falar sobre o futuro?
Aos 17 anos, Giovanna Feliponi sente que seria importante abrir seu coração sobre a pressão intensa do final do ensino médio e sobre as inseguranças que enfrenta em relação ao futuro. “Nunca consegui ter coragem de discutir isso abertamente com eles, porque sinto que devo ser forte e suportar essa pressão sem mostrar o quão devastador é não saber exatamente quem eu sou ou quem posso me tornar”, desabafa.
Já Beatriz Costa, 14 anos, ainda tem um caminho na escola mais longo até chegar na faculdade, mas o medo de decepcionar a mãe já existe e faz com que ela não consigo se expressar bem com ela, em algumas situações difíceis, como quando ela não tem um desempenho bom na escola. “Claro que ela nunca me julgaria por isso, e acharia uma forma de me ajudar, mas sinto que tem coisas que eu mesma preciso resolver”, diz.
Para a carioca Karina Souza, de também 17 anos, a música “Certo ou errado”, da Patrícia Marx, representa muito o que ela não tem coragem de contar aos pais. Na letra, a cantora diz que “quem não cai da escada não aprende a levantar” e que por mais que tentar resolver todos os problemas e tentar evitar que o outro erre e se machuque pode ser uma “prova de amor”, é importante deixar a vida ensinar.
“Acho que eles tem uma superproteção comigo que, em alguns casos, não me deixam ter minhas próprias experiências. Falaria que eu entendo que eles fazem isso por amor, mas que isso me impede de aprender sozinha para formar a minha visão de mundo e decidir o que é bom ou ruim para mim”, diz a jovem.
O que os jovens querem então?
Heloísa Santana, 15 anos, gostaria que todos os pais de jovens tivessem mais facilidade para sentar, conversar e até pedir desculpa. “Seria muito legal se eles enxergassem seus erros e acertos e entendessem que o que fizeram de errado”, diz. Ela reforça a importância de o adolescente sentir que o que ele pensa e sente importa, isso faz toda a diferença no diálogo.
Para ter mais abertura e confiança para conversar, Sofia gostaria que os pais mostrassem que eles têm lugar seguro para fazer isso. “Mostrar que não seria uma conversaria que resultaria em castigo ou brigas”, explica. “Quando os bebês são recém nascidos, os pais sempre se fazem abertos para qualquer necessidade deles; e para um adolescente, talvez isso funcionasse quando chega aquela conversa à meia-noite e tudo o que não foi dito no dia, ou na semana, ou no mês vem a tona, era aquela sensação de cuidado que fazia a diferença”, completa.