Princesas da Disney não têm amigas e por que isso é um problema

A falta de referência de amizades femininas contribui para que o amor romântico vire prioridade, enquanto mulheres são vistas com rivais

Por Juliana Morales Atualizado em 20 mar 2025, 19h57 - Publicado em 20 mar 2025, 16h42
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mbalados pela estreia do live-action da Branca de Neve nos cinemas, nesta quinta-feira (20), temos uma pergunta para você que também cresceu vendo filmes de princesas: já percebeu que, na maioria das histórias, as princesas têm amizades com objetos e animais, e não com amigas mulheres?

Ariel, por exemplo, tem o linguado e Sebastião, já a Bela conversa com os móveis e as louças do castelo. Uma das poucas exceções talvez seja Pocahontas e Tiana, mas ainda assim a amizade delas não tem destaque na história. Pelo contrário, muitas das relações retratadas entre mulheres nesses contos é baseada na competição e rivalidade, como a madrasta má e a mocinha.

Isso é muito diferente quando analisamos diversas histórias de personagens masculinos que saem com seus fiéis escudeiros para altas aventuras, exaltando a amizade e companheirismo entre os homens. Pode parecer até coincidência ou uma simples escolha de narrativa, mas todos esses filmes foram e ainda são responsáveis por moldar ideias e construir imaginários da nossa sociedade. Muitas garotas cresceram sem referências de amizades femininas, enquanto o amor romântico foi vendido como a única salvação e maneira de ser feliz para sempre.

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No livro ‘The Social Sex’*, as pesquisadoras americanas Marilyn Yalom e a coautora Theresa Donovan Brown mergulham na história, literatura, filosofia, religião e cultura pop para analisar a história e evolução da amizade entre mulheres. Elas mostram que, apenas alguns séculos atrás, a ideia de amizade feminina era completamente desconhecida, até mesmo menosprezada. Isso porque acreditavam que “somente os homens tinham a profundidade emocional e intelectual para desenvolver e sustentar esses relacionamentos significativos”.

Ao narrar as mudanças de atitudes em relação à amizade da Bíblia e dos romanos ao Iluminismo, aos movimentos pelos direitos das mulheres dos anos 60 até Sex and the City e Bridesmaids, eles revelam como o conceito de amizade feminina tem sido inextricavelmente ligado aos movimentos sociais e culturais maiores que definiram a história humana.

Com as mudanças sociais e culturais ao longo dos anos, a discussão sobre o tema tem avançado muito e o poder da amizade feminina tem sido disseminado cada vez mais. Iniciativas, como a Lúcidas que apresentamos aqui na CAPRICHO, buscam descentralizar o amor romântico da vida das mulheres e promover a amizade feminina como pilar essencial de bem-estar social e dar a ela a mesma atenção e status que se é dado a outras relações. 

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Esse movimento e despertar para o tema mostra que a amizade, além de acolher e amparar, impacta outras áreas da vida de uma mulher, desde a saúde até a carreira. Faz toda a diferença saber que se tem uma rede de apoio que está ali para o que der e vier. Quando você tem um sonho grande, que é arriscado, por exemplo, você sabe que suas amigas estarão ali se não der certo, é um lugar para voltar e se sentir amada.

Além disso, você aprende e cresce muito por meio dessa relação. No livro ‘Tudo sobre o amor’*, bell hooks afirma que as amizades “nos dão espaço para experimentar a alegria da comunidade num relacionamento em que aprendemos a processar todos os nossos problemas, a lidar com as diferenças e conflitos enquanto nos mantemos vinculados. A autora diz ainda que “aprender amar em amizade nos fortalece de formas que nos permitem levar esse amor para outras interações com a família ou com laços românticos”.

Diante de tudo isso, já pensou como as histórias das princesas seriam diferentes se elas tivessem mulheres como amigas para ajudá-las? Uma cena do filme infantil “WiFi Ralph: Quebrando a Internet”, de 2018, reuniu as princesas mais famosa dos estúdios Disney e debateu sobre alguns padrões que as histórias seguem, trazendo uma nova perspectiva muito bacana. 

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E aí, já tinha pensado nisso? O que acha dessa discussão?

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