Quando nos tornamos adultos de verdade?

Ser adulto vai muito além de alcançar uma idade específica ou ter independência financeira...

Por Juliana Morales 7 jul 2025, 19h36
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assamos a adolescência toda vislumbrando como será a vida adulta. Mas a verdade é que, muitas vezes, é difícil estabelecer onde ela, de fato, começa. Do ponto de vista legal, no Brasil, uma pessoa se torna adulta ao completar 18 anos, quando é capaz de todos os atos da vida civil, sem necessidade de representação ou assistência de seus pais ou responsáveis. 

No entanto, ser adulto vai muito além de alcançar uma idade específica: essa mudança de fase envolve fatores biológicos, culturais, sociais e psicológicos que não podem ser ignorados. De antemão, é preciso entender que, assim como a adolescência não é a mesma para todos, a transição para a vida adulta também tem suas particularidades e diferenças para cada indivíduo.

A transição para a vida adulta do ponto de vista neurológico

Parte da resposta para a pergunta de quando nos tornamos adultos de verdade está no nosso próprio corpo.  Na puberdade, por volta dos 10 anos de idade, percebemos uma série de mudanças no nosso corpo, como o aparecimento de pelos pubianos, estirão do crescimento, desenvolvimento da mama nas meninas. Depois, conforme passamos pela adolescência, parece que o nosso corpo já não vai mudar tanto, mas continuamos passando por transformações e amadurecimento, como o que acontece com o cérebro.

Leonardo Valente de Camargo, doutor em Neurologia e professor do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), explica que o desenvolvimento cerebral associado aos fatores biológicos e às influências ambientais levam à transição para a idade adulta. “Entre os principais fatores, é importante citar a maturação do córtex-pré-frontal, uma área do cérebro responsável pelo que chamamos de funções executivas cruciais, como por exemplo: o planejamento, o controle de impulsos, as tomadas de decisão e a regulação emocional”, diz.

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Um estudo realizado pelo pediatra americano Jay Giedd e seus colaboradores, usando ressonância magnética, mostrou que essa região cerebral continua a amadurecer até cerca de 25 anos de idade. “Não menos importante, o desenvolvimento do sistema límbico, responsável pelas respostas emocionais, inclusive relacionadas à recompensa, amadurece mais precocemente do que o córtex pré-frontal”, acrescenta o neurologista.

O médico explica que, esse processo de desenvolvimento entre o sistema límbico e córtex pré-frontal, gera um período em que os estímulos emocionais são sobrepostos ao controle racional, especialmente na adolescência. “Durante a puberdade e a adolescência, os hormônios sexuais (testosterona e estrogênio) impactam de maneira significativa as áreas límbicas, e quando equilibrados, contribuem para a estabilização emocional e comportamental”, afirma.

De acordo com Leonardo, as principais mudanças comportamentais, cognitivas e emocionais, que podemos perceber quando o cérebro se desenvolve completamente são:

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  • Melhores tomadas de decisão e planejamento com atitudes menos impulsivas e estratégias mais organizadas;
  • Maior controle emocional, com aprimoramento da reação ao estresse;
  • Melhora na memória de trabalho e flexibilidade cognitiva;
  • Desenvolvimento de maturidade social com melhora da interpretação das
    emoções e pensamentos alheios;
  • Desenvolvimento mais aprimorado da empatia e maior capacidade de construção de relacionamentos mais profundos e duradouros;
  • Além do pensamento crítico, da construção de identidade, do senso de propósito, da estabilidade da personalidade, entre outros.

O neurologista pontua que diversos outros fatores podem interferir nesse processo de desenvolvimento cerebral. “Esse fenômeno complexo varia em cada organismo de maneira diferente, devido aos fatores biológicos e a influência dos fatores ambientais, inclusive fatores epigenéticos”, diz.

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