Carta de Karla Sofía Gascón foi tão ruim que era melhor nem ter mandado

E damos três motivos pelos quais a declaração esteve longe de resolver a crise em que ela se enfiou.

Por Juliana Kataoka Atualizado em 1 fev 2025, 21h06 - Publicado em 1 fev 2025, 20h32

O filme ‘Emília Pérez’, mesmo campeão em indicações ao Oscar 2025, não andava muito bem na fita e choviam críticas quanto à falta de representatividade latina num filme que se passa no México, além de declarações do diretor francês Jacques Audiard que afirmou que não fez muitas pesquisas ou sabia muito sobre o país para fazer o filme.

Mas tudo ficou pior quando, vieram à tona diversos posts de Karla Sofía Gascón no x ofendendo islâmicos, mexicanos, o BTS, Miley, Selena Gomez – sua companheira de elenco, e até o próprio Oscar. A casa caiu e ela foi obrigada a soltar uma declaração oficial a alguns dos maiores veículos de entretenimento como Variety, The Hollywood Reporter, que trazemos aqui traduzida e reproduzida na íntegra.

Sinto muito, mas não posso continuar permitindo que esta campanha de ódio e desinformação afete ainda mais a mim e à minha família, então, a pedido deles, estou encerrando minha conta no X. Fui ameaçada de morte, insultada, violentada e humilhada até a exaustão. Tenho uma filha maravilhosa para proteger, a quem amo loucamente e que me apoia em tudo.

Há muito tempo tomei a decisão de encerrar uma rede social que tomou um rumo terrível, na qual às vezes também caí, e pela qual peço desculpas. Como parte desta sociedade, expressei meu desacordo ou concordância com todos os temas relacionados que me tocaram e sobre os quais tive uma opinião, muitas vezes errônea, que mudou ao longo da minha própria experiência.

Sempre utilizei minhas redes sociais como um diário, reflexões ou notas, para mais tarde criar histórias ou personagens, não como algo que seria escrutinado até o último de seus 140 caracteres, já que às vezes nem eu mesma estou ciente de ter escrito algo negativo. Defendi todas e cada uma das minorias deste mundo e apoiei qualquer evento contra o racismo, a liberdade de religião ou a homofobia, da mesma maneira que critiquei a hipocrisia que subjaz dentro das mesmas, porque a primeira de quem sou autocrítica é de mim mesma.

Jamais me ouvirão apoiar uma guerra, uma injustiça, o extremismo ou aplaudir alguém que oprima outros seres humanos. Talvez minhas palavras não sejam as corretas, muitas vezes por desconhecimento ou por pura equivocação, volto a pedir perdão se alguém se sentiu ofendido alguma vez ou no futuro.

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Sou um ser humano que também cometeu, comete e cometerá erros dos quais aprenderei, não sou perfeita. Tirar de contexto ou manipular minhas palavras para me prejudicar é algo do qual não sou responsável. Sou responsável apenas pelo que digo, não pelo que os outros dizem que digo ou pelo que os outros interpretam do que eu digo.

Espero ter a oportunidade de dar uma explicação mais extensa em algum momento. Desculpem-me porque não paro de ir de um lado para o outro e não posso estar respondendo a cada coisa que trazem para tentar me afundar. Mas, se desejarem, podem continuar me atacando como se eu fosse a responsável pela fome e pelas guerras no mundo. Peço novamente perdão se alguma vez na vida ofendi alguém com minhas palavras.

Sou apenas Karla Sofía Gascón, uma atriz que chegou onde muito poucos graças ao seu esforço e trabalho, sem roubar ou fazer mal a ninguém neste mundo, apenas tentando que me deixem viver em paz, amor e respeito, algo que parece incomodar muito neste mundo. Está claro que há algo muito obscuro por trás. Mas lhes digo algo: quanto mais tentarem me afundar, mais forte isso me fará. Maior será a vitória. Desculpem-me mais uma vez se alguma de minhas palavras lhes causou dano.

Atenciosamente,

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Karla

Depois de analisarmos a declaração ponto a ponto, identificamos três motivos pelos quais carta não é boa ou resolve a crise em que Karla Sofía Gascón se meteu.

1. Ela foge da responsabilidade

Em nenhum momento, Karla pede desculpas de forma clara e objetiva pelo que escreveu. Em vez disso, ela se desculpa por ser parte de um problema de toxicidade, mas sem assumir a responsabilidade pelas palavras que usou. Diz que ao longo do tempo – os posts são relativamente recentes – mudou de opinião sobre muitas coisas que escreveu, mas nunca esclarece sobre o que exatamente mudou. Além disso, afirma que nem percebeu as ofensas, o que, por si só, já é um problema, pois demonstra falta de consciência sobre o impacto de suas falas.

2. Minimiza o impacto das coisas que disse

O pedido de desculpas é condicionado ao sentimento dos outros: ela pede desculpas a quem “se sentiu ofendido”, ao invés de reconhecer que suas falas foram, de fato, ofensivas. Isso desloca a culpa da própria atitude para a reação das pessoas que se incomodaram com os comentários. Além disso, ninguém tirou suas opiniões de contexto; as falas estão na íntegra e traduzidas, o que torna essa justificativa inválida. Como pessoa pública, ela é responsável pelo que diz, mas também pelo que se interpreta do que ela diz e, para o próprio bem dela, seria necessário que se comunicasse com responsabilidade.

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3. Desvia a atenção do problema

Em vez de reconhecer as consequências naturais de suas próprias ações, ela dramatiza a situação ao pedir que os ataques continuem contra ela, o que desloca a atenção do conteúdo problemático de suas falas. Por fim, insiste na teoria da conspiração de que há uma campanha de ódio contra ela, quando, na realidade, foram suas próprias palavras que geraram a reação negativa que recebeu.


ATENÇÃO: O objetivo desse post não é estimular hate em Karla Sofía Gascón e, sim, fazer uma crítica pontual à carta de retratação da atriz que na nossa opinião foi infeliz. Vamos torcer pela Fernanda, sim, mas sem ofender Karla ou praticar transfobia, ok?

 

 

 

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