A história real por trás de Vitória, novo filme com Fernanda Montenegro

Aos 80 anos, Joana da Paz foi uma das principais vozes no combate ao tráfico de drogas - mesmo que em anonimato

Por Arthur Ferreira 12 mar 2025, 21h01
S

e tem uma coisa que a gente adora no cinema é quando ele se propõe a contar uma história real, ainda mais quando ela é tão mirabolante que até parece ficção. E é exatamente isso que acontece em Vitória, novo filme estrelado pela icônica Fernanda Montenegro, que chega aos cinemas no dia 13 de março.

A produção, dirigida por Andrucha Waddington, traz uma história baseada na vida de Joana da Paz, uma mulher idosa que registrou crimes de sua janela e ajudou a expor um esquema de corrupção e tráfico de drogas no Rio de Janeiro.

O caso real

Joana Zeferino da Paz nasceu na cidade de Marechal Deodoro, Alagoas, no dia 15 de abril de 1925. Joana teve uma trajetória difícil, marcada pela miséria, abusos na infância e mudanças repentinas de cidades e estados. Ainda jovem, a alagoana, que já trabalhava como empregada doméstica de uma família na Bahia, viu a oportunidade de sua vida aparecer quando foi contratada para trabalhar no Rio de Janeiro.

Continua após a publicidade

Chegando lá, nada foi como esperava. Deixou o serviço de empregada e teve muitas profissões, se estabelecendo como massoterapeuta. Depois de muitos anos de trabalho e pouco descanso, Joana realizou o sonho de comprar um apartamento na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana.

Na época, a região ainda não era uma comunidade, mas uma área de mata. Foi assim que ela testemunhou o surgimento e o crescimento do tráfico de drogas diretamente de sua janela.

Aos 80 anos, inconformada com a crescente criminalidade, começou a registrar, com uma câmera doméstica, operações de tráfico de drogas, extorsões e confrontos armados. Ao tentar entregar as imagens às autoridades, encontrou dificuldades. Um policial a conectou ao jornalista Fábio Gusmão, do jornal Extra, que transformou suas gravações em uma reportagem de grande repercussão, resultando na prisão de aproximadamente 30 pessoas, incluindo traficantes e policiais militares envolvidos no esquema de corrupção.

Continua após a publicidade

Por motivos de segurança, Joana foi incluída no Programa de Proteção a Testemunhas e a reportagem adotou o nome “Dona Vitória” para que não fosse identificada. Passou o restante de sua vida em anonimato, apesar de, por algumas vezes, desejar ter um maior reconhecimento público por combater o tráfico de drogas – o que motivou alguns processos e embates de Joana contra Gusmão em seus últimos anos de vida.

Em uma Quarta-Feira de Cinzas, em 22 de fevereiro de 2023, às 17h42, no Hospital Geral do Estado, na cidade de Salvador (BA), Joana faleceu após dez dias de internação, resultado de um acidente vascular cerebral. Nesse mesmo dia e local, sua identidade foi revelada publicamente, após quase 17 anos de anonimato.

Da Realidade para o Cinema

A adaptação cinematográfica foi iniciada por Paula Fiuza e Breno Silveira. No entanto, durante as filmagens, Silveira faleceu, e Andrucha Waddington assumiu a direção. O filme busca trazer ao público a história da mulher que desafiou um sistema criminoso.

Continua após a publicidade

Montenegro foi escalada para o papel de Joana em 2022, antes da revelação da identidade real da protagonista. A decisão de não seguir as características físicas da personagem foi proposital, para preservar seu anonimato enquanto ela ainda estava viva. No livro Dona Vitória Joana da Paz, Gusmão revelou que a própria Joana expressou o desejo de ser interpretada pela atriz. O elenco também inclui Alan Rocha, Linn da Quebrada, Laila Garin e Thawan Lucas.

Legado e Reconhecimento

Em agosto de 2024, a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) concedeu postumamente a Joana Zeferino da Paz o Prêmio Construtor da Paz, em reconhecimento à sua coragem e contribuição para a promoção da cultura da paz e denúncia contra a violência.

Com estreia marcada para 13 de março, Vitória reconstrói um episódio marcante do jornalismo brasileiro e destaca o impacto das ações de Joana da Paz.

Publicidade