Bruna Griphao no BBB23: gatilhos para negros; vergonha para brancos

Comportamento seletivo da atriz e a maneira como ela é vista dentro e fora da casa dizem muito sobre a nossa sociedade

Por Vand Vieira Atualizado em 29 out 2024, 18h55 - Publicado em 28 fev 2023, 11h17

Para mim, pessoa branca com o mínimo de conhecimento sobre questões raciais, está sendo difícil acompanhar o BBB23. Pelo que vejo nas redes sociais, para pessoas negras, posso afirmar que tem sido ainda pior — óbvio!

O primeiro desconforto veio quando, durante uma das festas, Key Alves disse para Cristian, Gabriel Fop e Cezar Black que Tina queria beijar alguém. Os três descartaram qualquer possibilidade de ficar com a analista de marketing e modelo. Em outros momentos, Cezar confessou que evita ter muito contato com Bruna Griphao para não se “emocionar” e Cristian, na tentativa de convencer a atriz de suas boas intenções, garantiu que a relação deles era totalmente diferente da que tinha com Paula, outra mulher negra com a qual o empresário não cogitou ter nada além de uma dinâmica que o beneficiasse no jogo e nos momentos de carência. A desvalorização e a solidão da mulher negra bem na nossa tela.

Ainda sobre a angolana e a paraense, ambas foram eliminadas do reality show sob a justificativa de serem grossas, agressivas, descontroladas e outros adjetivos que já estamos cansados de ver atribuídos a mulheres negras. Bruna, por outro lado, é a ingênua, a intensa, a reativa, a que precisa de mais empatia. Privilégio.

Eu mesmo já a defendi por aqui e mantenho a posição de que ela não pode ser culpabilizada por ter vivido o início de um relacionamento abusivo com Gabriel ou mesmo ter repetido esse padrão em um nível diferente com Cristian. No entanto, não dá para não pontuar também como a atriz cresce para cima de homens negros e é chaveirinho de homens brancos.

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Exemplos: Bruna insiste em ver maldade em tudo que Fred Nicácio diz ou faz e não perde a oportunidade de votar no médico ou citá-lo de um jeito negativo em situações como o jogo da discórdia ou os papos com outros participantes. Isso sem falar nas tretas propriamente ditas, claro.

Inclusive, bastou um desentendimento aleatório com Ricardo Alface para ela partir para cima, gritar, apontar o dedo na cara dele e impor respeito. Onde estava essa mulher nas múltiplas vezes em que foi silenciada ou maltratada por Gabriel? Ok, é difícil perceber que está em um relacionamento abusivo — não à toa, Tadeu Schmidt precisou intervir —, porém essa explosão também não aconteceu quando a máscara de Cristian caiu, como os brothers e as sisters adoram dizer.

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Muito pelo contrário, né? Bruna e outras pessoas colocaram as péssimas atitudes do empresário na conta da insegurança, da falta de maturidade, da competitividade. Tudo, menos da maldade. Coincidência ou devemos entender e admitir, de uma vez por todas, que o racismo é estrutural e atitudes como essas acontecem até quando a gente não se dá conta?

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