Como foi assistir Emilia Pérez depois de polêmicas que dominaram as redes
O longa que liderou as indicações do Oscar 2025 gerou debates e dividiu opiniões

Um dos filmes mais comentados da temporada de premiações de 2025 é, sem dúvidas, Emilia Pérez. Depois de receber 13 indicações e liderar a lista da 97ª edição do Oscar, o longa-metragem vai estrear no Brasil, mas comentários sobre a produção já circulam nas redes sociais há semanas.
Dirigido por Jacques Audiard, o musical acompanha a trajetória de Rita, uma advogada que trabalha para uma empresa conhecida por libertar criminosos em julgamento. Desestimulada com a carreira, ela recebe uma proposta de um líder de quartel no México que muda sua vida inesperadamente. Em busca de ajuda para se retirar dos negócios e completar a cirurgia de transição de gênero, Manitas contrata Rita para levar os filhos e a esposa, Jessi, para fora do país. Anos mais tarde, ela retorna, agora como Emilia Pérez, para se reunir com a família.
Grande parte das críticas veio de mexicanos – que apontaram que o filme estaria promovendo esteriótipos, sem se aprofundar, de fato, em questões que envolvem violência e tráfico de drogas no país. Os brasileiros também passaram a apontar falhas no enredo e, em passagem por São Paulo, a protagonista se manifestou sobre as reações controversas que o longa está causando, principalmente pela concorrência com Ainda Estou Aqui.
“Eu adoro o Brasil. Acho que o público da internet não é o público de verdade. Emilia Pérez é um filme maravilhoso. Ainda Estou Aqui com certeza também é. Eu adoraria que Emilia Pérez fosse brasileira. Eu adoraria. Porque já senti o amor do público brasileiro quando fiz Rebelde. Um dos públicos mais maravilhosos que existe é o brasileiro”, disse Karla Sofía Gascón, que vive Emília Pérez, ao g1.
Além de Karla, o elenco do roteiro baseado no romance Ecoute, de Boris Razon, é formado por Zoë Saldaña, Selena Gomez, Adriana Paz e Edgar Ramírez. Da lista, apenas Adriana, que interpreta o interesse amoroso de Emília, nasceu no México, criando uma nova discussão sobre representatividade, não só entre os atores mas na equipe e até mesmo locações, já que o longa foi filmado na Europa.
Em entrevista ao IndieWire, a intérprete de Epífania afirmou que não se sentiu ofendida com as escolhas do projeto: “Ouvi pessoas dizendo que é ofensivo para o México. Eu realmente quero saber o motivo porque não me senti assim”, garantiu ela. Quem também se manifestou sobre o tema foi Carla Hool, diretora de elenco da produção.
“Estes personagens eram originalmente mexicanos, então, como a Selena era perfeita para Jessi, eu disse [ao diretor]: ‘Você precisa mudar a história para ela não ser mexicana porque ela não foi criada no México’ Ele mudou e adicionou o inglês para que ela fosse reconhecida como mexico-americana”, destacou ela em conversa com o The Contending.
Hool disse que Saldaña passou pelo mesmo processo: “Ela é dominicana, então você não pode colocá-la para viver uma mexicana, por isso ele adaptou a história também. Autenticidade é uma das coisas mais importantes na escalação do elenco. Estas eram conversas que tínhamos”, relembrou ela.
Mas os debates não pararam por aí e um limite foi ultrapassado quando críticas se tornaram ofensas e ameaças, como aconteceu com Karla. “Existe uma parte da sociedade que vive o ódio, que vive de vender ódio, e existe outra parte que quer viver em esperança, com os mesmos direitos, todos nós em paz e respeito”, comentou ela em entrevista ao The Hollywood Reporter ao ressaltar que é a “inimiga pública número um no mundo para muita gente agora”.
Já em conversa com a CNN, Jacques se desculpou com os mexicanos e afirmou que o filme deveria ser uma ópera e, portanto, não seria “realista”. “Se existem coisas que parecem chocantes em Emilia Pérez, peço desculpas. O cinema não dá respostas, apenas faz perguntas. Mas talvez as perguntas de Emilia Pérez estejam incorretas”, afirmou o diretor, que também admitiu não ter feito muita pesquisa para produzir o longa-metragem.
Como as polêmicas de Emilia Pérez afetam a opinião de quem assiste ao filme?
Cenas e trechos, principalmente musicais, repercutiram nas redes sociais e dividiram opiniões entre os espectadores. Ao assistir a obra completa, muitas destas sequência se encaixam com a narrativa enquanto outras, realmente, ficam perdidas no enredo – que parece não saber muito bem para onde caminhar na reta final.
A ideia do filme faz com que você torça para ele encontrar um rumo, já que existe potencial na história e na performance de membros do elenco. A direção também acerta em alguns momentos e gera impacto na audiência. Mas até onde a trama consegue se manter sem apresentar um objetivo para quem assiste?
Esta é a dúvida que fica quando se deixa a sala de cinema. De determinada forma, os comentários acabam afetando a experiência, já que estimulam uma análise ainda mais minuciosa dos detalhes que compõem a história. O grande problema de Emilia Pérez está na falta de profundidade dos personagens apresentados, questão que ainda é atravessada por músicas que parecem estar desconectadas e tiram o foco do espectador, gerando dúvidas sobre o que o filme realmente quer passar.