Dubladoras de Wicked celebram um novo alcance da história através do filme
Myra Ruiz e Fabi Bang relatam objetivo de honrar as interpretações de Cynthia Erivo e Ariana Grande como Elphaba e Glinda
icked – Parte 1, um dos filmes mais esperados do ano, chega aos cinemas nesta quinta-feira (21), com Cynthia Erivo e Ariana Grande interpretando Elphaba e Glinda em uma história mágica e poderosa. Na versão brasileira, o longa-metragem conta com a dublagem de Myra Ruiz e Fabi Bang, atrizes que são as protagonistas do musical no Brasil desde 2016, quando ele estreou no país. Elas contam, em entrevista à CAPRICHO, como foi participar desse projeto, honrando as interpretações de Cynthia e Ariana, e celebram a potência da adaptação cinematográfica, que promete alcançar e impactar ainda mais pessoas.
CH: O que vocês sentiram quando assistiram ao filme pela primeira vez?
Fabi: Eu pensava na emoção do público brasileiro que é muito apaixonado por Wicked. Eu só olhava e falava assim: ‘Eles vão pirar’. E quem não conhece vai pirar também.
Myra: Enquanto a gente assistia, a gente ficava: ‘Ai, tal cena está vindo. Que esteja boa’. Óbvio que estaria, mas a gente ficava: ‘Nossa, tá melhor do que a gente esperava’. E cada cena fazia uma homenagem ao palco ao mesmo tempo em que elevava aquilo para o cinema.
Fabi: As cenas vão se superando, porque, às vezes, elas vão para lugares improváveis. Como Oz Dust, que você fala: ‘Não é possível que Oz Dust foi concebida dessa forma’. Então, é muito gostoso e surpreendente.
CH: Quais foram os desafios dessa dublagem?
Myra: É um trabalho muito minucioso de… A dublagem brasileira é a melhor do mundo, e a gente tinha um trabalho de não deixar nada passar despercebido. Cada nota que elas escolheram, a forma como elas escolheram cantar aquilo, a gente tinha que fazer uma homenagem a isso, não é cantar como a gente quer. A Cynthia e a Ariana defenderam as personagens e, de certa forma, a gente está ali defendendo elas. Mas a gente também conseguiu curtir um pouquinho nas falas e dar um toque Myra e Fabi.
Fabi: Quem conhece o nosso trabalho vai reconhecer isso. Mas teve uma atenção muito grande em preservar a contribuição delas, que é tão bem feita e bem executada, é tão linda e primorosa. A interpretação delas é incrível, a Ariana é uma doce surpresa, parece que ela nunca existiu não sendo Glinda, de tão apropriada, de tão coerente com a personagem. Mas, musicalmente, ambas têm contribuições muito peculiares, e, aí, a gente olha para isso e fala: ‘O público brasileiro tem que conhecer desse jeito, do jeito que elas conceberam’. Então, a gente tentou defender essa nova interpretação que elas trouxeram.
CH: Como vocês conseguiram colocar o toque Myra e Fabi?
Fabi: A nossa diretora nos dava uma liberdade e até pedia conselhos pra gente, no sentido de: ‘A personagem falaria isso? Faz sentido?’. Porque, como muda do teatro para o cinema, às vezes têm falas a mais ou a menos. Então, quando não encaixa no sync com o lábio da atriz que está interpretando, a gente precisa criar alguma coisa, e a gente participou muito nesse sentido.
Myra: Assim como o Victor Mühlethaler e a Mariana Elisabetsky, que são os versionistas originais do musical, eles também adaptaram coisas das versões para esse filme, mas coisa ou outra a gente tomou liberdade e colocou do nosso jeitinho. Esse trabalho, também com os diretores Andrea Murucci e Gustavo Andriewiski, deu muito orgulho.
CH: Tem alguma música que cresceu ainda mais com vocês depois do filme?
Myra: I’m Not That Girl, que é uma cena da Elphaba sozinha e pensando por que ela não é a mulher para o Fiyero, eu achei que a Cynthia fez uma interpretação vocal muito bonita ali, que, inicialmente, eu pensei que estava muito diferente, mas, assistindo ao filme, está muito dela, muito único e muito lindo.
Fabi: Como o cinema possibilita efeitos especiais e recursos de voo principalmente, o Defying Gravity ganha ainda mais potência. Se no teatro já é aquela avalanche emocional, tanto para o público quanto para as atrizes, em especial para a Elphaba, no cinema isso ganhou uma potência ainda maior. Porque nada é impossível para o cinema executar e acontecer na tela, e ele agrega ainda mais para uma música que já é um final de primeiro ato.
CH: Por que é importante ter Wicked no cinema e essa história chegar a mais pessoas?
Fabi: Porque é uma história muito impactante. É impossível você não se identificar ou com uma personagem ou com a outra, ou até com um personagem coadjuvante. Todo mundo se identifica, todo mundo já se viu nesse lugar de julgar o outro e, de repente, foi surpreendido com uma verdade que não era o que realmente imaginava que era. Então, a metáfora dessa história é muito o julgamento que a gente faz sem conhecer a essência.
Myra: Não tem como não falar que é uma mensagem sobre tomar cuidado com os líderes, com o que eles dizem, com as propostas que eles fazem para vocês, não acreditem cegamente. Eu acho que existe uma onda mundial acontecendo que politicamente me assusta, me preocupa, particularmente falando, e Wicked luta contra isso. Então, é uma história que, quanto mais pessoas puderem assistir, só que de uma forma linda, porque não é só sobre isso, é sobre muitas outras coisas… Sobre a força da união, a força feminina. É uma mensagem de resistência a muitas coisas que acontecem no mundo atualmente. É uma história atual, apesar de ter sido escrita há 20 anos, e muito importante para esse momento do mundo.
CH: O que vocês falariam para a Ariana e a Cynthia se as encontrassem?
Fabi: A gente tem muita intimidade já com elas [risos]. A gente conquistou uma intimidade que só a gente tem, parece que eu sou amiga delas no WhatsApp, porque quando você vê uma personagem que você tem tanta afinidade e conhece tanto há 10 anos da sua vida e você vê outra atriz… Você fala: ‘Eu sei o que você está sentindo’.
Myra: Eu queria entender com a Cynthia, apesar de poder assumir certas coisas, queria entender como é que foi fazer sendo uma mulher preta, o que estava passando na cabeça dela em cada momento ali e também encontrar o que a gente tem em comum. O que a Ariana tem de Elphaba, o que a Cynthia tem de Glinda, eu amaria ter um papo nós quatro sobre isso.