Final de Beleza Fatal amarra história, mas brinca com possibilidades
Com desfecho fechado para a maioria dos personagens, novela aposta em um mistério final para instigar o público

m entrevista à CAPRICHO, Raphael Montes já havia revelado que o final de Beleza Fatal deixaria o público “incomodado” – e foi isso o que aconteceu. Enquanto parte dos fãs da novela gostaram do desfecho da guerra entre Lola (Camila Pitanga) e Sofia (Camila Queiroz), outros se frustraram com a quebra de expectativa sobre possíveis ganchos que a trama abriu nos últimos capítulos.
Após tantas inovações, um final clássico de novela
Desde o início, Beleza Fatal soube equilibrar uma estrutura clássica de novela com elementos modernos, aproveitando a liberdade do streaming para ousar na abordagem de temas como vingança, culto à autoimagem e representatividade LGBTQIA+ sem didatismo.
No entanto, o desfecho da trama se volta para as referências que Raphael Montes já havia citado como inspirações: Celebridade, Vale Tudo, Avenida Brasil e A Próxima Vítima. Assim como nesses clássicos, Beleza Fatal reforça as consequências de ultrapassar os limites entre justiça e ambição—e eleva isso à enésima potência.
Ao longo da novela, Sofia passou de uma mocinha justiceira para uma versão espelhada de sua maior rival, enquanto Lola, graças ao carisma e à performance magnética de Camila Pitanga, conquistou o favoritismo do público. Na reta final, essa inversão ficou ainda mais clara: a protagonista, em sua obsessão pela vingança, se torna odiada ao romper de forma brutal com Lino (Augusto Madeira), último elo familiar que ainda a defendia e o coração da trama.
No último capítulo, o ciclo se fecha: Lola acaba presa por um crime que não cometeu, assim como Cléo (Vanessa Giácomo), mãe de Sofia, foi injustamente condenada no início da trama. Além disso, o incêndio na Loland, em que Lola tenta matar Sofia, remete ao trauma inicial da protagonista, quando mãe e filha foram vítimas de um incêndio que marcou o rosto de Sofia.
O público, que se afeiçoou a Lola ao longo da novela, se frustrou com seu destino, esquecendo momentaneamente os inúmeros crimes que a vilã cometeu. Já Sofia, mesmo sem ser condenada, sai da história derrotada: sem amigos, sem família, e ainda presa emocionalmente à rival. A frase final de Lola, “Eu estou presa aqui, mas você está presa a mim porque não vive sem mim”, sintetiza essa amarra eterna entre as duas personagens.
A revelação óbvia do assassino e um novo mistério sem desfecho
A novela seguiu um recurso clássico ao deixar a identidade do assassino de Benjamim Argento (Caio Blat) em aberto até o último capítulo. Porém, ao contrário de outras tramas de Raphael Montes que surpreendem com um desfecho inesperado, Beleza Fatal revelou o óbvio: Sofia matou Benjamim vestida como Lola para incriminá-la. O problema não foi a solução em si, mas a expectativa criada ao longo dos capítulos anteriores de que o mistério poderia ter uma reviravolta mais impactante.
O último capítulo também deixou um gancho inesperado e que dividiu opiniões: Ana (Mônica Torres) e Ramona (Patrícia Gasppar) fogem para Roma com o dinheiro escondido por Átila (Herson Capri) e encontram Marcelo (Drayson Menezzes). Ramona parece estar tramando algo contra Ana para ficar com a fortuna, mas a cena deixa em aberto se Marcelo faz parte do plano ou se há mais mistérios envolvendo esses personagens.
Além disso, um possível romance entre Ramona e Nara (Georgette Fadel) é sugerido. Para alguns, o final inconclusivo foi frustrante; para outros, a novela acertou ao deixar espaço para teorias e interpretações do público.
Os verdadeiros mocinhos terminam com finais felizes
Nem tudo foi tragédia no desfecho da novela. Carol (Manu Morelli) e Alec (Breno Ferreira), o casal queridinho do público, terminaram felizes, esperando um filho e comprando a casa para Elvira (Giovanna Antonelli) e Lino. Mesmo sentindo falta de Sofia, eles entendem que sua ausência é o melhor para suas vidas. Sofia, ao vê-los felizes à distância, decide não se aproximar e os deixa seguir em paz.
Já Andrea (Kiara Felippe), personagem que teve recepção dividida entre os fãs, recebeu um desfecho emocionante. Seu casamento com Tomaz (Murilo Rosa) foi celebrado em uma cena que reforça a importância da representatividade na dramaturgia. Seu discurso sobre nunca ter visto mulheres trans se casando emocionou e marcou um momento significativo para a novela.
Em um meio onde mulheres trans ainda são frequentemente retratadas de maneira estereotipada ou marginalizada, ver Andrea em uma cena de celebração, amor e pertencimento é um avanço importante para normalizar narrativas de diversidade em novelas, mostrando que essas personagens podem—e devem—ter finais felizes.
Beleza Fatal: um marco no streaming e um tapa na TV aberta
Se há algo que Beleza Fatal provou é que o formato novela pode, sim, brilhar no streaming—e de forma muito mais ágil e sofisticada do que a maioria das produções da TV aberta. O sucesso da trama, tanto em audiência quanto em repercussão nas redes sociais, mostra que o gênero ainda tem fôlego quando bem trabalhado.
Com um final que mistura o clássico e o moderno, Beleza Fatal encerra sua trajetória como um fenômeno e deixa um legado importante para futuras novelas no streaming. Afinal, nada mais justo para uma trama que sempre provocou, instigou e manteve o público vidrado até o último segundo.