Global All Stars desperdiça ótimo elenco e frustra fãs com favoritismo

Edição especial de Rupaul's Drag Race reúne drag queens internacionais para competição global, mas não consegue celebrar diferentes culturas

Por Arthur Ferreira Atualizado em 29 out 2024, 15h21 - Publicado em 15 set 2024, 19h00

Cinco dias após o encerramento dos Jogos Olímpicos de Paris, uma nova competição internacional começou: o Global All Stars. A nova franquia de RuPaul’s Drag Race trouxe um elenco estrelado e uma grande expectativa, mas, diferente das Olímpiadas, o reality não está conseguindo engajar o próprio público, que se sente frustrado com o favoritismo e julgamentos questionáveis.

Críticas sobre as escolhas dos jurados já é algo comum no fandom de Drag Race, mas, ao trazer participantes de diferentes países, o peso dos julgamentos controversos só aumentou. O recorte cultural trouxe mais intensidade para as redes sociais, com reações explosivas ao que muitos consideram injustiças.

“É bem triste ver o quanto os julgamentos estão distorcidos da realidade e o quanto estão favorecendo as queens das franquias que foram julgadas pela RuPaul em detrimento do resto do elenco”, disse Wender Hastenreiter, dono do perfil Camponeusa, uma das maiores páginas de fãs de Drag Race no Brasil.

O elenco é um dos melhores já reunidos, com finalistas e favoritas dos fãs das versões internacionais, o que deveria ser o grande trunfo da temporada. Mas, ao invés de um show equilibrado, o que temos é um foco exagerado em três participantes que, coincidentemente, têm o inglês como primeira língua e são as únicas que participaram de temporadas em que a própria RuPaul apresentou.

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Ao longo dos últimos anos, o público ficou expert em descobrir qual participante levaria a coroa apenas pelo enredo desenvolvido ao longo dos episódios e isso se repete por aqui. Participante da 5ª temporada e do All Stars 2, a estadunidense Alyssa Edwards já é uma figurinha carimbada e a sensação que o público tem é de que talvez essa temporada tenha sido feita apenas para dar uma coroa para um dos maiores ícones do programa.

Apesar do ar de favoritismo, Alyssa consegue se garantir com suas habilidades. O mesmo não acontece com a australiana Kween Kong e a britânica Kitty Scott Claus, que têm tido um desempenho médio (principalmente nas runways), mas mesmo assim são aclamadas pelo júri. Isso além de debocharem e subestimarem as outras queens internacionais.

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Essa diferença de tratamento com o trio que RuPaul já conhecia ficou ainda mais evidente no quinto episódio do reality, que recebeu a pior avaliação da história de todas as franquias de Drag Race no IMDB. A impressão que fica é que, desde o primeiro episódio, o programa já escolheu suas favoritas, deixando a verdadeira competição internacional para a disputa de quarta posição no TOP4 da temporada.

Se levarmos em conta as narrativas exploradas até então, as participantes que mais tem chance de chegar na final junto com o trio que vem se destacando são a alemã Tessa Testicle, a “underdog” que tem construído uma amizade com Alyssa, e a italiana Nehellenia, o contraponto e “saco de pancadas” de Kitty e Kween.

“A sensação que fica é de que o programa tinha uma ideia muito boa, os recursos para executar, mas não souberam adequar o formato para abraçar a diversidade cultural e de formas de fazer drag que o elenco trouxe”, compartilhou Wender.

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A mexicana Gala Varo e a brasileira Miranda Lebrão são alguns dos destaques nos comentários dos posts do reality, com comentários do mundo todo chamando suas posições na competição como injustas. Gala tem tido um desempenho ótimo no programa, mas parece não estar sendo vista pelos juradas. Já Miranda foi eliminada cedo demais e gerou revolta não só no Brasil, mas no mundo todo – que a abraçou como uma das favoritas.

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O potencial de mostrar diferentes estilos de drag e performances únicas, vindas de todas as partes do mundo, é desperdiçado em narrativas repetidas, que já cansaram quem acompanha a franquia há tempos. Ao invés de celebrar as nuances de cada país, o programa insiste em manter uma fórmula batida, dando preferência a quem já se encaixa no padrão de sucesso das versões americanas.

RuPaul ‘s Drag Race: Global All Stars tinha tudo para ser uma celebração vibrante da diversidade e da arte drag ao redor do mundo, mas acaba tropeçando nos próprios clichês e deixando o público com um gosto amargo de “já sei como isso vai terminar”.

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