Lucas Rocha: “Sua atitude política é importante, ela impacta o mundo”

Em conversa com a CAPRICHO, autor falou sobre Rumores da Cidade, seu novo livro; além de política e identidade

Por Adrieny Magalhães Atualizado em 30 out 2024, 15h30 - Publicado em 3 out 2022, 10h50
Montagem com a foto do autor Lucas Rocha na esquerda e foto de seu novo livro
O autor Lucas Rocha e a capa de seu novo livro “Rumores da Cidade”, que será publicado pela editora Alt. Mauro Figa/Editora Alt/Reprodução

Em Lima Reis, cidade com menos de nove mil habitantes, vive o adolescente André, filho do atual prefeito da cidade – que, por sua vez, está no meio do período eleitoral – isso te lembra algo?

André está desesperado para iniciar uma vida e carreira dos sonhos na cidade grande, para (finalmente) poder ser quem ele é. No meio de todo esse caos, ele descobre uma fofoca sobre seu tio, um escândalo na prefeitura e se abre para viver um possível amor. Ufa, quanta coisa!

Mas isso é um pouquinho da história de Rumores da Cidade, o mais novo livro de Lucas Rocha que será lançado pela Editora Alt. O autor, que também escreveu, Você Tem a Vida Inteira, também publicado nos EUA e no Reino Unido como ‘Where we go from here’, bateu um papo exclusivo com a CAPRICHO sobre seus novos personagens, inspirações e também como sua visão sobre política foi importante para a construção do enredo.

Você sempre é o Lucas Filho da Sueli, você sempre é o Lucas filho da dentista, a sua identidade está muito atrelada a quem você e sua família é! Então por que não explorar um pouco dessa questão da fofoca, né? Que é uma coisa que une tanto”, contextualiza Lucas à reportagem – e as leitoras da CH que moram no interior sabem que é exatamente assim, né? 

Uma das principais inspirações do autor – que também trabalha como bibliotecário mestrado em Ciência da Informação – foi a série Uncle Frank, produzida pela Amazon Prime. A série traz relação entre o tio gay e uma adolescente que está entrando na faculdade, que está começando a explorar sua sexualidade.

E isso tem tudo a ver com a história que ele escolheu contar não só novo livro. Alguns de seus contos foram publicados em coletâneas impressas e digitais, com destaque para O Outro Lado da Cidade e Todas as Cores do Natal. Você tem a vida inteira, um livro LGBTQ+ que mostra a importância das amizades, é o seu primeiro romance.

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Foram referências que me ajudaram a dar mais leveza para alguns assuntos tratados no livro, que te mostra que no fim das contas tudo vai dar certo e que você pode ser bem sucedido, que você pode ser uma pessoa divertida, leve e engraçada mesmo passando por todas essas partes um pouco mais obscuras da adolescência e da vida.”

Já sobre a questão política, ele afirma que quis trazer esse lado “exatamente pra poder mostrar que mesmo você sendo adolescente,  a sua atitude política é importante, ela impacta o mundo. Ela pode impactar tanto uma cidadezinha pequena como a cidade do meu livro que tem menos de nove mil habitantes, como de um modo geral, podendo impactar o mundo”

Leia a entrevista completa:

CH: Quando a sua paixão por livros começou?

Lucas Rocha: Eu vim de uma cidade que não tinha muito acesso à literatura. Não tinha biblioteca pública, a que tinha na verdade era uma biblioteca pública um pouco largada à própria sorte, sabe? Como muitas bibliotecas públicas são em algumas cidades.

E eu comecei a ter esse sentimento de gostar muito de ler na escola mesmo quando eu estava no começo do Ensino Fundamental. Eu tinha uma professora de Ciências que comprava os livros pro filho dela – e livros na minha época que eu tinha onze, doze anos eram muito caros, você comprava um livro ou dois por ano porque era era o presente de Natal -, e aí depois que o filho dela lia eu pedia emprestado e lia depois, e eu acabei criando esse hábito. 

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Por isso que eu acho que a minha formação como leitor é muito diversa. Eu leio eu li quando eu era novo muitos livros clássicos porque era basicamente o que vendia em sebo. Eu li também muito livro de ficção best seller porque são livros que vendiam muito então acabavam rodando muito indo pra cebola também

CH: Quando você decidiu que seria uma boa ideia contar suas próprias histórias como escritor?

LR: A partir do momento que eu comecei a ler muito eu comecei a perceber que eu estava dedicando cem por cento do tempo para aquela atividade. Então eu pensei que seria bacana se alguém fizesse o que eu estou fazendo agora, sabe? De parar completamente tudo que está fazendo pra ler algo que eu criei.

Fora isso, eu comecei a participar de grupos de discussão sobre literatura mesmo no finado Orkut. A gente participava de muitas comunidades de literatura pra debater livros que a gente lia e nesse meio eu acabei conhecendo pessoas que também escreviam. 

Depois disso eu comecei a participar de desafios de escrita em grupo como uma brincadeira e um exercício de escrita e eu comecei a ir tentando e comecei a me apaixonar por aquilo, percebi que aquilo era uma coisa que eu gostava muito de fazer e depois entrando em contato com outros autores percebi que isso podia ser uma carreira também.

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Hoje é uma é uma carreira um pouco paralela, né? Eu trabalho como bibliotecário, mas também sou escritor. Mas foi daí que surgiu essa paixão e vontade, principalmente quando as pessoas falavam coisas sobre a minha história que ou me deixavam muito orgulhoso de ter escrito aquilo ou me deixavam com a pulga pras orelhas quando era uma coisa que não era tão boa mas eu podia melhorar, sabe?

CH: O seu livro se passa em uma cidade pequena, de onde surgiu essa inspiração?

LR: Essa minha inspiração pra cidade pequena é porque eu acho fascinante. Essa dinâmica que você não pode fazer nada porque sempre tem alguém olhando pro que você está fazendo, sempre tem alguém pronto pra fofocar. Você sempre é o Lucas Filho da Sueli, você sempre é o Lucas filho da dentista, a sua identidade está muito atrelada a quem você e sua família é! Então por que não explorar um pouco dessa questão da fofoca, né? Que é uma coisa que une tanto!

CH: Existem outras referências que você usou para escrever Rumores da Cidade?

LR: Durante a pandemia eu estava assim sem saber muito bem o que eu ia fazer da vida, então eu passei muito tempo vendo e consumindo conteúdos culturais. Eu tanto li o livro, quanto assisti a novela de Tieta, do Jorge Amado. 

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Um outro filme, que dessa vez é um filme que eu achei assim que me tocou muito durante esse tempo foi um filme chamado Uncle Frank, eu vi ele na Amazon Prime. Mas ele é um filme sobre uma relação entre o tio gay e uma adolescente que está entrando na faculdade, que está começando a explorar sua sexualidade, que está começando a se entender como pessoa no mundo!

Foram referências que me ajudaram a dar mais leveza para alguns assuntos tratados no livro, que te mostra que no fim das contas tudo vai dar certo e que você pode ser bem sucedido, que você pode ser uma pessoa divertida, leve e engraçada mesmo passando por todas essas partes um pouco mais obscuras da adolescência e da vida.

CH: No seu livro existem diversos assuntos que os jovens podem se identificar, como a temática LGBTQIAP+, o próprio período eleitoral. Qual a importância disso para você?

LR:  Foi outra grande insatisfação que eu tive principalmente durante a época da pandemia mais pesada que foi de entender que mundo é esse que a gente vive politicamente falando. Porque esses discursos políticos fazem a gente perder um pouco essa noção do que que é certo, do que que é errado. A gente está em um momento em que cada um fala o que quer, cada um fala uma coisa, cada um entende o discurso de um jeito. Falta um entendimento muito grande do que é ser político né?

Quando a gente é adolescente principalmente, vendo o panorama atual, tem um um um sentimento muito de desacreditar no futuro. Então eu quis colocar essa questão política no livro, exatamente pra poder mostrar que mesmo você sendo adolescente,  a sua atitude política é importante, ela impacta o mundo. Ela pode impactar tanto uma cidadezinha pequena como a cidade do meu livro que tem menos de nove mil habitantes, como de um modo geral, podendo impactar o mundo.

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Quando eu insiro esse elemento político na história é de falar que a gente não consegue mudar o mundo de uma hora pra outra, mas em pequenos passos e com pequenas atitudes a gente consegue sim a longo prazo mudar muito!

CH: Você pode nos contar um pouquinho sobre o André, seu personagem principal?

LR: O André é um menino de dezessete anos que mora nessa cidade pequena chamada Lima Reis, ele sonha em ser jornalista e em conhecer o mundo. Ele trabalha pro Jornal da Cidade e para o único jornalista da cidade que é o pai de uma amiga dele, que também está um pouco inseguro porque ano de eleição é uma loucura né? Além disso, ele é filho do atual prefeito!

Ele fica muito indignado porque ele não pode escrever nada no jornal, o jornalista dono do jornal fala que tudo é política. Por isso, ele pode escrever no máximo sobre o caderno de cultura da cidade – onde não acontece nada além de eventos da igreja.

O André já sabe que ele é gay, ele não tem nenhum problema interno quanto a sexualidade dele. Ele só tem muito problema da reação que isso pode causar, principalmente pro pro pai, pra mãe e pras pessoas da cidade. Ele é esse menino sonhador que quer muito ir embora, se apaixonar e dar o primeiro beijo!

CH: Falando em primeiro beijo, você pode descrever a relação do André com o Diego – seu interesse amoroso -, sem dar grandes spoilers?

LR: O Diego é um menino novo da cidade, ele é atlético, gosta muito de esporte, de correr por aí com os amigos dele. Então a primeira ideia que o André tem dele é que, obviamente ele é um menino hétero. 

Depois de uma conversa dos dois, André fica com uma pulguinha atrás da orelha e começa a criar vários cenários na cabeça dele. 

CH: Você pode contar um pouco também sobre as amigas do André?

LR: O André, o Diego, a Larissa e a Patrícia formam o núcleo principal do livro. 

A Larissa é a melhor amiga do André, eles se conheceram quando eles tinham seus nove anos. Ela é uma menina que adora ler livros, então todos os livros que o André já leu que recomendou foram à Larissa. Ela é lésbica e a dupla diz que são os únicos da comunidade LGBTQIAP+ da cidade.

Já a Patrícia é filha do do jornalista da cidade, é k-popper e um pouco impaciente. Ela não gosta muito de pessoas, mas ela encontra nesse grupinho um referencial para se manter sã nessa cidade.

CH: Como você está se sentindo com o lançamento do seu segundo livro?

LR: Estou muito empolgado porque é uma história superdivertida, importante e leve. Quando minha editora terminou de ler pela primeira vez, ela falou que teve a sensação de que estava vendo uma novela das seis. E eu achei um elogio maravilhoso porque esse livro tem uma grande influência de novelas!

CH: Para finalizar, o que você diria para os jovens que estão indo votar pela primeira vez neste domingo (2/10)?

LR: Não se deixe levar por essa ideia de que votar branco ou anular o voto é a melhor opção. A gente precisa decidir o que que a gente quer como reflexo da nossa sociedade no nosso governo. Os nossos governantes são reflexos diretos das nossas escolhas. Então não tem muito pra onde correr.

E só tem um candidato ruim? Escolhe o menos pior. Eu acho que a gente tem que pensar muito nisso, sabe? Porque alguém vai estar lá. Independente de eu votar ou não. Tenha em mente que o seu voto importa, ele faz a diferença real!

Se interessou pela história do André em sua cidade pequena? Você já pode garantir a sua cópia do livro que está em pré-venda na Amazon por R$49,90. Clique aqui!

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E aí, quem também já está ansiosa para ler Rumores da Cidade?

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