O que é verdade e ficção no filme Vitória, com Fernanda Montenegro

A adaptação da história de Joana Zeferino da Paz, que ajudou a denunciar o tráfico e a corrupção no Rio de Janeiro, está em cartaz nos cinema

Por Arthur Ferreira 21 mar 2025, 21h01
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filme Vitória, estrelado por Fernanda Montenegro, conta a história de uma mulher idosa que denunciou um grande esquema de tráfico de drogas e corrupção policial no Rio de Janeiro. Inspirado na vida de Joana Zeferino da Paz, conhecida como Dona Vitória, o longa mistura fatos reais com elementos ficcionais para criar uma narrativa cinematográfica impactante.

Mas quais são as diferenças entre o que realmente aconteceu e o que foi adaptado para o cinema? A CAPRICHO separou alguns momentos do filme que não foram totalmente verídicos. Atenção: esta matéria contém spoilers do filme Vitória.

Nome e origem da protagonista

No filme, a personagem principal se chama Nina, uma abreviação de Josefina, mas o nome verdadeiro da mulher que inspirou a história era Joana Zeferino da Paz. Além disso, o filme afirma que Nina era de Minas Gerais, mas Joana nasceu em Alagoas e viveu lá até se mudar para o Rio de Janeiro.

O motivo da mudança também foi diferente. No filme, Nina vai para o Rio acompanhando uma família para a qual trabalhava. Na vida real, Joana trabalhava para uma família no Nordeste quando um parente dessa família, que precisava de uma empregada doméstica no Rio, ofereceu a oportunidade de trabalho, e ela aceitou.

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O filme retrata corretamente que Joana passou por uma infância pobre, sofreu abuso e trabalhou como empregada doméstica desde cedo. Entretanto, existem diferenças importantes. No longa, é dito que ela foi abusada por um patrão, mas, na realidade, o abuso foi cometido por um conhecido da família, que a assediava enquanto ela ficava sozinha em casa antes de ir para a escola. Também é verdade que Joana perdeu um filho, fruto desse assédio, como é relatado no filme.

Vida na Ladeira dos Tabajaras

Uma parte essencial da história é a chegada de Joana ao Rio de Janeiro e sua vida na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana. No filme, a personagem, assim como Joana, comprou seu apartamento quando o morro ainda não era uma favela e viu tanto a comunidade quanto o tráfico crescerem ao longo dos anos.

O filme acerta ao mostrar que Joana registrava as atividades criminosas da janela de sua casa com uma filmadora. Isso foi um fator determinante para a prisão de traficantes e policiais corruptos. Também é verdade que um tiro atingiu sua casa e que, em certo momento, traficantes a viram filmando. Da mesma forma, o longa mostra corretamente que ela denunciou várias vezes para a polícia, mas suas queixas inicialmente não resultaram em ação.

Personagens fictícios

No filme, Nina tem amigos como a vizinha Bibiana, interpretada por Linn da Quebrada, e Marcinho, um menino pobre que ela ajuda financeiramente e com comida. O garoto interpretado por Thawan Lucas, posteriormente, entra para o tráfico de drogas e, em uma cena importante, alerta Nina para fugir. Nenhuma dessas figuras existia na história real, e não há registros de que Joana tivesse uma relação semelhante com um jovem em sua comunidade.

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A saída de Joana do Rio de Janeiro

No projeto audiovisual, Nina inicialmente recusa entrar para o Programa de Proteção a Testemunhas. Em um momento dramático, a polícia decide invadir o morro sem avisá-la, e o jornalista interpretado por Alan Rocha, desesperado, tenta encontrá-la. Quando Nina volta para casa, Marcinho a avisa de que ela será morta se não sair de lá. Então, ela aceita entrar no programa e parte.

Na realidade, o processo foi muito mais demorado: houve uma negociação para convencê-la, foi preciso vender seu apartamento (o que levou meses) e apenas depois disso a polícia iniciou as operações no morro. Quando a ação policial aconteceu, Joana já estava morando em outro estado.

Envolvimento da polícia e de autoridades

O filme acerta ao mostrar que policiais estavam envolvidos com o tráfico e foram presos graças às denúncias de Joana. No entanto, não há registros de que um delegado tenha invadido sua casa para ameaçá-la, como acontece na obra. Também é puramente ficcional a cena em que traficantes sequestram Nina e a levam ao morro para dar uma massagem no chefe do tráfico.

 

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