Já ganhamos algo muito maior que um Oscar de Fernanda Torres
Ela está educando o mundo com sobre o que é ser brasileiro e trazendo reflexões sobre a nossa cultura e autoestima das quais precisamos muito.

oucas coisas no entretenimento têm sido tão gostosinhas quanto acompanhar Fernanda Torres representando o Brasil na campanha do Oscar.
Como já virou lugar-comum dizer, “a melhor entrevista de Fernanda Torres é a próxima”. E, ainda que seja impossível antecipar o futuro, essa entrevista ao The Hollywood Reporter foi mais uma das excelentes que ela tem concedido mundo afora.
Fernanda comentou sobre as diferenças entre atuar em inglês e em português. Segundo ela, interpretar em um idioma que não é o seu nativo muda completamente o processo, pois cada palavra em outra língua requer uma espécie de “download de sentimentos e emoções”.
“A grande dificuldade é atuar em outro idioma, porque, de certa forma, sua voz é sua alma, e existe a tentativa de adivinhar o que dizem as palavras. Então, quando eu digo ‘coração’ em português, isso provoca um sentimento interno em mim, e eu preciso reaprender isso quando digo ‘heart’ (coração). ‘Heart’ é uma palavra que eu aprendi. Então, a principal dificuldade, eu acho, é conectar seus sentimentos, suas emoções a outro idioma e se encontrar nessa nova língua”, explicou ela.
Mil escovas e maquiagens que ela já não aguenta mais, à parte — e que, se pudéssemos, tiraríamos com as próprias mãos como forma de agradecimento — é chocante perceber o quanto ela é a pessoa certa no momento certo para encarar essa maratona.
Além dessa entrevista cheia de sensibilidade, em tantas outras, com um charme, elegância e carisma sem igual, ela educou o mundo sobre o Brasil, de um jeito deixou os gringos encantados, mais interessados em nós, muito interessados nela e, talvez, até nos respeitando mais.
Alguns momentos marcantes dessa campanha:
Quando ela educou o apresentador Jimmy Kimmel sobre o papel dos Estados Unidos na ditadura brasileira e no contexto da história de ‘Ainda Estou Aqui’.
Fernanda Torres é tão genial que ela jogou duas verdades na cara dos americanos e eles não perceberam.
1- Fazem colonização cultural vendendo sua cultura.
2- Falou que a ditadura foi causada pela Guerra Fria, ou seja, foi imposta no Brasil pelos americanos.Ela é genial. 🤩 pic.twitter.com/LYHpVuq346
— Bruno Brezenski (@bbbrezenski) January 18, 2025
Quando falou da importância das novelas para os brasileiros, o espaço onde nos tornamos obcecados em nos assistirmos na TV e um pouquinho menos colonizados.
Fernanda Torres – INCRÍVEL- falando sobre porque as novelas são tão importantes no Brasil.
Sério, essa mulher não para de nos orgulhar. #Oscars2025 pic.twitter.com/1AG3jlksRd
— Henrique Haddefinir (@Haddefinir) February 15, 2025
Além disso, Fernanda trouxe uma reflexão sobre o porquê ficamos coletivamente eufóricos na possibilidade de uma vitória global. Em vez de reforçar a ideia comum de que buscamos desesperadamente aprovação externa, ela trouxe um ponto de vista de surpreendente autoconfiança, sem nenhuma inverdade: ficamos assim enlouquecidos, por frustração com o nosso isolamento por conta da língua e por uma certa pena do mundo saber tão pouco sobre nós.
Perguntei à própria Fernanda Torres pq nós brasileiros ficamos tão doidos nesses momentos de atenção internacional tipo a campanha do Oscar
A resposta é demais: somos frustrados pelo isolamento cultural e, ao mesmo tempo, temos PENA do resto do mundo por não saberem o que sabemos pic.twitter.com/0EQITld0P3— rodrigo ortega (@ortegopolis) November 19, 2024
Que outro artista brasileiro poderia conduzir uma campanha tão vitoriosa, mesmo antes do fim da corrida – a ponto de nos fazer sentir ciúme e medo de perdê-la para Hollywood? Como diria Kanye West, antes do ostracismo autoimposto por suas ações questionáveis, “isso é algo que jamais saberemos” — mas é por isso também que esta campanha já venceu e é única, deliciosa e imperdível!
E, para aqueles que temem que ela nos troque por Hollywood, até sobre isso Fernanda já deixou uma resposta inteligente e tranquilizadora em uma de suas entrevistas magnéticas: ela garante que sua base continuará sendo o Brasil.
“Não separo carreira internacional de carreira nacional. Se tiver uma coisa legal pra fazer, com um diretor bacana. Mas a minha base é o Brasil.Não tenho nem mais idade para ir a Los Angeles tentar minha vida com esse corpinho de 59 anos”.(Fernanda Torres)pic.twitter.com/sDcbi8fjUU
— Sérgio Santos (@ZAMENZA) January 6, 2025