Quem é Manuca, cantor carioca que viralizou com clipe de SOS Brasil

Artista de 25 anos estreia com o EP Balanço, misturando soul, samba rock e letras sobre amor, identidade e noite carioca

Por Arthur Ferreira 19 jul 2025, 19h00
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ocês pedem um cantor gay que saia do óbvio. Eu lanço isso e vocês não engajam.” Foi com esse post que Manuca, nome artístico do carioca Manuel, de 25 anos, viralizou no X (ex-Twitter) acompanhado de um trecho do videoclipe de sua música, SOS Brasil, e alcançou novos fãs.

De repente, o cantor viu seu nome sendo descoberto por novos ouvintes com os números nas plataformas de áudio e de suas redes sociais subirem. Era a primeira vez que seu trabalho ultrapassava a bolha, com 10 mil curtidas, muitos elogios, algumas críticas e um debate: por que é tão difícil o público acolher um artista gay que não se encaixa no estereótipo do pop?

Manuca é cantor, compositor, professor de canto e estudante de cinema. Cresceu cercado de arte, dentro de uma família de artistas, DJs, produtores, carnavalescos, atores. Aos cinco anos, entrou para uma escola de musicais no Rio de Janeiro, a Catsapá, onde hoje dá aulas. “Foi lá que eu me descobri em todos os sentidos. Onde tive meu primeiro contato com a arte e também com a minha sexualidade”, conta em entrevista exclusiva para a CAPRICHO.

A primeira música, Segunda Chance, ele compôs durante a pandemia, em 2020, e lançou dois anos depois. No mesmo ano, veio Condição. Em 2023, foi a vez de Love Charme. Mas foi em 2024 que ele parece ter encontrado seu som com as faixas Sacanagem e Por um Fio, que integram seu primeiro EP, Balanço, lançado em maio de 2025. O projeto reúne ainda a Intro (Balanço), SOS Brasil e Segundo Lugar, completando as cinco faixas.

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“Eu estava tentando achar a minha própria sonoridade”, admite sobre sua primeira composição, Segunda Chance. “No começo, queria ser uma diva pop. Mas fui entendendo os caminhos do mercado e migrando para um lugar mais próximo das minhas raízes.” A mudança fez sentido: ouvindo o EP é possível perceber todas as influências que construíram sua identidade: soul, samba rock e a estética dos bailes blacks dos anos 1970.

As influências também vêm de casa: do avô, responsável por aproximar Manuca e seus primos da vida artística, da mãe, apaixonada por black music, e do irmão, que desde criança compunha sambas-enredo no Salgueiro. O jovem tem como grande referência o cantor Stevie Wonder, com destaque para o álbum Songs in the Key of Life. Outros nomes que o acompanham desde a infância por influência do gosto musical dos pais são Tim Maia, Seu Jorge, Racionais, Cássia Eller, Cassiano e a Banda Black Rio.

Resgatar nossas raízes é um movimento importante para valorizar a nossa própria cultura. Às vezes as pessoas enxergam as nossas influências antigas como algo de menos valor. Precisamos valorizar essas pessoas que já lutavam pelo movimento lá atrás.

Manuca para a CAPRICHO
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O resultado está em letras que transbordam sentimento, com um quê de crônica da juventude carioca. Em SOS Brasil, ele narra uma noite pelas ruas do Rio, com humor e ironia. “Se você sair uma noite comigo, vai viver aquilo ali”, brinca. Em Por um Fio, revive um amor de verão na Bahia (ainda que não tenha sido exatamente em Salvador). E Segundo Lugar é direta e pessoal: “Essa música tem dono. Espero que ele tenha ouvido.”

Mas não é só o lirismo que chama atenção, é a postura. Manuca usa a arte também para provocar. O tweet que o lançou para novos públicos foi um desabafo, e também um espelho. “Existe uma cobrança por representatividade, mas às vezes não tem acolhimento de verdade. Há uma dificuldade dentro da comunidade em valorizar artistas homens gays dentro do mercado. A comunidade consome muita arte, mas também opina demais. Todo mundo se acha especialista”, diz, com bom humor.

Ele cita Tiago Pantaleão como outro exemplo de artista gay que enfrenta resistência apesar da qualidade inegável. “Quando eu vejo as críticas ao trabalho dele, eu percebo o quanto as pessoas têm problemas em curtir o trabalho vindo de um homem gay. Inclusive, foi um dos motivos de eu acabar migrando um pouco do pop.”

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Com muita vontade de fazer acontecer, Balanço ganhou clipes para três faixas: Sacanagem, Por um Fio e SOS Brasil. E, mesmo com orçamento apertado de um artista independente, o EP foi produzido com cuidado: “Ver o meu trabalho de um ano de produção e investimento atingir mais pessoas é gratificante. Eu ainda estou pagando o EP. O meu salário basicamente vai quase todo para pagar as produções.”

Agora, o foco é transformar tudo isso em show. Manuca quer criar o Baile do Manuca, um projeto ao vivo inspirado nos bailes soul e black dos subúrbios cariocas dos anos 1970. “Quero chamar outros artistas, fazer uma festa com essa estética. Assim que eu terminar de pagar o EP, aí eu crio uma nova dívida”, brinca.

No final da faixa de abertura, ele avisa: “Então abre espaço, eu vou pra cima. Tô com sede de vencer.” Se depender de talento, carisma e vontade, o nome de Manuca ainda vai ecoar muito por aí. E o Brasil que se prepare para esse balanço.

Escuto o EP, Balanço, de Manuca:

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