Rachel Chinouriri quer inspirar geração de jovens negras na música indie

Em entrevista à CAPRICHO, cantora britânica comenta experiência de abrir shows da Sabrina Carpenter e aprende expressões em português

Por Sofia Duarte Atualizado em 5 abr 2025, 15h08 - Publicado em 5 abr 2025, 09h00
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aposta indie do momento tem nome: Rachel Chinouriri. Aos 26 anos, a artista britânica tem mostrado toda sua autenticidade em suas letras sensíveis, que abordam relacionamentos, saúde mental e outros assuntos que atravessam a juventude. Atualmente, ela está em turnê com Sabrina Carpenter na Europa e acaba de lançar Litte House, EP em que se mostra apaixonada e vivendo um amor tranquilo após passar por relações tóxicas com homens.

Em entrevista à CAPRICHO, Rachel Chinouriri ressalta a importância de usar sua voz para inspirar uma nova geração de mulheres negras na cena indie, comemora suas conquistas e revela vontade de vir ao Brasil em breve. “Os fãs brasileiros, desde que eu lancei a minha primeira música, estão nos meus comentários”, afirma.

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What a Devastating Turn of Events, o primeiro álbum da cantora-compositora inglesa, que tem raízes no Zimbábue, foi lançado em maio de 2024 e ela o enxerga como um processo de cura. Com palavras honestas que demonstram vulnerabilidade, ela nos prepara para uma viagem que mistura melancolia com uma sonoridade dramática e energética. The Hills é um dos pontos altos do disco, mas também vale o destaque para os singles Never Need Me, que conta com Florence Pugh no clipe, e All I Ever Asked, além de So My Darling, que fez sucesso no TikTok.

“Foi muito terapêutico [escrever esse álbum]. Muitas músicas são sobre coisas bem pessoais, mas conseguir cantar sobre elas me ajudou a superá-las. […] Ver meu crescimento pessoal nesse período tem sido uma bela maneira de experimentar o que costumava me machucar e ser capaz de cantar sobre isso de uma forma que me deixa feliz”, reflete.

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Confira a entrevista da CAPRICHO com Rachel Chinouriri:

CH: Você está abrindo os shows da Sabrina Carpenter na Europa. Como tem sido essa experiência e o que significa pra você?

Rachel Chinouriri: Significa muito. Eu acho que, como estou na cena indie pop, isso traz muitas oportunidades e tantos novos fãs para conhecer e encontrar, dá para se divertir muito com as roupas e o mundo em que ela [Sabrina] está. Tem sido muito divertido, eu aprendi tantas coisas sobre a minha música e o que eu quero fazer.

Há alguns anos, você abriu os shows do Louis Tomlinson no Reino Unido. A gente adoraria ver vocês colaborando em uma música, o que acha?

Eu acho que seria incrível! Eu tenho todo o tempo do mundo para Louis Tomlinson. Eu acho que foi um dos pontos de virada da minha carreira ao vivo, especialmente da minha carreira online. Porque quando eu fui fazer a minha primeira turnê de álbum, eu diria que 50% das pessoas eram fãs do Louis Tomlinson. E eu nunca tive isso antes saindo de uma turnê. E eu ainda falo com os fãs do Louis Tomlinson na internet até hoje. Então, sou muito grata por ele ter me dado essa oportunidade. E eu quero apoiá-lo até quando as nossas carreiras durarem.

No seu primeiro álbum, What a Devastating Turn of Events, você fala sobre amor, relacionamentos e saúde mental de uma forma muito comovente. Como foi fazer esse álbum e como as pessoas podem se conectar com ele?

Foi muito terapêutico. Muitas músicas são sobre coisas bem pessoais, mas conseguir cantar sobre elas me ajudou a superá-las. Dizer que esse é meu primeiro álbum e o quanto eu cresci desde que ele saiu é louco, porque o álbum tem apenas um ano, mas algumas músicas têm quase quatro. Então, ver meu crescimento pessoal nesse período tem sido uma bela maneira de experimentar o que costumava me machucar e ser capaz de cantar sobre isso de uma forma que me deixa muito feliz.

Eu sinto que você encontrou sua própria voz na música indie. Mas você já falou sobre os desafios de ser uma mulher negra fazendo música indie e como, às vezes, você é rotulada como uma artista de R&B. Por que você acha que é importante falar sobre isso abertamente?

Eu acho que é importante porque ser controlada pela indústria da música, uma vez que você entra nesse buraco, é muito difícil de sair. E eu tentei fazer isso nos bastidores, e acho que às vezes as pessoas têm medo de fazer o que não é visto como normal e denunciar as coisas, e eu penso que se eu denunciar isso publicamente é a minha única outra opção, ou eu vou ter uma carreira que me deixa deprimida. E eu faço música por amor a isso, e não para mudar quem eu sou. É importante porque eu ser capaz de fazer as coisas da maneira como eu fiz dá espaço para outros músicos que talvez não tenham tentado seguir na música porque são negros e querem estar em espaços indie. Espero que eles vejam pessoas como eu, como Cat Burns, e percebam que podem conseguir. Embora seja difícil para eles, espero que ter exemplos os ajudem. Porque eu tive exemplos, como a Skin, do Skunk Anansie, e Shingai, do Noisettes. Tive exemplos que me fizeram sentir que eu poderia fazer isso.

Eu ser capaz de fazer as coisas da maneira como eu fiz dá espaço para outros músicos que talvez não tenham tentado seguir na música porque são negros e querem estar em espaços indie.

Rachel Chinouriri à CAPRICHO
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Você falou sobre isso no Twitter e disse que, apesar da verdade na indústria da música, você vai continuar tentando. Como você se sente em inspirar uma nova geração de jovens garotas negras que querem se tornar uma estrela do indie pop? Qual conselho daria a elas?

Meu conselho seria que não importa para onde sua carreira vá, mesmo se você tiver toda a sua carreira e as pessoas te chamarem de R&B e soul para o resto da sua vida, você sabe quem você é, seus fãs que realmente se preocupam com você sabem quem você é e que existem outras mulheres negras torcendo por você. É uma luta que temos que acatar, mesmo que não tenhamos optado por acatá-la. No entanto, tentar faz parte da cultura, da história e é importante mudar a narrativa no período em que estamos vivas. As pessoas não deveriam não fazer algo porque elas são negras. Eu quero que as pessoas possam escolher algo porque elas são humanas e merecem escolher. E, sabe, são os seres humanos que vão mudar essa mentalidade.

O que você faz para manter sua saúde mental diante de uma indústria que pode ser tão difícil e degradante?

Eu escrevo todos os dias. Até depois dessa entrevista, provavelmente vou sentar e escrever, mesmo que seja apenas uma página, e escrever sobre o que eu sou grata. Porque, se eu escrevo sobre o que eu sou grata, me faz pensar que qualquer coisa que tenha afetado o meu dia meio que se torna insignificante. Se eu penso: ah, estou em turnê com a Sabrina Carpenter e milhares de pessoas vão ouvir minhas músicas hoje, então a coisa que me deixou estressada… Bem, não importa de verdade, né?

Qual é a sua música favorita da Sabrina Carpenter?

Already Over, Sharpest Tool, Tornado Warnings. Dessa turnê, eu adoro Busy Woman, já gostava antes, mas vê-la ao vivo… Meu Deus, é tão bom!

Depois de lançar seu álbum, sair em turnê, abrir para a Sabrina, receber duas indicações ao BRIT, tocar no Glastonbury em breve… O que você sonha em fazer agora?

Eu quero escrever o próximo álbum. Eu vou para os Estados Unidos três semanas depois da turnê da Sabrina, e eu sempre quis ir para lá fazer shows, então é incrível, e toda a turnê está quase esgotada. Mas, depois dessa turnê, acho que estou pronta para desacelerar. [risos]. Os primeiros seis meses deste ano estão sendo algumas das melhores oportunidades da minha vida e carreira e as melhores experiências, mas estou começando a sentir falta da minha família, do meu namorado e de acordar no meu apartamento. Faz um tempo que não vejo a minha cama e eu ainda estou pagando aluguel. [risos]. Mas também há tantas coisas legais acontecendo que talvez são mais emocionantes do que estar em casa. Então, eu estou aprendendo muito sobre os meus limites, mas eu também estou na casa dos 20 anos e, se eu vou ter energia para fazer isso, agora é a hora.

Você lançou uma música, Can we talk about Isaac, que faz parte do seu novo EP, Little House. O que podemos esperar dele?

É sobre minha jornada de me apaixonar por alguém de uma forma saudável. Estou tão acostumada com relacionamentos tóxicos com homens, seja na família ou em relacionamentos. Então, encontrar alguém que realmente seja legal e é saudável e é legal comigo é, na verdade, como começar de novo. E meu corpo eu acho que queria voltar aos meus hábitos antigos, que talvez fossem até tóxicos do meu lado, mas aprender a se apaixonar de uma forma saudável com alguém que está disposto a me amar de uma forma saudável e que eu também amo muito é basicamente sobre o que eu escrevi todo esse EP.

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Por fim, o que você sabe sobre o Brasil? A gente pode te esperar aqui em breve?

Eu não sei muito sobre o Brasil. Eu tenho uma empresária que é meio-brasileira e está sempre falando sobre o Brasil e o quão incrível ele é. É interessante, porque na internet eu sempre tenho tweets nas minhas menções que tenho que traduzir porque são fãs brasileiros falando tipo: “Venha para o Brasil”. E eu fico tipo: “Eu tenho fãs lá?”. Mas cada post está cheio de fãs brasileiros falando “Venha para o Brasil”, e é sempre o Brasil. Então, eu penso que seria legal como primeira experiência de estar no Brasil fazer um show e conhecer os ‘darlings’, porque isso vai me deixar confortável, ou, então, ir de férias, mas aí eu penso que quero ir e ver os fãs primeiro, porque agora eu sinto que tenho alguns amigos. Então, eu preciso ver meus amigos antes, e então pegar recomendações de onde ir. Eu gosto de vivenciar um país mergulhando na sua cultura e aprendendo com os locais. Então, eu espero que um dia eu possa ir e espero que esse dia seja em breve. Porque os fãs brasileiros, desde que lancei música, minha primeira música, estiveram nos comentários desde o início. Então, muito amor para o Brasil, sempre.

Rachel Chinouriri ainda aprendeu a falar ‘eu sou apenas uma garota’ e ‘obrigada’ em português. Fofa! <3

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