Raphael Montes explica que provocações são base do sucesso de Beleza Fatal

Em entrevista exclusiva à CAPRICHO, autor refletiu sobre o sucesso da novela e revelou inspirações atuais que impactaram a trama

Por Arthur Ferreira Atualizado em 19 mar 2025, 10h56 - Publicado em 19 mar 2025, 09h01
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eleza Fatal já fez história como um verdadeiro novelão. A produção da MAX conquistou o público com tramas envolventes que apresentam personagens complexos e muito carismáticos. A essência do formato esteve presente na trama, mas as novas nuances e detalhes da sociedade atual foram fundamentais para que o enredo se tornasse um sucesso de repercussão e audiência.

Em entrevista exclusiva para a CAPRICHO, Raphael Montes, que assina o roteiro da trama, falou sobre o desafio de escrever sua primeira novela, a construção de personagens como Lola (Camila Pitanga) e Sofia (Camila Queiroz) e a força das tramas LGBTQIA+ na história.

Desde sua concepção, Beleza Fatal foi pensada para dialogar com diferentes gerações. A produção soube equilibrar elementos de novelas tradicionais com uma estética e narrativa mais ágeis, adaptadas ao streaming. O resultado foi uma história que conseguiu tanto conquistar fãs nostálgicos das grandes novelas da TV aberta quanto atrair um novo público que consome conteúdos de forma diferente: fomentando nas redes sociais.

Montes sabia que tinha uma história forte em mãos, mas se surpreendeu com a escala do impacto. “Eu escrevo para me divertir, e acredito que se eu me divirto, o público também vai se divertir. O alcance nas redes é impensável, mas a novela foi feita para cativar”, explicou ele.

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O desafio não foi apenas criar uma novela para o streaming, mas também equilibrar o clássico e o moderno. Beleza Fatal começou respeitando estruturas tradicionais do gênero, mas foi se tornando mais ousada. “Eu quis pensar numa novela muito clássica de modo que eu pegaria o público acostumado a ver novela no começo, mas que ao longo da trama ela fosse ficando mais disruptiva, provocadora, absurda”, observou Montes.

Raphael contou com a ajuda de Silvio de Abreu, autor consagrado de novelas que fizeram história na televisão brasileira como Guerra dos Sexos, Rainha da Sucata, A Próxima Vítima e Belíssima. Abreu, que após sua saída da TV Globo foi contratado para ser supervisor de novelas da Max, ajudou Montes a garantir o equilíbrio entre inovação e clássico.

A construção de Lola e a inspiração em influenciadoras

Lola se tornou um dos grandes trunfos da novela, com frases virais e uma personalidade magnética. Montes revela que, ao contrário das especulações online, a personagem não foi inspirada em nenhuma influenciadora específica. “Eu já vi algumas comparações na internet. Uma delas, pelo que eu soube, é uma das maiores influências de todas, mas confesso que eu sequer a conhecia.”

As comparações surgem por, claro, algumas referências divertidas aqui e ali como a “Farofa da Lola” (alô, Gkay!), mas também por a novela trazer questionamentos ao mundo das aparências. A história explora a discrepância entre a imagem pública e a realidade dos personagens, o que ressoa fortemente no mundo das redes sociais.

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Eu sempre acreditei que a dramaturgia serve muito mais para fazer as provocações, fazer as perguntas, gerar o debate do que dar as respostas. Eu acho que a novela aponta para uma certa hipocrisia da sociedade.

Raphael Montes sobre Beleza Fatal

Na verdade, a maior referência para a construção da vilã de Camila Pitanga é a própria mãe de Raphael, que a descreve como “uma mulher que sempre quando chega nos ambientes, chama muita atenção. Sempre teve essa espécie de energia expansiva que seduz as pessoas, mas também assusta”.

Ele ainda revelou que alguns bordões icônicos de Lola como “eu me amo”, “se eu não fosse eu, teria inveja de mim”, ou “não se esqueça que você saiu da minha Loloquita” são frases de sua mãe. “Como foi a minha primeira novela, ela tem um caráter muito pessoal, mas especialmente na Lola. Para mim era muito fácil escrever a Lola, eu só pensava como a minha mãe reagiria e escrevia.”

Muitas pessoas ficam surpresas ao descobrir que as frases de Lola estão todas no roteiro e não há muito improviso de Pitanga na performance – por mais que ela seja craque nisso. As adições da atriz, que foi a primeira certeza do elenco, foram em uma das partes mais cruciais para a identificação do público com a vilã: sua humanidade. Pitanga ajudou a dar o tom da personagem no inicio da trama, o que para Raphael “foi muito importante para que o público comprasse a Lola”.

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De mocinha à vilã: em que momento a vingança de Sofia acaba?

Beleza Fatal acompanha a trajetória de Sofia, uma jovem determinada a vingar a morte da mãe, que foi vítima de uma conspiração. A trama de vingança, elemento comum em novelas, ganha novas camadas ao explorar as consequências dessa busca incansável e o limite entre justiça e obsessão.

“Desde o início, eu tive muito claro que eu queria fazer um embate de duas grandes feras – ainda que Lola fosse uma fera já desde o início, e a Sofia fosse descobrindo ao longo da jornada o seu lado obscuro. O que a Sofia quer, na verdade, não é vingança. Ela quer muito mais, talvez nem ela saiba o que ela quer”, analisou Raphael.

Diferente de muitas novelas em que os erros da protagonista são justificados ou ignorados, Beleza Fatal faz questão de mostrar que Sofia não está imune às consequências de suas escolhas. Isso dá uma profundidade rara à personagem, tornando-a mais complexa, algo que o público percebeu e discutiu amplamente nas redes sociais.

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Para todo autor de televisão, o maior desafio é fazer uma mocinha que não seja uma coitada, e sim alguém ativamente presente na história. Um dos grandes temas de Beleza Fatal é a transformação da própria Sofia.

Raphael Montes sobre Beleza Fatal

Tramas LGBTQIA+ sem didatismo

Outro ponto alto da novela é a naturalidade das tramas LGBTQIA+. Por muito tempo se tornou comum que novelas retratassem essas histórias como algo separado da trama, reduzindo os personagens a um “tema social” ou uma subtrama, mas em Beleza Fatal, elas acontecem de forma orgânica, sem cair no moralismo ou no didatismo.

“Quando pensei que queria fazer uma novela que tivesse muitos elementos gays, eu não queria apontar o dedo para o público e falar ‘olha, você não pode ser homofóbico’. Ninguém aprende ou repensa a sua opinião quando você tenta colocar essa pessoa contra a parede. A dramaturgia pega o público pela emoção”, compartilhou Raphael.

Segundo Montes, uma pesquisa divulgada internamente pela Max revelou que a novela conseguiu conquistar tanto o público jovem quanto o mais velho, além de espectadores de perfis diversos, inclusive conservadores. “O conservador está gostando porque não se sente afrontado. E o que eu estou mostrando é que pessoas da comunidade se apaixonam, têm problemas de autoestima, vivem a vida, e com isso todo mundo se identifica. Naturalizar, em vez de tentar forçar alguma coisa, é a grande sacada”, afirmou.

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Beleza Fatal vai ganhar uma 2ª temporada?

Com tantos sucessos no streaming ganhando sequências, Beleza Fatal pode ter uma segunda temporada? Montes garante que a trama foi escrita para ter um final fechado, mas não descarta a possibilidade de revisitar esse universo. “O final será impactante, deixará o público incomodado. Mas eu já tenho outras histórias na cabeça. Tudo depende de como a audiência reagir e se houver uma história nova que valha a pena ser contada”, finaliza o autor.

Ainda que a novela tenha um desfecho planejado, sua repercussão mostra que o público está disposto a acompanhar novas produções de Raphael Montes. Beleza Fatal termina com o mesmo impacto com que começou: desafiando expectativas.

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