Thalita Rebouças reflete sobre vontade de agradar todo mundo em novo livro
A autora também relembrou o começo de sua carreira e como é importante aproveitar o caminho
Thalita Rebouças achou que tinha dado o seu “até breve” para o público adolescente quando a história de Natali, sua nova protagonista, surgiu quase que completa em sua mente. Em uma conversa exclusiva com a CH, a autora contou que escreveu Natali e sua vontade idiota de agradar todo mundo em cerca de um mês e meio, considerando o livro um dos melhores que já criou.
A narrativa acompanha a vida de Natali, uma adolescente que nasceu no dia 25 de dezembro e resolve que quer contar para família que gosta de meninas na data de seu aniversário. Acontece que, todo ano, ela acaba desistindo na hora por não conseguir encontrar o momento que procura. No decorrer da trama, Natali vai aprendendo a lidar cada vez mais com suas inseguranças, sentimentos e expectativas, sempre podendo contar as palavras de Renato, seu terapeuta.
A leveza do enredo
Sendo o primeiro romance sáfico de Thalita, ela recordou como recebia esse pedido de fãs que a acompanham há anos e que tentou trazer uma leveza para o livro, resgatando a essência de um de seus famosos trabalhos do passado.
“O livro da Natali, apesar de ser difícil também, porque é o momento em que ela quer sair do armário para família e não consegue, é um livro que eu volto para as raízes de Fala Sério, Mãe, é um livro muito leve, é um livro muito engraçado, que eu ria alto escrevendo”, relatou a autora.
Abordando também temas como preconceito, inseguranças e expectativas da sociedade, Thalita usou as palavras de Renato, que aparece na história como psicólogo de Natali, para refletir sobre alguns pontos da adolescência e da vida em geral: “Tenho trazido a terapia, a importância da terapia na vida de todo mundo, nos meus últimos livros e com a Natali não podia ser diferente.”
E isso se fez presente na vontade da protagonista de mudar para deixar outras pessoas felizes, sem pensar em si mesma. “Eu acho que essa é a grande questão mesmo dela, de não querer errar, de estar sempre em busca da perfeição, quando a gente sabe que a perfeição não existe, né?“
Com o núcleo familiar em destaque, Thalita teve a oportunidade de debater temas que queria trabalhar há algum tempo, como a maternidade compulsória, que aparece na leitura representada através de Tia Bo personagem que é fortemente criticada pelos pais por sua escolha de não ter filhos.
“Acho que é o humor a favor do pensamento. É fazer a pessoa rir e falar: ‘Caramba, pode crer, é isso aí, essa tia Bo é maneira, ela é das minhas. Eu vou ser assim também.’ Foi uma vontade mesmo, de tocar nesses assuntos, eu acho que tocar nesses assuntos numa família, no Natal, é um prato cheio para qualquer escritor, né?”
Ela também refletiu sobre como é intenso ser adolescente e que não é preciso que mais seja adicionado nas pressões que já são enfrentadas pelos jovens: “Você não precisa fazer o que seus pais acham que você tem que fazer para eles serem felizes porque a vida não é deles, é sua. Você não precisa ter filho porque eles querem que você tenha porque a vida não é deles, é sua. Então, poder falar para o meu leitor pré-adolescente ou adolescente, tirar ele de umas culpas e uns pesos que nós, adultos, fazemos com que eles carreguem, eu acho que é uma boa maneira, sabe?”
É sobre aproveitar o caminho
A vida tem momentos que podem ser muito bons, podem ser muito ruins e podem ser bem comuns também. Esse é um dos conceitos que Thalita trabalha na história, mas que já carrega consigo há bastante tempo. “Eu acho que o ser humano tende a não aproveitar o caminho, as maravilhas do caminho. A gente quer tanto chegar num lugar que não aproveita e eu aprendi a aproveitar o lugar, o caminho, desde muito cedo”, contou ela ao relembrar uma época em que não sabia se seria mesmo possível virar escritora e viver de literatura.
“Sem ter trilhado esse caminho e saboreado muito cada etapa, cada passo dado nesse caminho, não teria sido tão divertido chegar onde eu estou”, disse a escritora, que estava prestes a embarcar para uma sessão de autógrafos em Paris. “É a primeira vez que estou publicando na França depois de 20 e tantos anos, é muito difícil literatura infanto-juvenil ser publicada lá. Você vê como demorou pra chegar e como cada pedaço desse caminho foi muito maravilhoso”, celebrou.
Thalita ainda ressaltou sua gratidão aos leitores que acompanham seus trabalhos e fica feliz por não ter desistido de seus sonhos: “O caminho foi difícil mas é isso, até a pedra do caminho a gente tem que aproveitar e transformar ela num estilingue. Para jogar você mais pra frente ainda.“
Natali – e a sua vontade de agradar!
Ao ser questionada sobre seu detalhe favorito no processo de desenvolvimento de sua nova protagonista, Thalita refletiu que, na verdade, o que mais gostou na personagem também foi o que mais a angustiou e acabou dando título ao livro, já que acredita que é uma característica que “a torna muito real”, fazendo com que seja fácil acreditar que ela existe.
“A confusão da Natali é uma coisa que me angustia mas que foi muito boa de escrever e que eu acho que é uma qualidade muito adolescente. É você estar sempre querendo agradar um ou outro e você meio que não olha para você“, explicou a autora ao citar que escolheu o nome do livro quando percebeu que a essência de Natali era essa facilidade em mudar para agradar outras pessoas.
E, ao narrar primeiro amor, Thalita teve a oportunidade de trabalhar alguns pontos que podem ser comuns para quem está se apaixonando: “É muito lindo o retorno que estou tendo deste livro e de ver como as pessoas torcem por elas, mas também acham ela uma louca, burra, de vez em quando, sabe? (risos) E que é isso, todos nós somos burros de vez em quando, ainda mais se tratando de amor, né? Quem nunca ficou cego de paixão e fez besteira?”
Inclusive, pessoas próximas da autora chegaram a mandar áudios chorando com uma das lições passadas no livro. “Uma amiga minha que leu me mandou um áudio aos prantos falando: ‘Amiga, você colocou uma coisa que eu só aprendi depois de 40 na terapia, que pessoas legais também fazem coisas ruins e não tão legais. E isso não as torna vilãs, isso não faz delas pessoas más. Todo mundo erra, todo mundo tropeça. E o que importa é a maneira que a gente lida com o tropeço'”, ressaltou.
Próximos projetos
Cheia de novidades, Thalita está olhando para o futuro em diferentes áreas da escrita. A autora já tem nos planos duas séries, uma focada nas mulheres em sua faixa etária e outra para a família.
Além disso, em novembro, as gravações de Uma Fada Veio Me Visitar começam, estrelado por Xuxa Meneghel e com roteiro assinado pela própria autora ao lado de Patrícia Andrade. “Acho que vai ser um dos meus melhores filmes, eu fiquei muito feliz com o roteiro dele”, comemorou.
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