5 perguntas e respostas sobre a ‘treta’ do TikTok nos Estados Unidos

Governo dos Estados Unidos alega que o TikTok é um risco à segurança nacional porque permite à China coletar dados e espionar usuários do país.

Por Andréa Martinelli Atualizado em 19 jan 2025, 10h41 - Publicado em 18 jan 2025, 06h00
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ocê certamente deve ter visto por aí – inclusive aqui na CAPRICHO – que os Estados Unidos compraram uma briga daquelas com o TikTok. Ainda em 2024, o presidente Joe Biden sancionou uma lei que proíbe a operação da ByteDance, empresa chinesa e dona do aplicativo, no país. Mas essa ‘treta’ toda ganhou um novo capítulo logo no início de 2025.

No próximo domingo (19), esgota-se o prazo de 9 meses estabelecido pela lei para que o TikTok se adapte. A nova lei exige que o aplicativo seja mantido por empresa que não pertença à China. Somado a isso, a Suprema Corte decidiu, por unanimidade, que a operação pode ser bloqueada até domingo, se opondo a um recurso apresentado pela plataforma.

O governo dos Estados Unidos alega que o TikTok é um risco à segurança nacional porque permite à China coletar dados e espionar usuários do país. A ByteDance, dona do TikTok, nega a acusação e disse que, bem, não vai a lugar nenhum.

Mas, e agora, CAPRICHO? Como fica essa história? Sabemos que você, nosso leitor e leitora, talvez tenha muitas dúvidas, já que esta questão tem mais a ver com briga política entre Estados Unidos e China do que algum conteúdo malicioso no app.

Abaixo, respondemos 3 perguntas sobre a ‘treta’ do TikTok com os Estados Unidos e o que pode acontecer a partir de agora:

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O que diz a lei aprovada na gestão de Joe Biden?

É um pouco complexo de entender, a gente sabe. Mas, como aqui no Brasil, quando um projeto de lei é aprovado, a sua aplicação ainda demora a acontecer.

A ByteDance, dona do TikTok, teve 9 meses para retirar o TikTok do país ou vender a rede social no país para outra empresa (e aí é que entra a questão relacionada ao incômodo dos Estados Unidos com a China, conseguiu perceber?).

O projeto, liderado por republicanos (aliados à direita nos EUA), também foi amplamente apoiado por democratas (aliados à esquerda), influenciados por Joe Biden, líder do partido democrata e que já havia demonstrado apoio à ideia no ano passado.

O apoio bipartidário nessa questão demonstra como o confronto entre a China e os EUA sobre controle de tecnologia e como isso impacta a segurança nacional e a liberdade de expressão.

Mas, por que isso está acontecendo?

Isso não está acontecendo não porque o Biden não gosta, simplesmente, de vídeos do TikTok ou coisas do tipo, viu? Isso tem a ver com uma questão muito além, que passa por um viés diplomático.

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Como você sabe, a ByteDance é uma empresa chinesa. E a rixa entre China e Estados Unidos não é de hoje e sua principal motivação é a diferença ideológica, política e, em especial, econômica.

Enquanto a China é um país comunista, os EUA são capitalistas e liberais. Desde 2020, o ex-presidente Donald Trump já havia tentado expulsar o TikTok do país sob a mesma justificativa de que o aplicativo controlado por empresas chinesas estaria invadindo a privacidade dos norte-americanos para controlar seus dados, deixando-os vulneráveis.

Na época, nenhuma movimentação judicial de Trump chegou a algum lugar e a ByteDance, empresa responsável pelo aplicativo, afirmou diversas vezes não haver nenhum sistema de coleta de dados pessoais dos usuários.

A dominação tecnológica e a questão financeira envolvida em negócios que vem da China – literalmente – é um fator que parece preocupar os parlamentares norte-americanos, já que a rivalidade econômica é real e, na maioria, o avanço tecnológico pode ser visto como um meio viável pelo qual a potência oriental poderia ganhar soberania.

E o TikTok nessa?

Em resposta a Biden, lá em 2024, o presidente-executivo do TikTok, Shou Zi Chew, disse que a empresa espera questionar na justiça a legislação e falou em proibição.

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“Não se enganem: isto é uma proibição. Uma proibição do TikTok e uma proibição para vocês e para sua voz”, disse em uma mensagem em vídeo publicada na própria plataforma. “Continuaremos lutando por seus direitos nos tribunais. Os fatos e a Constituição estão do nosso lado e esperamos vencer”, afirmou.

Assista ao vídeo completo (em inglês):

@tiktok

Response to TikTok Ban Bill

♬ original sound – TikTok – TikTok

E chegou à Suprema Corte por qual motivo?

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O TikTok recorreu à justiça e contestou a lei na Suprema Corte. A plataforma alega que a nova legislação viola a Primeira Emenda da Constituição dos EUA, que garante liberdade de expressão para cidadãos do país, já que cerca de 170 milhões de usuários no mercado americano não poderiam se comunicar pelo aplicativo.

Os juízes, no entanto, decidiram nesta sexta-feira (17), pelo oposto. E o TikTok tinha esperança que o recurso surtisse efeito e, por isso, resistiu a abrir uma empresa americana até o momento.

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Em comunicado, a Casa Branca reiterou o posicionamento de Biden de que o TikTok “deveria permanecer disponível nos EUA, mas sob propriedade norte-americana ou outro proprietário que trate sobre as preocupações de segurança nacional identificadas pelo Congresso na elaboração dessa lei”.

Qual é a posição de Donald Trump, agora reeleito?

Pois é. Agora o governo mudou. Será que a posição do novo presidente, Donald Trump, será a mesma? Karine Jean-Pierre, porta-voz da Casa Branca neste momento de transição – Trump toma posse apenas no dia 20 de janeiro – disse que as ações para a implementação da lei “devem ficar para a próxima gestão, que toma posse nesta segunda”.

Trump já ameaçou o TikTok diversas vezes durante sua primeira presidência. Mas, agora, parece que mudou de opinião.”Você sabe, tenho um lugar especial no coração para o TikTok, porque ganhei a juventude por 34 pontos, e há quem diga que o TikTok tem algo a ver com isso”, disse o republicano em dezembro, após ser eleito.

Segundo informações da CNN norte-americana, o CEO do TikTok, Shou Chew, foi convidado para a posse do presidente na próxima segunda-feira e deve sentar-se no palanque, ao lado de outros CEOs de tecnologia. Este pode ser um sinal de “bandeira branca” de Trump à operação da plataforma no país.

Aind asegundo a CNN, Trump disse que “no final das contas, depende de mim, então vocês vão ver o que eu vou fazer”. A repórter Pamela Brown pergunta a ele quais medidas ele tomaria para reverter a proibição, ao que ele responde: “O Congresso me deu a oportunidade, então eu tomarei a decisão.”

Só nos resta esperar.
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